Nossas Tardes (do livro O Nosso Pequeno Mundo)

Amar é algo quase nulo, de alguma forma os momentos bons e únicos se tornam algo completamente cravado na memória. Momentos que nos deixam sem o que dizer, sem ação nenhuma, momentos que nos levam a esquecer de que aquilo é a realidade e que de certa forma no fim das contas se torna apenas lembranças nos dias seguintes. Mas e daí? Aconteceu, de alguma forma aconteceu. Seja no subconsciente ou na maneira que ela sempre o olhava de forma rica, de forma doce e única. De forma inexpressável.

A corrente de via única que passava por seus cabelos, outrora vinha toda bagunçada e com cheirinho de noite mal dormida, de alguma maneira desenhava em suas molduras femininas algumas imagens angelicais. De tempo em tempo um bocejo saia como um soluço, sua pele tinha cheiro de carência e sua voz ora trêmula, ora sensual, soprava como vento ao longo do dia.

O toque de suas mãos serpenteava necessariamente todo o seu corpo, a atração dos nãos dizerem, eram de certa forma algo irrelevante, os carinhos daquelas tardes faziam com que Clarisse e Mauricio vivessem o que há de melhor no amor. Tardes que de alguma forma ficariam gravadas no peito, algo que sempre estaria ali.

- Você gosta de fazer amor comigo? – perguntou Clarisse esbanjando uma voz suave e meiga.

- Não. – respondeu Mauricio.

- Não? – interrogou ela fazendo-lhe um bico por charme.

- Não gosto, eu amo fazer amor com você. – respondeu ele mordendo-lhe os lábios enquanto ela o chamava de idiota.

- Vamos ao cinema hoje? – perguntou Clarisse.

- Vamos, qual filme você quer ver?

- Que tal João e Maria. – recomendou Clarisse enquanto gesticulava.

-Só depois que fizermos amor de novo. – o retrucou a agarrando carinhosamente.

Alguma coisa os prendia naquele lugar, naquele quarto de hotel que de alguma forma reacendia cada vez mais uma chama dentro de si. Amar talvez fosse isso mesmo, algo sem explicação, algo que nunca iriam compreender.

Amor é quando tudo parece estar bem, é quando a despedida e a saudade chegam antes mesmo do encontro entre um ser e sua amada. Amar é resplandecer diante dos medos, superar orgulhos e acima de tudo gostar de pés gelados. Sobretudo é gostar de tudo que o outro não gosta, é implicar sorrisos, obter beliscões e ganhar mordidas.

Mas Mauricio também gostava de coisas safadas, sexo oral e mordida nos lábios. Talvez fosse essa alegoria de sentimentos que faziam com que eles se sentissem completamente donos de seu mundo. Clarisse desabotoava seu sutiã levemente enquanto Mauricio ligava o chuveiro, ele cantarolava alguma canção do Cazuza, talvez Exagerado.

- Amor pode vim. – gritou Mauricio enquanto se deliciava na água do chuveiro.

- Já estou indo bebê, me deixa só ajeitar isso aqui. –respondeu Clarisse no mesmo tom de voz.

- Vem logo gatinha.

- Olha ai amor, você está molhando o quarto todo. Homens! – exclamou Clarisse fechando a cara simultaneamente.

- Tudo bem. Vou banhar.

Aquilo de alguma forma magoou Mauricio, mas o que isso importava? Eles estavam juntos, não estavam? Entre suas tardes de amor, loucura, e pés frios e suas noites de quartos molhados. E no fim isso que bastava.

- Amor até agora? Você é enrolado demais. – disse Clarisse.

- Estou quase terminando. – respondeu Mauricio enquanto a observava da cama.

Mal sabia Clarisse o quanto aquele momento significava para Mauricio, afinal seriam aqueles momentos que ele se lembraria. Eram aqueles simples gestos como o de se secar suavemente que ele iria gravar em sua mente.

- Vamos?

- Vamos amor, é longe daqui até o Shopping? – perguntou Mauricio averiguando a sua carteira.

- Não muito. – respondeu Clarisse o apressando.

As tardes eram quase sempre assim, os dias passavam como um turbilhão, e quando notavam já era hora de se despedirem. As despedidas eram sempre dolorosas e cheias de beijos, certo ar de cumplicidade tomava-os e os perfumes de seus corpos trocavam suas essências. Os dias iam se passando, os meses iam se despedindo, e um ano de romance já marcava o calendário.

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