R E S E N H A

Livro: A Igreja Católica na Formação
da Sociedade Brasileira.
Autor: Riolando Azzi.
Cidade: Aparecida, SP.
Ano: 2008
Editora Santuário.
Páginas: 165.

Riolando Azzi nasceu em São Paulo a 3 de novembro de 1928. Fez o curso ginasial no Colégio São Joaquim de Lorena como seminarista salesiano, de 1941 a 1944, frequentando no mesmo estabelecimento o curso de filosofia no período 1945-1948. Obteve a licenciatura em teologia no Pontifício Ateneu Salesiano de Turim, na Itália, tendo frequentado o curso teológico de 1951 a 1955. Cursou História Eclesiástica na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, obtendo a licenciatura em História da Igreja em 1957.

Autor de diversos livros, quase todos focados no desenvolvimento social brasileiro através da forte presença da Igreja Católica desde o descobrimento do Brasil, em 1500. Apresentamos, neste momento, o seu livro intitulado: A Igreja Católica na Formação da Sociedade Brasileira, obra de caráter generalista, mas que mostra os passos importantes e a ligação profunda entre a Igreja e o poder político no país em 3 épocas distintas: 1. Período Colonial; 2. Sociedade burguesa; e 3. Sociedade participativa.

A Igreja Católica tem forte presença na formação da sociedade brasileira ao longo desses últimos 500 anos. Nos 3 primeiros séculos da colonização portuguesa, o catolicismo não era somente a religião oficial do país com objetivo primordial de impregnar o povo com valores morais e religiosos, mas com o compromisso maior de reunir os diversos grupos sociais do Brasil para a implantação de um projeto para a criação de uma sociedade patriarcal, latifundiária e escravocrata. E a participação da Igreja neste processo foi fundamental.

Percebesse, nesse movimento de então, o braço altamente influente do poder político de forma a desviar as atenções da tradicional “opção pelos pobres” para os interesses verdadeiros das autoridades constituídas e seus objetivos econômicos, financeiros e ideológicos. O grande desafio de estudiosos e historiadores, até hoje, é identificar se essa participação efetiva da Igreja Católica na formação do período Colonial e depois na aliança com os valores da sociedade burguesa foram verdadeiramente úteis para a abertura dos canais de uma sociedade participativa voltada para os menos favorecidos e marginalizados. O livro foca nas relações entre a Igreja e a sociedade.

Azzi conduz o leitor a um passeio em 3 capítulos subdivididos em vários momentos da história do Brasil: 1. A Igreja na formação da sociedade escravocrata; 2. A Igreja na formação da sociedade burguesa; e 3. A Igreja na formação da sociedade participativa. Este passeio, dirigido pelo autor, vai da conversão dos indígenas que começou por volta de 1549 e alcança os tempos da recente ditadura militar, das CEBs e da defesa dos direitos humanos tão apregoada nos dias de hoje.

Interessante ler e refletir sobre dois momentos descritos no capítulo 1: O Sistema Escravocrata, página 25 e A Escravidão Legitimada, página 27. Riolando descreve com cuidado e imparcialidade as razões que levaram a sociedade brasileira em nascimento a instituir a escravidão. As razões políticas dos poderes constituídos e a “necessidade” de mão de obra para o desenvolvimento do país e o cumprimento das obrigações como Colonia de Portugal.

Estarrecedor saber as razões “cristãs” que aprovavam e incentivavam a escravidão, mais estarrecedor ainda, saber que a Igreja apoiava e usufruía da escravidão, uma vez que membros do clero diocesano tinham escravos assim como as diversas fazendas dos Jesuítas no eixo Rio-São Paulo. A incoerência, neste caso, é a posição diametralmente oposta da Igreja quando se referia a escravidão dos indígenas. A Igreja discordava frontalmente.

Esta obra nos mostra, também, um lado altamente positivo da influência da Igreja Católica no desenvolvimento da educação, cultura, artes, os colégios católicos de padres e freiras e as sociedades beneficentes para a promoção da saúde e do bem-estar dos menos favorecidos. Ações que influenciaram muito o caráter e a formação do povo brasileiro, que devem ser levadas em consideração em qualquer análise que se faça sobre o assunto.

O livro é muito bom, abrange uma vasta visão da historicidade da Igreja no Brasil. Recomendo a sua leitura não só para estudantes de história, teologia, sociologia e ciências religiosas, como para todos aqueles aficionados em conhecer detalhes do desenvolvimento deste país que é muito rico em todos os sentidos.

Leandro Cunha