NOITE NA TAVERNA: O CONTO MACABRO

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Estudos Literários

"Um por um evocamos ao cemitério do passado um cadáver. Um por um erguemos-lhe o sudário para amostrar-lhe uma nódoa de sangue."

 

Noite na Taverna (publicada no ano de 1855), de Álvares de Azevedo, pode ser considerada uma obra de contos, apesar de haver um fio narrativo que une todas as histórias em uma única narrativa, estrutura conhecida como "contos enquadrados", dando-lhe, assim, uma unidade e o caráter de romance. São sete narrativas (contos) ou capítulos numa arquitetura parecida com Decamerão (coleção de cem histórias) de Boccaccio, em que um grupo de rapazes e moças, refugiados da peste negra em um castelo, contam suas histórias para passar o tempo.

Em Noite na Taverna cinco homens – Solfiere, Bertram, Claudius, Gennaro e Johann - reunidos à volta de uma mesa da taverna, num ambiente soturno, onde homens e mulheres embriagados dormem no chão imundo, contam suas histórias enquanto bebem e fumam. De modo que cada capítulo, após o primeiro, tem o nome de seu narrador-personagem.

O primeiro capítulo, Uma Noite no Século, começa com uma epígrafe de José Bonifácio:

Bebamos! Nem um canto de saudade! / Morrem na embriaguez da vida as dores!

Que importam sonhos, ilusões desfeitas? / Fenecem como as flores!

A seguir um narrador em terceira pessoa, faz a apresentação do ambiente. Sua função fundamental é preparar o leitor para a sequência de narrativas que virão: "Solfiere falou os demais fizeram silêncio". E se despede (por hora). Entram em cena, então, os narradores, com o foco narrativo em primeira pessoa. Por vezes, o narrador em terceira pessoa, da-se o direito de pequenas intromissões, durante as narrativas das personagens principais, para situar algumas personagens estranhas aos fatos, retomando sempre o cenário inicial: a taverna.

Excitados pelo álcool, cada um dos cinco narradores-personagens contam sua história macabra. Todas as histórias narradas envolvem trágicos acontecimentos de amor e morte, vícios e crimes. Os temas são os mais excêntricos: violência física e sexual, adultérios, assassinatos, incestos, necrofilia, antropofagia, corrupção e outros.

Levando em conta que seria de grande extensão, mesmo que resumindo, a história de cada narrador-personagem, farei apenas um pequeno apanhado do perfil de cada um.

Solfieri é primeiro a narrar sua história. Ressalta, entretanto, não se tratar de um conto, mas de uma história verídica, uma lembrança do passado. Ele é um jovem boêmio e alcoólatra, filho de um conde banido e de uma prostituta. Solfieri faz tudo para alcançar o amor de uma mulher, cataléptica e depressiva.

Bertram é o segundo a se aventurar. Pergunta aos outros se eles sabem que uma mulher o levou a perdição. Apaixonou-se por Ângela, uma mulher agressiva e voraz. Por ela influenciado, Bertram experimentou a devassidão do jogo, as noites de orgia e matou três amigos em duelo. Entretanto, ela o abandonou. A partir daí, tornou-se um ser obscuro e cheio de vícios, causando a sua própria decadência, pois antes de conhecê-la era rico (herdara a fortuna do pai).

Gennaro era um pintor cínico que não ligava a mínima para o sentimento dos outros. Melancólico por não poder esquecer seu grande amor, Nauza, linda, vaidosa e filha de seu mestre.

Claudius Hermann o poeta engajado, era muito rico e gastava seu dinheiro em corrida de cavalos e orgias. Não se importava com a desonra, nem com o adultério. O que lhe importava era ter a sua amada, Eleonora.

Johann era um boêmio obsessivo. Desonra a própria irmã e mata o irmão, sem saber.

E por fim, Último Beijo de Amor, finalizado a obra: "Tudo cessara. As pessoas dormiam na taverna. Uma claridade entrou pela porta que se abriu. O lugar iluminou-se pela luz pálida de uma lanterna trazida por uma mulher. Procurava por alguém. Aproximou-se de Arnoud e fez um gesto para beijá-lo; desistiu e continuou a procura até que iluminou o rosto de Johann. Ela abaixou-se, colocou a lanterna no chão, curvou-se sobre ele e passou-lhe a mão na garganta. Um soluço rouco e sufocado ofegou daí. Ao levantar a mão, a luz refletiu a lâmina de um punhal. Era a irmã de Johann, Giorgia.

Giorgia a prostituta vingou nele Giorgia, a virgem. Esse homem foi que a desonrou! Densorou-a, a ela que era sua irmã!

É bom que se diga não ter, Noite na Taverna, nenhum vínculo direto com as vivências de Álvares de Azevedo. É uma obra puramente imaginativa. Significa uma ruptura com os valores da sociedade vigente. Afrontando o racionalismo burguês. Talvez não seria sem razão dizer que  ele registrou em cada uma das personagens de Noite na Taverna, seus sentimentos, seus sonhos e seus desejos.

A literatura macabra encontrou poucos adeptos entre nós. Além de Álvares de Azevedo, desenvolveram-na ou tiveram relação com ela os simbolistas, Cruz e Souza, Alphonsus Guimaraens e o pré-modernista Augusto dos Anjos. No entanto, o macabro, o gótico tem encontrado em todas as épocas quem o admire e cultive, principalmente entre os adolescentes e jovens. ®Sérgio.

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Informações foram extraídas e adaptadas ao texto de: Sylmara Beletti e Frederico Barbosa: http://fredb.sites.uol.com.br/taverna.html / Willian Roberto e Thereza Anália, Português: Linguagens.

Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura.

Se você encontrar erros (inclusive de português), relate- me.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 23/02/2007
Reeditado em 15/07/2012
Código do texto: T390241