Procura-se - Quinta companhia de Teatro

A Quinta Companhia de Teatro apresenta a peça “Procura-se”, no Teatro Leblon, sala Marília Pera, onde sete atores interpretam situações vivenciais das pessoas da cidade grande em busca de preencher seus vazios afetivos, amorosos e existências. Eles representam o fundo das relações esvaziadas de sentidos e sua caótica configuração. Essa odisseia traz mundos de mal entendidos intensificando ainda mais o vazio e a ânsia por complementariedade através do outro. A peça revela nossa desatenção e falta de observação em relação a própria vida e ao cotidiano, nosso de cada dia, nossa capacidade desastrosa de ilusão e deslimite. As situações de fundo onde os atores mergulham ressaltam nosso plano individual de ansiedade, solidão, silêncio, ausências, fragmentação, descompreensão, e fuga. Trata-se de nossos vícios, das nossas manias e incapacidades de: observar e ouvir atentamente a voz interior e o outro. Somos incapazes de desligar a televisão ou o vídeo game, ou cessar o borbulhar dos desejos instintivos para realmente saber o que diz o mundo ao redor e o mundo interior, o outro e, sobretudo o que tanto grita a agitação de cada um. As pessoas não conseguem ficar consigo mesmas nem elaborar seus vazios. Uma odisseia de atropelos que mais parece a busca desenfreada de suprir as demandas internas e ter como único objetivo de vida destruir a própria solidão e vazio. Tarefa impossível, ao que parece. Personagens representam o óbvio, cada indivíduo foge constantemente de si mesmo em busca do outro que também é repelido pelo próximo passo de insatisfação e vazio. É um movimento cíclico que nos leva a refletir sobre a condição da caverna, tentativas de busca e preenchimento do mundo interior tão vazio, escuro, frio e fragmentado, ao mesmo tempo em que há a fuga dessa condição somos atraídos pra isso, e essa inquietação constante se processa e nos constitui. Não se consegue dar conta de tantas lacunas! A busca no outro se torna uma espécie de solução ou satisfação porque não compreendemos nem aceitamos que somos seres vazios e inacabados. Há uma procura pelas partes do todo. A partir daí, percebe-se que somos seres contingentes de circunstâncias, humores, situações negando a máxima de conhecer a si mesmo. É o nada que está em nosso interior! No entanto, nessa nossa sociedade capitalista somos impedidos todo tempo de encarar o interior da caverna, de olhar para nossos vazios mais remotos e contemplar na parede da vida nossa escuridão, nessa cegueira inconsciente passa-se maior parte do tempo de vida idealizando sobre o outro as nossas ilusões e nossas sombras. A peça traz luz a nossa falta de consciência sobre o outro, sobre as relações e sobre nós mesmos. A peça “Procura-se” trata do aniquilamento e da procura do próprio EU.

Por Alessandra Espínola

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 14/06/2017
Reeditado em 21/06/2017
Código do texto: T6027216
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