O simbolismo de Fernão Capelo

O SIMBOLISMO DE FERNÃO CAPELO
Miguel Carqueija



Resenha da novela “A história de Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach. Editora Nórdica, Rio de Janeiro-RJ, sem data. Título original: Jonatham Livingston Seagull, a story”. C. 1970, Richard D. Bach, Nova York, EUA. Fotografia: Russell Menson. Tradução: Antônio Ramos Rosa e Madalena Rosález.
Antes de mais nada desejo observar que o título brasileiro desse livro que inclusive foi filmado é uma invenção meio sem cabimento. O protagonista é de fato uma gaivota mas seu nome não é Fernão Capelo e sim Jonathan Livingston. “Seagull” é gaivota mesmo.
A história parece sublime, versando sobre superação e ideal, ao falar de uma gaivota que não se importava muito em ficar disputando peixes com as outras; queria isso sim voar mais rápido e mais alto e por isso vivia treinando. Afinal veio a dar vôos incríveis e acabou sendo expulso da colônia, considerado um réprobo por quebrar as tradições imutáveis de sua raça.
Então, depois de anos, ele morre e é levado por duas gaivotas brilhantes para outro mundo.
“A lembrança da sua vida na Terra sumiu-se”, diz o texto. E outra gaivota lhe diz: “Fomos de um mundo para outro, que era praticamente igual ao primeiro, esquecendo logo de onde viéramos, mas nos preocupando para onde íamos, vivendo o momentp presente. Tem alguma ideia de por quantas vidas tivemos de passar até chegarmos a ter a primeira intuição de que há na vida algo mais do que comer, ou lutar, ou ter uma posição importante dentro do bando? Mil vidas, Fernão, dez mil!”
Por aí se vê que o autor deve ser adepto de Allan Kardec. E mais adiante, quando o protagonista resolve ir nos mundos deixados para trás, tornando-se instrutor de gaivotas desejosas de progredir, avisa para não o tornarem um “deus”. Chiang, uma das gaivotas evoluídas, diz que não existe o lugar “paraíso”; o paraíso é “ser perfeito”. Alguns pensam que Jonathan é o “filho da Grande Gaivota” e ele o nega.
De fato os espíritas consideram Jesus Cristo como um espírito altamente evoluído, sem ser Deus. E Deus está sempre ausente, inacessível.
É fácil portanto reconhecer que este livro é uma obra de mensagem espírita reencarnacionista com a qual não me identifico, pois sou católico. Respeitamos porém a crença de Richard Bach.

Rio de Janeiro, 16 de maio de 2017.