Regras Básicas do Soneto

O soneto é um poema clássico de forma fixa, ou seja, exige algumas regras atemporais. Primeiramente, deve-se ter versos divididos em 4 estrofes, sendo 2 quartetos e 2 tercetos (soneto italiano). Cada verso deve ter o mesmo número de sílabas poéticas, podendo ser de 1 a 14 sílabas:

Uma sílaba - monossílabos

Duas sílabas - dissílabos

Três sílabas - trissílabos

Quatro sílabas - tetrassílabos

Cinco sílabas - pentassílabos (ou Redondilha Menor)

Seis sílabas - hexassílabos

Sete sílabas - heptassílabos (ou Redondilha Maior)

Oito sílabas - octossílabos

Nove sílabas - eneassílabos

Dez sílabas - decassílabos

Onze sílabas - hendecassílabos

Doze sílabas - dodecassílabos

Treze ou Quatorze sílabas - bárbaros

Obs .: os sonetos com menos de nove silabas são sonoros.

Escansão (como contar sílabas poéticas):

Contam-se como sílabas gramaticais pela escrita e como gramáticas poéticas pelo som.

Ex: "camisa amarela"

ca (1) / mi (2) / sa (3) / a (4) / ma (5) / re (6) / la (7) -> sete sílabas gramaticais

ca (1) / mi (2) / sa a (3) / ma (4) / re (5) / la -> cinco sílabas poéticas

Na escansão, contou-se apenas cinco sílabas poéticas, porque geralmente, pronuncia-se "camisamarela", o que faz com que o último "a" de "camisa" se junte ao primeiro "a" de "amarela". Esta junção se chama elisão. Outra coisa que se pode notar é que na escansão, conta-se apenas até à última sílaba tônica do verso (ou seja, a sílaba mais forte, como em "amaRElo"). Por exemplo, nestes versos de Álvares de Azevedo:

"Pálida à luz da lâmpada sombria,

Sobre o leito de flores reclinada,

Como lua por noite embalsamada,

Entre as nuvens do amor ela dormia! "

A escansão é o seguinte:

Pá (1) / li (2) / da à (3) / luz (4) / da (5) / lâm (6) / pa (7) / da (8) / som (9) / bri (10) / uma.

So (1) / bre o(2)/lei (3) / to (4) / de (5) / flo (6) / res (7) / re (8) / cli (9) / na (10) / da,

Co (1) / mo a (2) / lu (3) / a (4) / por (5) / noi (6) / te em (7) / bal (8) / sa (9) / ma (10) / da,

En (1) / tre as (2) / nu (3) / vens (4) / do a (5) / mor (6) / e (7) / la (8) / dor (9) / mi (10) /a!

Elisão: é uma junção de duas ou três sílabas de palavras diferentes em apenas uma sílaba. Exemplo:

"Triste e cansado" -> "tris / te e / can / sa / do"

"triste e abatido" -> "tris / te e a / ba / ti / do"

Sempre que as vogais (ou palavras iniciadas com 'h') forem átonas (som fraco), como nos exemplos acima, elas se juntarão em apenas uma sílaba. Porém, se a sílaba que vier antes for tônica (som forte) e a que vier depois for átona ou tônica, elas não se juntarão. Exemplo:

"Vai! Não leve saudades do que deixas.

Se a fé em melhor mundo te preluz,

alma gemente, por que assim te queixas? "

(Camilo Castelo Branco)

Vai! (1) / Não (2) / le (3) / ves (4) / sau (5) / da (6) / des (7) / do (8) / que (9) / dei (10) / xas .

Se a (1) / fé (2) / em (3) / me (4) / lhor (5) / mun (6) / do (7) / te (8) / pre (9) / luz (10) ,

al (1) / ma (2) / ge (3) / homens (4) / te, (5) / por (6) / que a (7) / ssim (8) / te (9) / quei (10) )) / xas?

