DIFERENÇAS ENTRE O ROMANCE

 REALISTA E O NATURALISTA

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Realismo e Naturalismo foram movimentos literários de reação ao Romantismo, com os mesmos princípios estéticos (qualidades artísticas) e ideológicos. Os romancistas realistas-naturalistas acreditavam na reforma da sociedade por meio da literatura de "observação crítica" e documental. A diferença entre eles estava no tom da abordagem.

O autor realista se preocupava com a crítica da sociedade, a partir do comportamento social e psicológico das personagens; no aspecto psicológico o Realismo se torna Impressionismo, pois não se prende somente à realidade concreta, exterior e visível. O romancista penetra nos pensamentos e sentimentos da personagem, revelando a complexidade da alma humana. É o realismo interior ou psicológico, introduzido entre nós por Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), que daria origem ao chamado romance psicológico do modernismo, no qual se destaca Clarice Lispector.

O determinismo (tudo já está determinado, somos meros fantoches) tirou do autor realista muito de sua vontade de criar um mundo melhor. Transformou-o num artista conformado, acomodado (o que tiver de acontecer acontecerá). No entanto, ele retratou bem os problemas do mundo em que vivia, procurando ser rigorosamente verossímil com a realidade. Atacou criticamente a burguesia abastada, mostrando como tentaram enganar-se uns aos outros. Como lutavam pelo poder, com meios sujos, desonestos. Como fingiam amar; como traiam; como se agarravam aos bens materiais; como tinham preconceitos; como adoeciam e como morriam.

O autor naturalista estava mais preocupado em desenvolver e comprovar uma tese, isto é, compor em sua obra uma situação experimental. Daí ser muito comum no Naturalismo o romance de tese. O romancista vai mostrar que o homem não consegue vencer as forças da raça ou do ambiente (tese mais comum na época), isto é, sobrepondo-se a conduta social, está a natureza animal do homem, que o deixa levar-se por seus instintos, vícios e influências hereditárias. Não há aprofundamento psicológico; o que interessa são as ações exteriores, e não o interior e o psicológico à maneira de Machado de Assis.

Reduziram o homem a um simples animal doente (como outro qualquer), pois na doença se revelava seu lado mais animal, apenas físico, orgânico. Por isso, o romance naturalista preferia retratar as classes baixas, junto a qual é mais fácil verificar patologias sexuais e morais. Surgem as taras, doenças do instinto sexual, ao lado das doenças venéreas. Surgem descrições minuciosas de atos sexuais; temas proibidos, como o homossexualismo (masculino em O Ateneu; feminino, em O cortiço). Surgem as tuberculoses, lepras, anemias e fobias, doenças que roem as pessoas sem cessar.

É interessante explicar que essa tendência vinha misturada a outras, chamadas simplesmente de realista, ou melhor, naturalista-realista. É o caso de O Ateneu, de Raul Pompéia, pois seu romance ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas.

Reservava-se o nome de naturalista apenas para o romancista em que predomina a visão do homem como um ser bestial e degradado.

Aluísio de Azevedo, com o romance O Mulato (1881), que introduziu o Naturalismo entre nós, foi o maior representante da prosa Naturalista no Brasil.

Em Portugal, destacou-se o realista-naturalista Eça de Queiroz (1845–1900), que exerceu grande influência sobre Aluísio de Azevedo.

Os romances realistas e os naturalistas tinham em comum atacar a religiosidade, a ignorância, a aristocracia e a família burguesa hipócrita. ®Sérgio.

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Algumas informações foram retiradas e adaptadas ao texto de: Paulino, Graça; Estudo das formas e estilos literários; São Paulo, FTD, 1987.

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