RESENHA DO LIVRO MEU PÉ DE LARANJA LIMA

Lançado pela primeira vez em 1968, o livro infantojuvenil Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, já teve mais de uma centena de edições publicadas, foi traduzido para 32 línguas e publicado em 19 países. Sua aceitação foi tão grande no Brasil que rendeu adaptações para as novelas televisivas, para o cinema e o teatro.

Nascido no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1920, José Mauro de Vasconcelos faleceu em São Paulo, em julho de 1984, aos 64 anos, deixando-nos uma vasta obra que merece ser reeditada. Seu primeiro livro foi Banana Brava (1942), escrito aos 22 anos. Depois vieram sucessos como Barro Blanco (1945), Arraia de Fogo (1955), Rosinha, Minha Canoa (1962), Doidão (1963), As Confissões de Frei Abóbora (1966), Vamos Aquecer o Sol (1974), entre outros.

Em Meu Pé de Laranja Lima, o escritor autobiografa sua infância em Natal (RN), onde foi criado por parentes. A personagem principal, o menino Zezé, tinha cinco anos, sua mãe trabalhava numa fábrica e seu pai estava desempregado. Os irmãos maiores cuidavam dos menores. Zezé passava a maior parte do tempo brincando na rua e fazendo traquinagens. Porém, não era poupado de surras e castigos dos pais e irmãos. Vivia fazendo maldades, era um “menino mal”, tinha o “diabo no sangue”.

A família de Zezé muda de casa e na nova residência ele encontra um pé de laranja lima no quintal. A planta torna-se seu amigo e confidente, a quem confessa suas travessuras e revela seus dissabores. Zezé dá-lhe o nome de Minguinho. “Sabe, Minguinho, eu viajei agora numa carroça tão grande e macia que parecia uma diligência daquelas feitas de cinema. Olhe, tudo que eu souber, venho contar a você, tá?”

A segunda parte do livro – Foi quando apareceu o Menino Deus em toda sua tristeza – é a mais enternecedora da obra de José Mauro. Ao pegar uma carona na traseira do carro mais bonito da cidade, Zezé recebe uma surra do dono, Manuel Valadarez, o Portuga. Revoltado, o garoto promete vingança. Porém, a solicitude e o carinho do português cativam a criança. Nasce, daí, uma relação de afeto e cumplicidade entre os dois, tornando Manuel Valadarez uma figura substituta do pai, de quem Zezé quase não recebe atenção. Mas essa amizade é arrebatada por uma tragédia, levando a criança a um estado de profunda tristeza.

O enredo é contundente, narra os sonhos e as desventuras de uma família pobre e numerosa na capital potiguar. Entretanto, o texto é leve, permeado de humor e emoção, do início ao fim. Por isso, a obra tem fascinado leitores de todas as idades, desde sua primeira edição. Com um estilo idílico, de fácil compreensão, é capaz de despertar no leitor risos e lágrimas.