Repare que no segundo verso, "fé" não se juntou ao "em", porque "fé" é uma sílaba tônica.

E se a que vier antes for átona e a que vier depois for tônica, elas poderão se juntar, mas não é obrigatório. Exemplo:

"Minh'alma é a Princesa Desalento"

(Florbela Espanca)

"Mi / nh'al / ma é / a Prin / ce / sa / De / sa / len / to"

Repare que "ma" de "minh'alma", juntou-se ao "é". O "ma" é átono e o "é" é tônico. Resumindo:

ÁTONA + ÁTONA = elisão obrigatória

ÁTONA + TÔNICA = elisão facultativa

TÔNICA + ÁTONA ou TÔNICA + TÔNICA = não pode haver elisão

Obs.: no caso TÔNICA+ÁTONA, há divergências entre autores, que consideram que em alguns casos é possível a elisão, dependendo do som.

Sinérese e Diérese:

Sinérese - é uma contração de duas sílabas de uma mesma palavra em uma sílaba. Por exemplo, uma escansão da palavra "diálogo" é "di / á / lo / go". No entanto, se o autor desejar, ele poderá usar uma sinérese que faz com que a divisão fique assim: "diá / lo / go".

Diérese - é o inverso da sinérese. Por exemplo, uma divisão da palavra "sombrio" é "som / bri / o". Contudo, se o autor desejar, ele pode usar uma diérese que faz com que a divisão fique "som / brio".

A sinérese e diérese são recursos facultativos usados ​​normalmente como "licença poética"

Rimas:

Quanto às rimas, os esquemas mais comuns são:

Nos quartetos:

Opostas (ABBA):

"Saudades! Sim .. talvez .. e por que não? ...

Se o sonho era tão alto e forte

Que pensara vê-lo até a morte

Deslumbrar-me de luz o coração! "

(Florbela Espanca)

Alternadas (ABAB):

"E uma alma pura nos seus olhos brilha

Em desmaiado véu,

Como um anjo na cheirosa trilha

Respiro o amor do céu! "

(Álvares de Azevedo)

Emparelhadas (AABB):

"Mais que sombra da noite ele subiu, além;

Inveja nem calúnia, ódio nem dor também,

Nem esta pergunta que é dita, e mal, prazer,

Podem tocar ou fazê-lo mais sofrer ... "

(Percy Bysshe Shelley / Trad.: Péricles Eugênio)

E nos tercetos:

CCD / EED:

"Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa uma pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija! "

(Augusto dos Anjos)

CDC / DCD:

"Tudo é podre no mundo! Que me importa

Que amanhã se esboroe e que desabe,

Se a natureza para mim é morta!

É tempo que meu exílio acabe...

Vem, pois, ó Morte ao nada me transporta...

Morrer ... dormir ... talvez sonhar ... quem sabe? "

(Francisco Otaviano)

As rimas podem ser:

- Perfeitas (ou Soantes): quando possuir sonoridade idêntica e uma semelhança gráfica na terminação.

Ex .: Tristeza / Beleza, Coração / Solidão, Partida / Querida, Sonhar / Luar

- Imperfeitas (ou Toantes): quando uma sonoridade e / ou uma grafia na terminação são diferentes.

Ex .: Estrela / Bela, Mais / Traz, Boca / Foca, Angústia / Hóstia, Pranto / Plano

- Ricas: quando as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais diferentes.

Ex .: Lua / Tua, Sorria / Sombria, Derredor / Redentor / Também / Desdém

- Pobres: quando as palavras que pertencem à mesma classe gramatical.

Ex .: Dor / Amor, Amar / Chorar, Vento / Lamento, Delicioso / Pomposo

- Raras: aquelas que têm poucas horas entre si, e apenas por isso são pouco usadas.

Ex.:Pântanos/ Encanta-nos, Língua / Distingo-a, Tisne / Cisne, Águia / Alague-a, Múmias / Resume-as

- Agudas (ou Masculinas): quando oxítonas ou monossílabos rimam.

