O Importante é a Essência

A caminhada de um estudante de medicina e um mendigo, vencendo preconceitos, tanto pessoais quanto externos a si, em busca de um mundo melhor.

O Futuro da Humanidade (Arqueiro, 2010), primeiro romance do psiquiatra Augusto Cury, traz uma história emocionante que nos faz pensar sobre a essência de cada pessoa. O romance histórico – psiquiátrico, tem o jovem sagaz estudante de medicina, Marco Polo, como protagonista.

Marco Polo, um jovem de classe média, sempre tentou ser diferente dos demais estudantes. Queria questionar, entender e obter respostas. No início do tão sonhado curso, Medicina, depara-se com uma realidade totalmente diferente da que tinha imaginado. Pessoas são tratadas como uma junção ao acaso de ossos, medulas, nervos, pele e sangue. Cury começa seu romance na sala de anatomia. Enfim, os calouros iriam ter a tão sonhada “primeira aula”. Dr. George , o renomado professor de anatomia da universidade, começa, sem delongas, a discorrer sobre cada pedacinho do corpo humano, mostrando detalhes em cada um dos 40 cadáveres espalhados pela espaçosa sala. Mas estava enganado ao pensar que aquele seria mais um dia de aula comum. Na sua plateia havia um aluno que era tudo, exceto comum. Leia mais...Marco Polo, começa a questionar sobre quem seriam aquelas 40 pessoas ali estendidas, mas é severamente repreendido pelo professor. “Ora, não são ninguém! São indigentes sem nome ou história.” É aí que Cury encontra sua deixa e o ponto central de seu romance. O Futuro da Humanidade preocupa-se em frisar a importância individual que cada pessoa possui.

Depois da severa resposta, Marco Polo, decide então, investigar um dos cadáveres e, no meio dessas investigações, encontra alguém que talvez o conhecia. Um mendigo que se autointitulava Falcão. É, principalmente com este personagem, que Augusto Cury, transmite a mensagem “A essência é o mais importante, e o essencial é invisível aos olhos.” Falcão, parece ser mais um lunático qualquer que vivia nas ruas e sofria com o modo como a sociedade atual trata os moradores de rua. Mas na verdade foi um grande professor de Filosofia que perdeu tudo por causa de uma doença psíquica. Nas ruas, Falcão “sentiu na pele que a justiça é forte para com os fracos, e frágil para com os fortes.” Mas apesar de tudo conseguiu aprender e transmitir para Marco Polo a capacidade de ser grato pelas pequenas coisas. A capacidade de agachar-se diante de uma flor e sussurrar: ” Você é tão linda e eu sou tão rude, mas obrigado por invadir meus olhos e me encantar sem nada exigir.” A leitura desse romance realmente nos leva a pensar se realmente estamos dando chance às pessoas de serem conhecidas por nós de verdade ou se apenas estamos conhecendo as embalagens e desprezando o universo de conteúdo que é cada um.

Após aprendida a lição de conhecer as pessoas pelo que são e não pelo que tem ou mesmo oferecem, Marco Polo torna-se um aluno ainda melhor. Torna-se um questionador. Pelo que pude observar nesta obra e no meu pouco conhecimento de vida, questionar é a maior arma dos sábios. Não devemos nos conformar em receber o conhecimento pronto. É preciso aprender a digeri – lo por nós mesmos. Mas ter se tornado um aluno melhor não significa ter se tornado um aluno bom. Marco Polo tumultuava a sala de aula e muitos de seus professores não gostavam dele. Mas porque? Por que no fundo sabiam que ele estava correto. Cada ser humano é bem mais que um ser vivo gerado ao acaso. E como futuro psiquiatra, tornou-se, para Marco Polo, imprescindível, a necessidade de aprender mais sobre a mente humana e encará-la como um universo a ser desvendado e não como 1,5 Kg de massa cinzenta sujeita a restritas reações químicas. E de fato, Marco Polo consegue tornar-se um psiquiatra brilhante e pesquisador, com muito esforço, claro.

O que augusto Cury mais faz nesse romance, pelo menos a meu ver, é criticar tanto a forma como a sociedade encara as pessoas como a própria psiquiatria as encara. Para o sociedade atual somos apenas um individuo com um potencial x de consumo e produção e para a psiquiatria somos máquinas sofisticadíssimas controladas por um cérebro guiado por reações químicas. Somos bem mais que isso! Cada ser humano é um mundo todo a ser desbravado. A proposta de Cury é que cada um de nós se torne um Marco Polo, tanto o de seu romance quanto o da história que tão bem conhecemos. Desbravadores, questionadores e conhecedores do mundo e da real essência de cada pessoa.

O livro ainda conta com mais uma dezena de personagens. A maioria pacientes que foram tratados por Marco Polo e tiveram suas histórias transformadas por este. Elas não eram pessoas doentes. Eram pessoas com uma doença. Realmente uma leitura muito interessante de ser feita.

https://torresallef.wordpress.com/2016/04/22/o-importante-e-a-essencia/

Állef Torres
Enviado por Állef Torres em 21/06/2016
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