O Capital

Resenha da obra: O Capital

Karl Marx

Professor Esp. Henrique Sacramento

Karl Marx é um desses primorosos escritores, como poucos, brilhante em seu tempo, e pelo quê tudo parece tornou-se imortal, pois em nosso tempo ainda é lido e comentado, muitos dos seus livros são vendidos, resenhados, comentados, aqui, em especial “O Capital”, és o livro dos livros de Marx, o livro, apesar do tema difícil, é agradável de si ler. Logo no início temos o capítulo sobre a mercadoria, que é o mais complicado do livro e não é fácil de si entender. Depois há a explicação sobre a teoria da mais-valia que é muito interessante.

A parte sobre a jornada de trabalho é a mais forte e sombria da obra, pela revelação de forma cruel e exploradora das jornadas de trabalho que beiravam à escravidão e da utilização do trabalho infantil. Pelos exemplos citados, temos a noção da triste realidade social e a situação terrível da classe trabalhadora na Inglaterra do século XIX.

Marx soube usar o recurso da ironia e ser ao mesmo tempo sarcástico no momento oportuno. A obra literária filosófica e econômica “O Capital”, contém inúmeras citações da David Ricardo, Shakespeare, Dante, Aristóteles e, principalmente, dos livros ingleses, que ele cita frequentemente.

Marx alterca uma questão que poucos filósofos prestaram se atentaram durante a história da filosofia: como é formado o valor da mercadoria e do dinheiro. O filósofo alemão escreve com mão assente sobre um tema difícil, mas instigante. A base do pensamento de Marx é a dialética com base na clássica dialética de Hegel, e a filosofia proposta por Marx é o materialismo histórico, que, em nossa opinião, é uma filosofia com muito pouco apelo intelectual no seu sentido nato do termo.

Os múltiplos capítulos desse primeiro volume tentam estabelecer o valor do capital e a “metafísica” das mercadorias em si, que como Marx percebeu, têm características e medidas de valores que não podem ser explicadas apenas racionalmente. O valor do uso e de troca das mercadorias são explicados por Marx com grande erudição. O filósofo foi muito influenciado por antigos pensadores da Grécia e por economistas ingleses. Aristóteles é a grande referência quando se trata de filosofia. Marx não respeitava o idealismo platônico por ele achar que ele se adequava mais à especulação burguesa.

Em economia, Marx gostava muito de David Ricardo, e o cita frequentemente. Mas a maior referência mesmo para os estudos de Marx são mesmo os livros azuis ingleses, que são a base para o filósofo criticar a situação do capitalismo inglês e as condições do proletariado desse país no século XIX.

Será que Marx foi convincente em sua tentativa de compreender e explicar como funciona o mundo do capital? Essa é uma questão que sempre provocou polêmica. Muitos acusaram Marx de ter adulterado os dados dos livros azuis inglês para legitimar a sua tese de que o capitalismo levava a maioria à miséria. Uma questão aberta a conjecturas!

O capitalismo e algumas de suas maiores falhas foram expostos como em nenhuma outra obra como fora no “O Capital”. Tudo parece muito alarmante, frente à natureza perversa da sociabilidade do trabalho nas fábricas inglesas do século XIX. Homens, mulheres e crianças eram explorados até a exaustão. Não há dúvida de que a denúncia de Marx ajudou ao capitalismo a se reformar e a abandonar certas práticas.

Não esperem do livro “O Capital” a discussão sobre questões metafísicas e de ontologia. “O Capital” está mais para um livro de sociologia com tendências econômicas. Para quem realmente quer ter conhecimento de filosofia, sociologia, economia e história, “O Capital” é um dos livros mais completos e apaixonantes da história da filosofia, e das Ciências Humanas. A influência do livro foi incomensurável, de forma destacada na Rússia, mas também nos partidos socialistas e de esquerda nos países do ocidente.

O questionamento principal de quem lê esse livro é saber se Marx acreditava verdadeiramente que o capitalismo estava já em decadência, e o socialismo pronto para ser estabelecido nos países avançados. Marx entendia, claramente, que o capitalismo fora revolucionário por ter destruído o feudalismo e criado uma sociedade em que o dinheiro e o trabalho se tornaram fundamentais para definir os valores das pessoas. Sobre a questão do socialismo, quem espera alguma definição de Marx sobre isso, ou sobre a revolução, irá se decepcionar, pois essas coisas não são abordadas no livro.

O estilo de Marx é agradável e seguro. O tema é realmente complexo, mas o livro é fundamental para quem é estudante de filosofia. Realmente é um livro excelente, que mistura filosofia, política e economia.