Ex .: Mar / Ar, Fé / Até, Só / Pó

- Graves (ou Femininas): quando paroxítonas rimam.

Ex .: Vinho / Caminho, Noite / Açoite, Sorriso / Paraíso

- Esdrúxulas: quando proparoxítonas rimam.

Ex .: Tétrica / Métrica, Romântico / Cântico, Pálido / Cálido.

- Externas: ocorre no final do verso.

Ex.:

"Embora o dia volte muito cedo

E a noite fosse feita para amar

Não mais vamos vaguear

Ao luar. "

(Lord Byron / Trad .: Péricles Eugênio)

-Internas: ocorre no interior do verso.

Ex .: "No fim da alameda

há raios e papagaios

de papel de seda. "

(Guilherme de Almeida)

Ritmo: Existem vários ritmos diferentes. No soneto, o mais comum de todos é o ritmo heroico em versos decassílabos. Um verso em ritmo heroico é aquele que tem dez sílabas, sendo que a 6ª sílaba e a 10ª são tônicas.

Ex.:

"Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida ",

(Machado de Assis)

Querida, ao pé do LEIto derraDEIro

Em que descansas DESsa longa VI / da

Outro ritmo bem comum é o sáfico, que deve ter tônicas na 4ª, 8ª e 10ª sílabas.

Ex.:

"Branca e sinistra no clarão dos círios!"

(Cruz e Sousa)

Branca e SiNIStra no claRÃO dos CÍrios!

Existem também vários outros ritmos menos comuns como Gaita Galega (4ª, 7ª e 10ª), martelo agalopado (3ª, 6ª e 10ª), pentâmetro iâmbico (2ª, 4ª, 6ª, 8ª e 10ª), entre outros.

E caso o autor queira, pode-se misturar ritmos em um mesmo poema.

Ex.:

"Como torres brancas, terminando em setas,

Onde velam, nas noites infinitas, "

(Alphonsus de Guimaraens)

O primeiro é sáfico e o segundo heroico:

As torres BRANcas, terminNANdo em SEtas,

Onde velam, nas NOItes infiNItas,

Ou mesmo em um mesmo verso.

Ex.:

"Arda de raiva contra mim uma intriga,

Morra de dor a inveja insaciável "

(Junqueira Freire)

Os dois versos são ao mesmo tempo heroicos e os sáficos:

Arda de RAIva CONtra MIM a inTRIga,

Morra de DOR e inVEja insaciÁvel

Enfim, basicamente, essas regras são métrica, rima e ritmo para serem usadas em sonetos ou poesias comuns ou outras formas fixas como a Trova, que é uma composição de apenas quatro versos, sendo que cada um deve ser obrigatoriamente sete sílabas:

"Se amor dura até a morte,

Constância eterna hei de ter;

Se amor dura só na vida,

Hei de amar-te até morrer. "

Soneto inglês (ou Shakespeariano): tipo de soneto criado por Shakespeare que consiste em 3 quartetos e um dístico, geralmente com esquema de ritmo ABAB / CDCD / EFEF / GG.

"SONETO INGLÊS No. 1

Quando a morte cerrar meus olhos duros

- Duros de tantos vãos padecimentos,

Que pensar teus peitos imaturos

Da minha dor de todos os momentos?

Vejo-te agora alheia, e tão distante:

Mais que distante - isenta. E bem prevejo,

Desde já bem prevejo ou exato instante

Em que outro não será teu desejo,

Que não tenha, porém teu abandono,

Tua nudez! Um dia hei de ir embora

Adormecer no derradeiro sono.

Um dia chorarás ... O que importa? Chora.

Então eu enviei muito mais perto

De mim feliz, teu coração incerto. "

(Manuel Bandeira)

Renan Caíque
Enviado por Renan Caíque em 07/05/2014
Reeditado em 06/02/2022
Código do texto: T4797439
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