FÉ I

QUEBRA-PEDRA

Dias, dias que fé não remove dor

Não supera a solidão da insolução

Não balda a realidade, enfeita

Tampouco ocupa os calhaus

ou a rocha nua.

Ela se cala exata, escondida

Quando recai a receança crua

Sobre a ferida já tão bulida

Que nem o verbo pode expiar

No papel tal sobrecarga

Que a fé tanto embalou

Numa realidade não cabida

Na vida que sobejou.

Eis que emerge da profundez

A descrença nunca acarada

E num momento de sensatez

Vê-se a fé movendo nada.

Soaroir

24/04/06