CONTRA UM MUNDO MELHOR

Contra um Mundo Melhor – ensaios sobre o afeto

Autor: Luís Felipe Pondé

Ano de publicação: 2010

Assunto: olhar crítico sobre o cotidiano

Julho/2016

Geralmente os filósofos dedicam suas vidas e suas mentes a estabelecer sistemas de pensamento com vistas a compreender e entender a realidade e o comportamento humano, que seja atemporal.

Luís Felipe Pondé, porém,se define como um filósofo do cotidiano, lançando seu olhar cético sobre a busca incessante da humanidade pela felicidade e a incapacidade de se encarar a vida como ela é. Segundo ele, cheia de pequenas misérias, já no começo de sua obra ele diz “o que nos humaniza é o fracasso”

Essa frase está longe de ser totalmente pessimista, a meu ver, é muito mais um convite a sermos de fatos humanos, pois os fracassos nos convidam a analisar nossa miserável condição de seres inseridos em um certo tempo, porém sempre buscando um reino futuro e esquecendo-se de que o aqui e o agora constroem o depois, há um leve tempero de Nietsche em todos os ensaios de Pondé.

Três textos me chamaram a atenção a começar pelo captulo 19 – chamado Destino

Pondé não é do tipo que acredita em um destino escrito nas estrelas e nos dezoito primeiro capítulos percebe-se claramente a sua tendência a crer em um Livre arbítrio atrapalhado , logo no inicio, ele explica que o destino dos homens,é sobretudo, fisiológico, pois o envelhecimento é inevitável , mas, apesar das inúmeras técnicas para retardar o envelhecimento , ele reconhece que:

“Envelhecer hoje nada significa, porque o idoso não é mais o narrador da vida” pois o idoso quer mais é aprender com os mais jovens , isso é aparentemente bom para nós do senso comum, mas Pondé com seu olhar arguto e sempre buscando os sentidos por trás do politicamente correto, afirma que “ quanto mais admiramos as tecnologias da juventude, mais declaramos que a vida é um nada que despenca no abismo” jamais havia pensado que a valorização que a nossa sociedade ocidental dá ao futuro e à juventude, indiretamente afirma que todo o passado não tem lá o seu valor e que deve ser sempre colocado em segundo plano, em nome do futuro, vemos muitos pais querendo ser como seus filhos e imitá-los em quase todos os aspectos, com essa atitude esta incoscientemente transmitindo a idéia de que não vale a pena viver e envelhecer com bagagem, já que o futuro será sempre o jovem.

O Capitulo 22 trata do dinheiro e felicidade, em sua visão realista e nem um pouco romanceada, como gostaraiam alguns fãs da filosofia ocidental, Pondé afirma que: “ Dinheiro compra sim felicidade , de modo mais banal, compra férias, qualidade de vida, bons médicos, segurança, casas em ruas com árvores, escolas decentes, conversas mais doces, boa comida, etc”

Pondé não foge da briga, quando lhe dizem que tais felicidades conseguidas pelo dinheiro são vãs, responde prontamente:

“ mas qual felicidade não é vã”? a felicidade não é um estado constante, é um lampejo, posto que o homem muda toda hora de humor e de intenção, a frase “ O homem vale pelo que ele é” deve ser vista com uma certa reserva, pois o o ser humano é um ser em construção, nenhuma qualidade é permanente e nenhum defeito é passageiro, ninguém pode dizer com absoluta certeza como o homem é , o dinheiro pode melhorar o ser de uma pessoa, assim como a falta do dinheiro pode piorá-lo. O contrário também é verdadeiro ( a falta de dinheiro pode pode melhorar alguém) mas ninguem quer testar essa alternativa entre parênteses em si mesmo, é preferível passa-la adiante , como uma grande lição de humildade.

Finalmente o capitulo 24 que reconta ao estilo Pondé o mito da torre de babel, representada pela busca incessante da vida perfeita e como essa busca afeta todos os aspectos da vida, da moral a espiritual “Desejar algo não necessariamente passa pela falta que este algo nos faz, mas sim pela humilhação imaginária de que outros desfrutem aquilo que você não tem” Os babelianos teriam uma nada discreta inveja de Deus, por este desfrutar de felicidade, vida perfeita, e poder sem limites, tudo passa a girar ao redor da torre, que representa o caminho para a perfeição injustamente não concedida por essa divindade que os deserdou.

Uma vez pronta, essa torre foi invadida ao mesmo tempo pelos babelianos, cada um reivindicando para si o direito de subir por ela,

“ A torre ruiu, e todos morreram, a busca da perfeição nada mais Fez do que ampliar as fronteiras do inferno”

Não vi muitas mensagens seja católicas ou protestantes sobre a torre de babel, a história narrada em gênesis ganha contornos absoluamente modernos nas linhas de Pondé, entendi que a torre é o símbolo da autossufiencia humana e a perfeição a ser conquistada, ao redor da qual as pessoas crescem a planejam, porpe, como tudo o que o homem constrói com o fim de se igualar à divindade ou mesmo supera-la, acaba por desabar sobre si mesma, porque ( e aqui é uma conclusão minha” o caminho ao céu representado pela torres não é fruto tão somente do esforço humano, eivado de egoísmo e pretensão. Esse capítulo do livro me causou uma profunda reflexão e com certeza vou lê-lo várias vezes.