O pensamento de Albert Einstein

O PENSAMENTO DE ALBERT EINSTEIN
Miguel Carqueija


Resenha do livro “Como vejo o mundo”, de Albert Einstein. Título original: “Mein Weltbild”, Europa Verlag, Zurich (Suíça), 1953. Edição brasileira: Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1981. Tradução: H.P. Andrade. Capa (fotos de Einstein): Lian Wu. Revisão: Luiz Augusto Mesquita. Compilação de textos esparsos de Albert Einstein (1879-1955), inclusive correspondências.

Com toda certeza, Albert Einstein é um dos nomes de maior peso do século XX. Ao longo de uma fecunda e longa existência este sábio elevou a Ciência a um novo pináculo, com sua Teoria da Relatividade, e mesmo despertou em muitas pessoas, do grande público, o desejo de se aprofundarem em temas científicos. Mas além do cientista, do grande físico e matemático, Einstein também sabia ter opinião sobre os problemas mundiais, especialmente quando os mesmos assumiam conotações éticas e humanitárias. Este seu pensamento direto acha-se neste livro, a lamentar porém a omissão editorial, pois na maior parte dos textos apresentados não se coloca em notas a sua origem e data original de publicação. É lendo, passando de texto em texto, que afinal percebemos as épocas diferentes em que foram escritos.
Um dos temas mais recorrentes é o desarmamento. Para Einstein, não deveriam existir exércitos. E ele chega a assumir posição bastante polêmica, como se pode ver nestas palavras: “Continuo a afirmar que o meio violento da recusa do serviço miitar é o melhor”. Einstein prega que as pessoas, naquela época praticamente só os homens, deveriam recusar-se terminantemente a servir às Forças Armadas, pois, na visão do cientista, é a existência dessas mesmas forças que provoca as guerras (a rigor não deixa de ser verdade: como poderiam haver guerras sem exércitos?). (Capítulo 2, Política e pacifismo)
Einstein apresenta uma visão quase “sui-generis” da religião. Ele não adere a nenhuma fé organizada como tal, mas reconhece a religiosidade do universo, se assim podemos expressar. Na contemplação do cosmos e suas leis, o senso místico de que existe algo superior ao Homem. “O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica.” E sobre a atitude do sábio: “Sua religiosidade consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo o seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório.” Estas frases, no capítulo 1 (não esquecendo que esses capítulos são apenas arrumações de temas, com textos tirados de várias fontes) vêm a propósito de um fenômeno que já observei em outros intelectuais, como Arthur C. Clarke, Stanley Kubrick, Carl Sagan, que dizendo-se ou sendo tidos como materialistas, por não aderirem a uma crença em religião organizada e num Deus pessoal, não conseguem viver sem desejar a transcendência.
Einstein era alemão, mas viveu também na Suíça. Com a ascenção de Hitler ao poder na Alemanha, passou a residir nos Estados Unidos, naturalizando-se em 1940. Deixou bem clara a sua oposição ao nazismo. O terceiro capítulo desta coletânea traz, inclusive, cartas referentes a uma polêmica do cientista com a Academia de Ciências da Prússia. Einstein fôra acusado de participar de uma campanha contra a Alemanha, quando na verdade sua oposição era ao regime nazista e a perseguição contra os judeus. Aliás, Einstein era judeu. Em outra parte da obra ele defende o sionismo e a volta dis judeus à Palestina. “Há dois milênios, o valor comum a todos os judeus está encarnado em seu passado. Para este povo disperso pelo mundo somente existia um único lugar, ciosamente mantido, o da tradição.” Ou seja, um povo sem pátria física durante longos séculos. Einstein valoriza a capacidade do povo hebreu em suportar tantas vicissitudes históricas e aponta para o novo porvir, a criação do estado de Israel: “Esperamos profundamente estabelecer na Palestina um lugar para as famílias e para uma civilização nacional própria, que permita despertar o Oriente Médio para uma vida econômica e intelectual.”
O livro ainda apresenta, no final, alguns artigos científicos com explanações sobre a Relatividade e as pesquisas de diversos sábios (Kepler e Newton são bastante exaltados).
Para quem quiser conhecer mais sobre o homem de carne e osso que foi Albert Einstein, e não apenas sobre suas teorias e contribuições científicas, este volume é especialmente útil.


Rio de Janeiro, 25 de julho de 2016.