Se um de nós dois morrer, Paulo Roberto Pires
Suave, encantador. Sem palavras para descrever livros, é como rotulá-los. E eles vão muito além disso. Mas uma coisa é certa, aqueles que se mostram encantos na leitura, ficam encantos para sempre.
Ao ver o livro naquelas promoções da Submarino, a capa chamou a atenção. Vendo mais perto, o título. A imagem da frente (que mesmo após ler ainda não descobri o que significa ao certo). Ao ler "Se um de nós dois morrer" escrito na capa, pensei ser algum romance cheio de mimimis, e fantasiados, e idealizados sem uma realidade incluída. Recorrendo à sinopse, vi que falava sobre a escrita. Sobre um escritor. Parei por ali, para fazer o pedido e ler sem ao menos ver a sinopse completa. Esse queria esperar e ver o que iria me trazer, sem ouvir de ninguém, nem o que o próprio autor (provavelmente. É o autor que escreve a sinopse?) escreveu.
A história se inicia com o enterro do Théo, que é o escritor na história. Sofia, uma namorada sua que na época de sua morte já não era namorada, mas era a mais próxima, fica com as cinzas dele, e recebe uma sequência de coisas que ele escreve e deixa á ela. Escreveu tudo antes de morrer, e deixou pronto, envolvendo outras pessoas para entregar o necessário à ela. Primeiro, a viagem à Paris para a distribuição de suas cinzas. Depois, recebe uma pasta contendo cartas, relatos, entre outras coisas, mostrados durante o livro. Enquanto se conhece um pouco mais sobre o Théo. Por fim, Sofia vai à Paraty, entregar a tal pasta a um outro escritor: Henrique Vila-Matas. Muito comentado durante o livro.
De todo, não há suspense. Apenas se relata uma história sobre um escritor. A grande parte, para mim, se encontrou no final. Théo guiou Sofia através dos pedidos deixados, ela fez por respeito e acredito que carinho até mas consideração seria o mais adequado, para com ela. Ela que não entendia, mas no fim, cumprindo o que ele pediu, entendeu.
Ps: não mencionei que ela foi a herdeira da herança dele.
Tinha um projeto, que vivia adiando, de fotografar todos os dias de sua vida e, depois de selecionar o mais irrelevante dos momentos, escrever um texto que deveria acompanhar a imagem.
[...] sempre esperando ideais e frases prontas e acabadas, sem enfrentar-se com a indeterminação dos rascunhos.
[...] essas coisas saíram quase sempre da mão e raramente da cabeça.
Mais importante do que as obras é o que acontece com os escritores enquanto tentam escrevê-las.
[...] quando descobrimos um autor e queremos ter em casa tudo dele, mesmo que jamais toquemos os livros
Pois escrever, como o senhor bem sabe, pode ser nada mais do que um sofrimento.
Tudo o que há, querem nos fazer crer, são raciocínios sucessivos, não importando se são desconexos ou compulsivos. E eu agora acredito.
Os tendões ainda doem, mas estou ficando craque em reduzir minha letra ao mínimo inteligível.
Para resumir brevemente, o "mal de Montano" é aquele que acomete todos que só conseguem ver a realidade através da literatura, que muitas vezes podem ser confundidos pura e simplesmente com sujeitos pedantes, uma vez que citam sem parar.
[...] a escrita te escreve, é capaz de uma transformação profunda no que você é. E isso vale para qualquer tipo de escrita, para a "literária" e para o diário ou o caderninho de notas.
[...] anotar erraticamente o que se vê, algo que se precisa fazer ou um pensamento solto, o sujeito obedece a uma necessidade tão íntima que às vezes sequer lembra por que fez determinada anotação.
A morte, estou convencido, acontece onde não há mais movimento, onde não há mais novidade, alegria.