MOVIMENTO PAU-BRASIL E ANTROPÓFAGO

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Movimentos Modernistas Brasileiros

O ensino da literatura despertou-me o desejo de esclarecer o sentido das Escolas Literárias. Esse assunto é de especial importância para quem se inicia nas andanças literárias em busca de conhecimentos.

Após o impacto da Semana de Arte Moderna, o Modernismo desenvolveu-se e solidificou-se com uma série de movimentos, alguns se solidarizavam, outros se opunham. O Movimento Nativista Pau-Brasil e o Antropófago representaram uma das principais tendências estéticas do Modernismo brasileiro, e o impulsionou a um compromisso maior com a brasilidade.

Oswald de Andrade, Antônio de Alcântara Machado e Raul Bopp, fundaram em 18 de março de 1924, o Movimento Nativista Pau-Brasil, com a publicação, no jornal Correio da Manhã, do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, escrito por Oswald:

Manifesto da Poesia Pau-Brasil¹ (trechos essenciais)

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. [...]

Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. [...]

A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. (Andrade, Oswald de. Obras Completas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira/MEC. 1972. v.6 p. 5)

Como se pode observar nos postulados básicos do manifesto, as preocupações principais do movimento eram: expor ao ridículo as posturas solenes, as formas gastas, a escrita empolada, a sujeição aos modelos europeus (explorar assuntos nacionais), abolir a barreira tradicional entre a poesia e prosa, valorizar a invenção e a surpresa.

Em 1928, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil é ampliado pelo Manifesto Antropófago:

Manifesto Antropófago (trechos essenciais)

Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi, that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. [...]

Queremos a revolução Cariba. Maior que a revolução Francesa.

A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. (Idem, ibidem. p. 13.)

Esse manifesto saiu no primeiro número da irreverente Revista de Antropofagia, voz da nova corrente, que, apesar da vida breve, exerceu forte influência literária. Nela publicaram trabalhos, entre outros, Carlos Drummond de Andrade, Ascenso Ferreira, Augusto Meyer, Murilo Mendes e Manuel Bandeira. A revista conheceu duas fases ou, como diziam seus criadores, duas dentições:

1ª. Revista mensal de oito páginas; publicou-se dez números, de maio de 1928 a janeiro de 1929.

2ª. Reduzida a uma página do Diário de São Paulo, tornou-se semanal, saindo 16 vezes, com algumas irregularidades, entre 17 de março e 10 de agosto de 1929. Nos quatro primeiros números trazia a epígrafe: "Órgão Do Clube de Antropofagia", trocada daí em diante por "Órgão da Antropofagia Brasileira de Letras".

No romance, Memórias Sentimentais de João Miramar, Oswald de Andrade narra em 163 capítulos relâmpagos, a história do rico paulista Miramar. Com este estilo telegráfico e com ousadas metáforas, Oswald critica a literatice e a eloquência exagerada dos reacionários. É na prática o que em teoria está expresso no Manifesto da Poesia Pau-Brasil: abolir as fronteiras entre a poesia e a prosa².

Apesar de suas conotações nacionalistas, o Movimento Antropofágico nunca se confundiu com o Verde-Amarelo ou Escola da Anta, de Plínio Salgado, cuja solidariedade rejeitou.

Em 1976, Raul Bopp escreveu: "a antropofagia não pretendia ensinar nada: dava apenas lições de desrespeito aos canastrões das letras". ®Sérgio.

Tópico Relacionado: (clique no link)

O Movimento Espiritualista - Movimentos Modernistas Brasileiros.

Movimento Verde-Amarelo - Movimentos Modernistas Brasileiros.

O Praxismo – Movimentos Modernistas Brasileiros.

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1-2 Cadore, Luís Agostinho. Curso Prático de Literatura. São Paulo, Ática. s.d., p. 382.

Ajudou também na composição do texto: Encyclopaedia Britannica do Brasil.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.

Se você encontrar omissões e/ou erros (inclusive de português), relate-me.

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 14/09/2010
Reeditado em 16/01/2011
Código do texto: T2498317