Monstros: Antologia

A antologia se inicia com o conto Caçada ao Monstro de Daniel I. Dutra, uma aventura no coração da selva amazônica.
O conto é bem escrito e prende a atenção desde as primeiras linhas. A história é bem interessante, sobre o mito do mapinguari, criatura do folclore amazônico. Apesar de partir de uma premissa um tanto quanto prosaica, a história tem um bom desenvolvimento, com dezenas de referências interessantes, teorias da conspiração e homenagens ao Cthulhu mythos (Os mitos de Cthulhu, conjunto de mitos criados por H. P. Lovecraft). O conto evocou em mim uma estranheza causada antes por obras como A Ilha do dr. Moreau. Dizer mais é dar spoiler, leia e tire suas próprias conclusões.
O conto Vendetta do Café é um conto com jeitão de causo caipira, sobre a criatura conhecida ente nós como Saci.
Saímos do folclore brasileiro para entrar no conto mais pulp da coletânea: A Lista: Monstros, de Renato A. Azevedo. Kaijus para todos os gostos. A história é meio corrida e devido a abundância de personagens, fica um pouco confusa. O início do conto promete mais do que entrega, a impressão é que a história iria em uma direção e então o autor a direcionou para outro ponto.
Deixando a terra firme embarcamos em uma viagem rumo aos mares do norte, onde encontraremos um Nevoeiro Perpétuo. Márcia R Olivieri nos brinda com um texto que bebe nas fontes das fantasias marítimas novecentistas, lembrando Júlio Verne e Poe. Trata-se de um fragmento de um manuscrito encontrado numa garrafa, datado de 28 de novembro de 1840, recolhido em uma ilha ao norte do Oceano Atlântico.
De volta aos contos urbanos Luana Navarro nos remete ao Silêncio dos Inocentes, no início de seu conto Os Filhos de Equidna. O conto parece que trilhará um caminho previsível com uma entrevista a um tipo de Hannibal Lecter, quando o leitor é surpreendido por uma virada na história.
Em Do Frasco, Andrei Fernandes cria uma terrível história de terror onde as peças de um quebra-cabeças macabro vão sendo montadas no decorrer da leitura, conduzindo a uma terrível conclusão. É o conto mais terror da antologia, com fortes tonalidades sanguinolentas.
O próximo conto considero o melhor da antologia, O Labirinto de Evelyn Postali. Nesse conto situado nas ruas e vielas de uma Paris de vagabundos e mendigos, monstros e heróis são forjados dentro das paredes sombrias de um temível e sombrio labirinto. O conto tem uma boa dinâmica e mistura os elementos de mitologia com a ação, sem parecer didático ou pedante. Outra virtude do conto é contar com uma chave de ouro, ou seja, um fechamento perfeito, nos dizeres de Horácio Quiroga.
Saindo de Paris nos encaminhamos para Londres no próximo conto, Aviso de Morte. Grazi Ruiz ambienta seu conto em Londres, onde um detetive sherloquiano precisa desvendar uma série de assassinatos envolvendo uma besta do inferno. Já conhecia o trabalho de Grazi por seu conto A Lenda da Floresta, no livro que fui coautor Sonhos Lúcidos. O conto é tão bom que rendeu até mesmo um game. Foi muito bom ver que a prosa da escritora evoluiu nesse interstício, rendendo um conto agradável de ler, mas terrível.
Em Planeta Fungoide Marcelo Sant’Ana nos leva aos confins da galáxia em uma space opera muito divertida, onde acompanhamos as aventuras de um mercenário em sua visita ao planeta título. O livro contém um apêndice bem legal, chamado Monstruário, com figuras e informações sobre os monstros e criaturas utilizadas na criação das histórias. Nesse apêndice temos a definição de fungoide, como monstros que infectam os seres humanos desde os primórdios de Hollywood.
Uma criatura fungoide é extremamente agressiva, seu corpo foi infectado por um esporo parasita que toma controle de todas as suas ações. Não existe uma forma natural ou mágica de remoção do fungo conhecida, sem a morte do hospedeiro.

O fungo parasita se alimenta do corpo de sua vítima, não precisando de outras formas de alimento e costumam viver em um estado de semiletargia, mas atacam qualquer criatura que se mova em uma descontrolada necessidade biológica de se reproduzir, infectando novos hospedeiros com seus esporos.
Imagine essa nhaca em um planeta inteiro! Só chamando o Schwarzenegger para derrotar esses alienígenas.
O último conto é de autoria da organizadora, Georgette Silen. O monstro da vez é o famigerado ripper, o ceifeiro maldito, que invocado por uma necromante busca as almas condenadas por ela.
A antologia é legal, recomendo a quem busca um panorama variado da atual produção de horror e fantasia produzida no Brasil atualmente. A qualidade gráfica é muito boa, com um design de bom gosto e um esmero nesse quesito normalmente não encontrado entre seus pares.

Ficha Técnica:
Título: Monstros
Editora: Buriti
Ano: 2014
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-66725-42-1
Organização: Georgette Silen
Autores: Andrei Fernandes, Daniel I Dutra, Evelyn Postali, Felipe Leonard, Georgette Silen, Grazi Ruiz, Luana Navarro e Fernando Médici, M. R. Olivieri, Marcelo Sant’Ana, Renato A. Azevedo
Web site: http://editoraburiti.com.br/monstros/
Mauricio R B Campos
Enviado por Mauricio R B Campos em 29/04/2015
Código do texto: T5224860
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