Machado de Assis e alguns contos

MACHADO DE ASSIS E ALGUNS CONTOS
Miguel Carqueija


Resenha da coletânea “A igreja do diabo e outros contos”. Editora Scrivium, São Paulo-SP. 1996, Canto Literário 3. Capa: “Le Cardinal de Richelieu” (1962) de Brnard Buffet. Seleção de seis contos da coletânea original “Histórias sem data”, de Machado de Assis (1884).

Sempre achei Machado de Assis (1839-1908) um escritor decepcionante, pois apesar de ser por muitos críticos considerado o maior autor da literatura brasileira, na prática os seus textos são cabotinos e desinteressantes. É o que se percebe facilmente na meia dúzia de exemplos aqui reunida.

A IGREJA DO DIABO – uma das muitas histórias cômicas – Edgar Allan Poe e Berilo Neves também fizeram estas incursões – envolvendo o capeta. No caso ele resolve vir ao mundo, perfeitamente identificado, e criar uma igreja própria, reabilitando os pecados capitais que passariam a ser as verdadeiras virtudes. Como história é bem pobre, nem dá para entender qual a verdadeira mensagem. Machado quer sempre ironizar o comportamento humano, mas às vezes com sutileza em excesso.

ÚLTIMO CAPÍTULO – é o texto de um personagem que se julga um eterno encaiporado, explicando os motivos que o levam ao suicídio. Não dá para levar muito a sério. Aliás Machado de Assis não era de favorecer muito as mulheres e isto se percebe neste escrito.

GALERIA PÓSTUMA – outra história bem cética. Um sujeito benquisto morre e um de seus amigos descobre-lhe um manuscrito onde ele fala mal de todo mundo – dos amigos inclusive.

CAPÍTULO DOS CHAPÉUS – conto até comprido, contando a briga de um casal por causa do chapéu usado pelo marido. Outra bobagem de Machado de Assis. Eta autor difícil de engolir!

ANEDOTA PECUNIÁRIA – fábula sobre um avarento, menos convincente que o Scrooge de Dickens. Falcão é solteiro e só admite que as suas sobrinhas casem se entrar dinheiro na jogada. Machado tem o cacoete de se dirigir às vezes aos leitores, técnica hoje considerada obsoleta.

FULANO – conto irritante a começar pelo título contando a trajetória de um homem público e filantropo que o autor nomeia, sabe-se lá porque, de Fulano Beltrão.
Conclusão: um livro que a gente lê complacentemente, por respeito a Machado de Assis, mas gostar mesmo...

Rio de Janeiro, 28 de abril de 2017.