NAS MONTANHAS DA LOUCURA
 
O AUTOR : Howard Phillips Lovecraft (1890-1937) autor de histórias de horror e ficção científica, conhecido em vida pelo material publicado em revistas do gênero, foi postumamente aclamado como o criador de uma mitologia original que influencia artistas ligados à indústria do entretenimento até os dias de hoje.
 
O LIVRO : a coletânea, edição de 2014 na série L&PM pocket(1), traz quatro narrativas de H.P.Lovecraft; leve, concisa e uma razoável introdução ao mundo lovecraftiano, para os leitores ainda não muito familiarizados com o autor – embora eu particularmente ache que os contos presentes na breve antologia já apresentem suficiente desafio e material a ser aprofundado, para quem assim o desejar.
 
OS CONTOS
 
NAS MONTANHAS DA LOUCURA : o relato de um geólogo a respeito de sua incursão nas terras geladas da Antártica, na trilha de uma equipe que lhe antecede e... desaparece de forma bizarra.A história (AT THE MOUNTAINS OF MADNESS 1931) pertence ao ‘ciclo Cthulhu’(2), e traz um autor maduro, e em boa forma literária, conduzindo o leitor pelos meandros de sua especulação de um horror que desafia a compreensão humana.
 
A CASA MALDITA : aqui, Lovecraft aborda o tema do lugar amaldiçoado (a casa do título), sugerindo e insinuando mais que demonstrando como a má fama de certas residências pode, de fato, ser perfeitamente justificável.O enredo é bem amarrado (com o inevitável retrospecto ominoso que toda história de casa mal-assombrada deve fornecer)e não fica seriamente comprometido pelo teor aventuresco que assume a certa altura, o suspense prevalece.Não é, definitivamente, o melhor conto de Lovecraft mas seria impreciso dizer que tenha errado a mão, aqui, na minha opinião.
 
OS SONHOS NA CASA DA BRUXA : a história de Gilman, estudante de matemática, e o que passa a vivenciar ao se instalar num quarto alugado, numa casa onde havia morado uma bruxa.Qualquer semelhança com o protagonista de A CASA DO JUIZ (Bram Stoker 1847-1912) fica apenas na superfície – de fato, em ambas as narrativas é um estudante de matemática instalado em um local hostil – o que temos aqui não encontrará paralelo na produção literária da ocasião.Os elementos típicos de Lovecraft estão presentes, quais sejam, cultos obscuros (leia-se ‘bruxaria’), referências a livros malditos e a noção de uma maldade infinita à espreita, num mundo contíguo a esse nosso...e outros traços igualmente interessantes também são explorados : o tema da distorção da perspectiva ocasionando estados alterados de consciência(3),por exemplo, bem como a noção de trânsito interdimensional, para realidades para as quais nossos sentidos não foram projetados...E há elementos de horror um pouco mais ‘físico’, digamos assim, deformidades, mutações...enfim, um conto pra ser lido à noite, sozinho numa casa enorme e silenciosa.
 
O DEPOIMENTO DE RANDOLPH CARTER : uma ruptura interessante, em minha opinião, de tom e estilo.De fato, a narrativa anterior data de 1932, e esta, de 1919, é muito fácil perceber a  diferença da ‘pegada’ narrativa, da abordagem.A história, a respeito da qual não dá pra dizer muita coisa sem estragar a leitura de quem ainda não a conhece, pertence ao chamado ‘ciclo onírico’(4) de Lovecraft – ao menos o personagem, Randolph Carter, é o protagonista das outras histórias desse ciclo.O tema desenvolvido é o do vislumbre de coisas proibidas e o que isso acarreta a quem se atreve a tais arroubos temerários.É um conto breve e eficiente, de um Lovecraft que ainda ‘não era Lovecraft’ mas que já estava a caminho, ah, se estava...

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1.Outros títulos do autor pela editora : O CASO DE CHARLES DEXTER WARD, O MEDO À ESPREITA, A TUMBA E OUTRAS HISTÓRIAS entre outros.

2.A respeito dos demais contos do ciclo : http://www.hplovecraft.com/writings/sources/ccmt.aspx

3.O conto definitivo a respeito desse tema : CANAVAN’S BACK YARD, de Joseph Payne Brennan.

4.Sobre o ‘ciclo onírico’ :
http://www.hplovecraft.com/writings/sources/dc.aspx

 
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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 11/02/2017
Reeditado em 11/02/2017
Código do texto: T5909284
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