As memórias do Professor Cunha e Silva Filho

AS MEMÓRIAS DO PROF. CUNHA E SILVA FILHO
Miguel Carqueija



Resenha do livro “Apenas memórias”, de Cunha e Silva Filho. Editora Quártica, Rio de Janeiro-RJ, 2016. Arte final de capa: Teresa Akil. Imagem da capa: fotolia.com. Orelha de José Ribamar Garcia.


Colunista do Portal Entretextos, onde contribui com artigos substanciais sobre a situação do país e a mundial, o Professor Francisco da Cunha e Silva Filho, cujo pai era também escritor, nasceu em Amarante, no Piauí, e reside há muitos anos no Rio de Janeiro. Este livro é de memórias, mas não linear e corre mais ou menos ao sabor das lembranças do autor, abrangendo mais de cinco décadas e, como ele mesmo comenta na abertura da obra, “É tempo que não acaba”.
Salta aos olhos o amor de Cunha pela literatura, pelos estudos, pela vida cultural. Inúmeros nomes da cultura nacional são mencionados, muitos inclusive que ele conheceu pessoalmente. Às vezes ele chega ao minimalismo na sua narrativa, detalhando ter pego condução, ter ido aqui ou ali e falado com tais pessoas. A leitura é amena e ligeira, as letras são grandes e fáceis de ler. Todavia o volume carece de uma melhor revisão. Estranhei também a maneira como o autor abusa do pronome oblíquo no início das frases: “me lembro”, “me perguntou”, “lhe falei”.
Também me causou estranheza foi saber, do próprio autor, que a edição, embora profissional, é de apenas 100 exemplares, de modo que nos dois lançamentos ocorridos (eu fui ao lançamento no Museu da República) deve ter-se praticamente esgotado.
Cunha deixa bem claro que veio para o Rio de Janeiro, no início de 1964, para estudar e tentar a vida, sem estar preparado para isso, chegando a descuidar da própria saúde:

“Uma vez, à noite, na vaga em que morava com o meu irmão Winston passei mal de saúde a ponto de a senhoria do apartamento ficar com pena de mim e me indagar do meu estado de saúde. Era um mal-estar, uma fraqueza que não havia sentido antes. (...) Aquele mal-estar, que sentira antes, já dava outros sinais. Me sentia mal, um pouco inchado, pálido e fraco. “ Acabou sendo internado no Hospital Pedro Ernesto, e afinal foi diagnosticada uma anemia provocada por parasita (necatur americanus). Detalhe tragicômico é que, quando foi anunciado que um deputado iria visitá-lo, houve uma verdadeira azáfama de limpeza (com troca de lençóis, travesseiros, colchas e tudo) no local...
Cunha fala de seu casamento ainda muito jovem, seus estudos e suas publicações ao longo da vida. Como diz José Ribamar Garcia na orelha, “Cunha e Silva Filho superou todos os obstáculos. Um vencedor. Licenciou-se em Português e Inglês. Mestrado, doutorado e pós-doutorado. Constituiu família. Hoje, um dos mais importantes críticos literários do país, com vários livros publicados.”

Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2017.