Tristão e Isolda, a lenda revisitada

TRISTÃO E ISOLDA, A LENDA REVISITADA
Miguel Carqueija

Resenha do romance “Tristão e Isolda” (Tristan), de Hannah Closs. Editora Nova Fronteira, Rio de janeiro-RJ, 1990. C. The Vanguard Press, New York, USA, 1967. Tradução de Raul de Sá Barbosa.


Romance denso e melancólico com mais de 300 páginas, este livro foi publicado originalmente em 1940, muito antes portanto que os romances de fantasia e epopéia se tornassem grandes campeões de vendagem, coquluxes até dos jovens (bom sinal...) sendo lidos avidamente até quando se tornam verdadeiros tijolos. Hannah Closs, filha do Professor Robert Priebsch (paleólogo e medievalista) nasceu em Londres em 1905 e faleceu em 1953, deixando volumosa obra. Era sem dúvida uma excelente escritora, pela maneira como conduz esta narrativa: castiça, escorreita, dosada. Todavia é um livro que necessita paciência para ser lido e seu personagem central, Tristão, não consegue entusiasmar os leitores, é um herói trágico, que se caracteriza por não saber ao certo o que quer na vida, e seu caminho é o da desilusão, do enfado e da tragédia. A moral do livro é rude: a vingança é admitida, apesar de os personagens serem em sua maioria cristãos, mas de um cristianismo que parece ainda impregnado de sentimentos pagãos de intolerância e violência.
O romance impossível com a Rainha Isolda prefigura um final necessariamente triste, e um detalhe interessante é surgir outra Isolda no caminho do guerreiro medieval, quando este por força das circunstâncias é obrigado a se separar de Isolda e já não a vê a sete anos. A tragédia se fecha quando a segunda Isolda descobre que este era o nome da primeira, o que terá sido a verdadeira razão do casamento.
Num mundo onde a vontade da mulher não é considerada, ou é pouco aceita, o amor entre Tristão e Isolda esbarra nos preconceitos e nos entraves da época: mesmo sendo princesa Isolda é disputada em torneio por cavaleiros, inclusive um muçulmano; e Tristão só entra no torneio e o vence não para receber a mão de Isolda, mas para levá-la ao Rei Marcos... destino que ela no fundo desprezava. Quando afinal ele tenta ficar com Isolda, o faz da maneira errada e desastrada, tornando-se com ela um fugitivo durante meses e sem um plano que lhes garantisse a vitória. E assim vai o romance contando essa história triste e desesperada, de um amor que não pode superar os obstáculos e assim se afunda na tristeza e na frustração. Enfim, uma lenda celta de caráter melancólico, narrada de forma detalhista e profissional, mas uma leitura quase deprimente.

Rio de Janeiro, 10 de julho de 2016.