Como a Formiga e a Cigarra

COMO A FORMIGA E A CIGARRA

Sempre gostei de fábulas. Como sabemos, os fabulistas usavam animais como personagens para fazer analogias com o cotidiano humano. Relendo A Cigarra e a Formiga, de La Fontaine, não consegui deixar de comentar essa bizarra comparação com alguém ou algumas situações do nosso conhecimento.

As laboriosas “formigas”, organizadas, persistentes e prevenidas, sempre correndo contra o tempo, enfrentando obstáculos e intempéries para garantir sua tranqüilidade e sobrevivência no inverno implacável passam os verões das suas vidas trabalhando, estudando incansavelmente, “atravessando rios caudalosos” e “áridos desertos”, “suportando tempestades”, “engolindo sapos”, “matando um leão por dia”, muitas vezes abrindo mão do precioso convívio com a família e amigos, renunciando ao merecido e necessário lazer, reduzindo a cada dia seu descanso, na esperança de que os seus “invernos” sejam tranqüilos.

Enquanto isso, as “Cigarras” voam livres, leves e soltas. Despreocupadas, passam seus verões a cantar, sem dar a mínima importância aos conselhos e aos exemplos da Formiga. Não querem trabalhar, nem estudar. Aspiram altos salários, mesmo que nenhuma capacidade tenham que os justifique. Preferem pedir ou furtar, a aceitar um trabalho honesto que não considerem estar à altura do “ego”, ou, muitas vezes “para evitar a fadiga”, como diria o Jaiminho, carteiro de Tangamangápio, criado pelo saudoso Roberto Bolaños. Esperam ajuda social e dela tornam-se dependentes, ainda que não seja suficiente para manter uma vida digna.

Levam a vida ou deixam-se levar por ela, sem assumir compromissos, sem pensar no “inverno”, e aos apelos das suas “formigas” respondem com desdém, descaso e sarcasmo, que a vida é curta, estudar e trabalhar atrapalham a diversão, querem mesmo é curtir, mas, como as coisas não são tão simples, junto com o ócio, vem exacerbado o desejo de consumo. As bebidas, “marcas” e “etiquetas” que tanto atraem, custam caro e como não gostam de trabalhar, acabam esbarrando na conquista fácil e perigosa. Assim, os que sobrevivem tornam-se adultos, mas continuam eternas “cigarras”, porque só sabem cantar e quando lhes chega o inverno, correm para as “formigas” que passaram todo o verão trabalhando e querem ser agraciados com os frutos desse trabalho, a qualquer custo, por bem ou por mal.

Curioso é que quando La Fontaine escreveu essa fábula, imaginou que só “cigarras e formigas” faziam parte da estória, mas eis que surge um terceiro personagem, uma raposa! Não, não! Não é aquela que filosofava com o Pequeno Príncipe! Muito menos a metida a espertinha que ofereceu sopa num prato raso, à amiga cegonha. Essa é esperta mesmo. Tão esperta que vive tentando “se dar bem”, às custas da formiga, enquanto tenta convencer a cigarra, que ela é uma pobre coitada, injustiçada, que merece sim, ser sustentada pela formiga, visando com isso, angariar simpatia e outros favores menos nobres.

AH! QUE ABOMINÁVEIS SÃO AS FORMIGAS!

Fátima Almeida

13/04/15

Biografia:

Jean de La Fontaine (Château-Thierry, 8 de julho de 1621 — Paris, 13 de abril de 1695) foi um poeta e fabulista francês.Era filho de um inspetor de águas e florestas, e nasceu na pequena localidade de Château-Thierry. Em 1668 foram publicadas as primeiras fábulas, num volume intitulado "Fábulas Escolhidas". O livro era uma coletânea de 124 fábulas, dividida em seis partes. La Fontaine dedicou este livro ao filho do rei Luís 14. As fábulas continham histórias de animais, magistralmente contadas, contendo um fundo moral.

Em 1683 La Fontaine tornou-se membro da Academia Francesa.

Nas suas fábulas, contava histórias de animais com características humanas. Em 1684, foi nomeado para a Academia Francesa de Letras.

A sua grande obra, “Fábulas”, escrita em três partes, no período de 1668 a 1694, seguiu o estilo do autor grego Esopo, o qual falava da vaidade, estupidez e agressividade humanas através de animais.

La Fontaine é considerado o pai da fábula moderna. Sobre a natureza da fábula declarou: “É uma pintura em que podemos encontrar nosso próprio retrato”.

Algumas fábulas escritas e reescritas por ele são A Lebre e a Tartaruga, O Homem, O Menino e a Mula, O Leão e o Rato, e O Carvalho e o Caniço, A Cegonha e a Raposa.

Fonte: Wikipédia

Fátima Almeida
Enviado por Fátima Almeida em 14/04/2015
Reeditado em 30/05/2016
Código do texto: T5206940
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