SÓ O AMOR CONSEGUE

O romance nos conta a históra da órfã Margarida e de sua família adotiva, composta pelos pais Fernando e Dora e pela irmãzinha Luiza. Fernando é um deputado idealista, que sonha em fazer um projeto que beneficie a educação do povo brasileiro. Dora é uma mulher insegura, que tem muito medo de perder o marido; como mãe, é austera e distante. Entre Margarida e Luiza, nasce uma grande amizade e as meninas crescem apoiando-se mutuamente.

Margarida é médium desde pequena e, em contato com o mundo espiritual, conversa com seu pai biológico e compõe lindas canções inspiradas por compositores do além.

Além do núcleo familiar de Margarida, temos o Dr Emiliano, um médico casado com Júlia e pai de Olivia, que se envolve em um romance extra conjugal, vivendo um drama de consciência e um suspense com o desaparecimento de sua amada Anita. Emiliano tem um auxiliar jovem, o Dr Ernesto, um espiritualista que se apaixona por Margarida; ambos tem a impressão de já se conhecerem de outras vidas.

Foi sem esperar muitas surpresas que terminei de ler o livro “Só o amor consegue”, mais um da lavra de Zíbia Gasparetto; uma coisa que me deixa curioso é em que época suas histórias são situadas, a considerar pelo núcleo jovem deste livro, compostos por Margarida, Ernesto, etc, nomes pouco usados hoje em dia, e a ausência de menção aos telefones celulares, Internet e outras coisas modernas concluo que suas obras são situadas no meio do século 20, se considerarmos o pensamento constante no livro de que algumas mulheres não querem trabalhar e sim conseguir um marido rico, como Dora, mãe de Margarida a protagonista da obra, uma ambição que hoje em dia é rara de se encontrar, dado o avanço feminino em diversas áreas.

Praticamente todo o núcleo da história pertence à classe média alta, talvez com isso a autora queira mostrar que espiritualidade não tem nada a ver com condição financeira, pensamento totalmente correto, porém em todos os livros que li até hoje de Zíbia/Lucius jamais encontrei um núcleo pobre nas tramas, e a protagonista geralmente é uma mulher jovem incompreendida pela família (seria uma alusão a própria Zíbia em começo de carreira?), que possuí mediunidade e introspecção.

O que me prendeu a atenção durante toda a leitura foi o esperado desfecho do duplo seqüestro, de Emiliano e sua amante, pelo ex marido dela, e nesse ponto ressalto a sensibilidade da escritora ao não dar um desfecho sobre se Júlia, a mulher traída de Emiliano, perdoou ou não a traição, creio que isso é uma decisão muito pessoal, e zibia claramente não quis influenciar quem por ventura passe pela mesma situação.

O Tema educação e política estão presentes na obra, representados por Fernando, Pai adotivo de margarida e deputado idealista, que se decepciona seguidamente com o descaso com que a educação é tratada por seus pares e revela uma realidade de nossa política: que o idealismo é sempre sufocado pelo corporativismo e a troca de favores e também levanta algo que deveria ser muito bem pensado: a educação individual, com vistas ao aproveitamento do potencial de cada um e não um nivelamento coletivo do conhecimento, como acontece hoje em dia, pois cada indivíduo é um fim em si mesmo, e sua educação deve ser no sentido de extrair dele o seu potencial para determinada área do conhecimento, algo que infelizmente está longe de concretizar em nosso país, porém como iniciativas individuais vindas da própria sociedade, como foi o caso de Margarida e Fernando, ao fundarem uma escola com esse objetivo, é perfeitamente possível que tal mudança comece de forma esparsa e aos poucos ganhe unidade.