O Capital volume II

A mentalidade Burguesa e a Mais-Valia

Em um capítulo notório do segundo volume em sua continuação de “O Capital”, Marx formenta sobre a acumulação ou a conversão da mais-valia em capital. Ele nos diz que as mercadorias que o capitalista compra para seu consumo com uma parte de mais-valia não lhe servem de meio de produção, e também não é trabalho produtivo o que ele compra para satisfazer suas necessidades.

O capitalista ao comprar essas mercadorias consome a mais-valia como renda, em vez de transformá-la em capital. A concepção em si de velha nobreza “consistia em consumir o que existe”, segundo Hegel. Para a mentalidade burguesa, especialmente nos séculos XVII, XVIII e XIX, é muito importante proclamar a acumulação de capital como o primeiro mandamento, e aplicá-los em bens imóveis e em trabalhadores adicionais.

A burguesia fará triunfar o livre-comércio e o liberalismo econômico. Surgirá a prática dos monopólios e do açambarcamento. Marx então afirma contundentemente que os economistas modernos tinham de combater a ideia de associar a produção capitalista ao entesouramento, ideia que era odiada na Idade Média.

Marx rejeita a ideia de John Stuart Mill de que a longo prazo o capital se transforma em salários. O capitalista burguês, proprietário da mais-valia, pratica um ato de vontade e economiza porque não consome e exerce sua função de capitalista, a função de enriquecer. Partilha com o entesourador o prazer da riqueza pela riqueza. O credo capitalista é acumular e poupar.

Conclusão: O capitalista clássico condena o consumo individual como pecado contra a acumulação. É curioso notar esses economistas modernos pregando a poupança aos pobres na televisão e no jornal. Se o pobre pensa em consumir um bem necessário ao seu conforto, logo vem o economista e sua mentalidade burguesa proclamando a poupança e alertando para o endividamento. Ou seja, o pobre, além de ser pobre por supostamente não trabalhar, é também pobre porque não poupa. Querem no fundo impor ao trabalhador uma renúncia à fruição da vida.

Marx ironicamente diz que o capitalista grita Poupai, Poupai! e transforma a maior quantidade possível de mais-valia em capital. A mais-valia para Marx nunca pode ser derivada da circulação. Marx condena a Malthus porque ao mesmo tempo em que condena o capitalista por sua acumulação, lhe parece necessário limitar ao mínimo possível o salário do trabalhador a fim de mantê-lo ativo.

Quantos neo-malthusianos não vemos por aí pregando de forma descarada contra o aumento do salário mínimo, e até sugerindo sua diminuição!

Um burguês citado por Marx reclama que “Sempre que há uma procura extraordinária de produtos e a quantidade de trabalho se torna insuficiente, sentem os trabalhadores sua própria importância e procuram impô-la aos patrões”. Essa é a mesma reclamação que as pessoas com mentalidade capitalista fazem hoje em dia. O salário das empregadas domésticas está muito alto, faltam pedreiros e mão-de-obra, e eles estão pedindo muito alto e etc.

Marx percebeu como é “belo” o ciclo do capitalismo. Os salários sobem e incentivam a natalidade, até que o mercado fique abarrotado, ficando o capital insuficiente em relação à oferta de trabalhadores. Então caem os salários e a natalidade também e a acumulação de capital cresce. Com a queda da natalidade, as vagas de trabalho ficam ociosas, e aí o salário volta a subir. E assim segue. Não passa pela cabeça do capitalista aumentar os salários para que a população apta ao trabalho cresça de maneira positiva.

A teoria da abstinência do capitalista é rejeitada por Marx que cita John Cazenove que dizia que “não é a abstinência, mas o emprego produtivo do capital que constitui a fonte de lucro”.

David Ricardo já havia dito que na forma de dinheiro, o capital não produz nenhum lucro. O burguês sabe bem disso, e o emprega em bens imóveis e o que resta, acaba por não ceder à tentação de consumí-lo.

As observações de Marx muitas vezes se aproximam da ética Cristã em sua condenação da usura. Seria de bom vitre uma breve análise da ética econômica de José do Egito para termos uma ideia (GN 41: 40 – 47: 1-26) , sobre como o capital age de forma alienenante perante a mais – valia. Ele, a igreja católica e até o maior pensador da antiguidade, Aristóteles, irão se opor à visão dos capitalistas e de Calvino os (presbiterianos, batistas, congregacionais e huguenotes) a respeito dos juros. Aristóteles dizia que os juros é dinheiro que nasce do dinheiro, e, de todos os modos de adquirir, este é o mais contrário à natureza.

Não é preciso ter medo de ler e conhecer Marx. Para mim, que gosto muito de economia e política, é sempre um prazer lê-lo, re-lê sempre por uma nova perspectiva, por uma hermenêutica livre de dogmatismo estereotipado.

Henrique Sacramento
Enviado por Henrique Sacramento em 27/03/2015
Código do texto: T5185839
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