Rei sem Trono

"Como um mártir de estranho sacrifício,/ Tinha os lábios crestados pela ardência/ Da luz letal do grande sol do vício". (Augusto dos Anjos)

Rei sem Trono

Em tua alma há uma chama execrada

Sob cinzas crepita enfurecida

A ardência da cólera deferida

Pela augusta revanche mascarada

Os dentes rangem ruge e só aumenta

A gigantesca pira da vingança

Ancorada no imo como a dança

De ondas que gemem em noites de tormenta

Espuma a marulhar afunda velas

Empurra pescador contra rochedo

Deixando órfã as velhas caravelas

Eu creio que essa guerra sempiterna

Faz-te amargo, cruel, um ser azedo

Vil senhor dessa vã vingança eterna!

(Edna Frigato)