Os Quatro Ciclos (Quadrilogia com Nestório da Santa Cruz)

Com Rafael Dalle Vedove

I. Primavera

Nasceu a flor primeira. Na alvorada,

O céu, um pálio azul de luz e riso.

Emana o Sol uma aura iluminada,

Num brilho de esplendor rico e preciso.

As florescências tomam formas, cada

Pétala é como um véu sedoso e liso;

A Primavera é a veste matizada,

Que a terra traja do fugaz paraíso.

As árvores se voltam pro universo,

E cada ramo canta como um verso

Que do âmago da vida surge, brota...

E do suntuoso altar da Natureza,

Formam-se os viridários da beleza,

Onde absoluta, a flora se devota!

***

II. Verão

Acende-se do estio a rubra chama

Que o firmamento todo se reveste.

O Sol em opulência se derrama

Nos raios de um incêndio azul-celeste.

Um mussitar longinquamente clama...

A se compor de um ciciar agreste;

É o canto das cigarras, que proclama

A cálida estação, que em som se veste.

Já do horizonte, no findar da tarde,

O Sol, como um brasão de fogo que arde,

Dá-se a deitar no seio da amplidão.

A noite adentra. E ao céu se estende um lenço

Que brilha nos fulgores de um incenso,

Coroando a clara fronte do Verão.

***

III. Outono

Declinam-se as paisagens lentamente,

Tingidas de saudades e abandono...

As folhas murmurejam pelo ambiente

A prenunciarem o solene Outono!

A terra, dantes rica, agora é doente,

Tornando-se esquelética, com sono.

O Sol, cantor dos astros... É silente...

Perdeu a refulgência, o viço e o trono.

Um manto de tristeza e decadência

Velando a relva, vai, pela cadência.

Dos pulsos já cansados da estação...

E tombam macilentas, meigas flores,

Sonhando a Primavera e suas cores,

No cântico outonal da solidão.

***

IV. Inverno

Por fim, chegado o alvor das invernias

Trazendo o véu palente dos nevoeiros,

A Natureza ao término dos dias,

Curva-se em seus momentos derradeiros.

A neve cobre os campos de agonias,

Os lagos se congelam por inteiros.

E gris, faz-se a paleta de ardentias

Que outrora ungia o topo dos outeiros.

Sem ter a luz do Sol que tudo aquece,

A fauna, a flora, tudo se adormece

Nos organismos álgidos da terra.

Do tempo, em sua célere fluidez,

Volteia a roda mística outra vez...

O ciclo natural, então, se encerra.

Julho de 2017

Derek Castro e Rafael Dalle Vedove
Enviado por Derek Castro em 26/07/2017
Reeditado em 27/10/2023
Código do texto: T6065390
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