UM NOVO PENTECOSTES

Nos tempos de Cornélio (Actos 10) o mundo estava dividido em dois: o mundo judeu e o mundo gentio. Os judeus, como povo de Deus, consideravam-se superiores e julgavam que a revelação e a graça divinas eram destinadas exclusivamente a eles. Assim, tratavam os gentios como seres imundos, pagãos, indignos, e não se misturavam com eles. Viviam num mundo à parte. Havia como que uma barreira, uma “parede” de separação que os afastava deles.

Jesus veio. Como homem era judeu. Mas era também Deus e, como tal, viera ao mundo identificar-se não só com os judeus mas com todos os homens. A todos veio salvar, e foi por amor da Humanidade inteira que morreu e que ressuscitou. Ele veio desfazer barreiras: "De ambos os povos fez um, derribando a parede de separação que estava no meio..." (Efésios 2,14).

Anteriormente: mundo judeu - mundo gentio.

Agora: um mundo apenas.

Com Cornélio foi feita a experiência piloto, o arranque inicial, a reconciliação de dois mundos pela cruz de Cristo. Vejamos: Deus comunica-se a Cornélio e a Simão Pedro. Deus vai ao encontro deles para levar a efeito o Seu propósito.

Cornélio era um gentio distinto, um cidadão romano, capitão da chamada “coorte italiana”, guarda-avançada do Império em terras da Palestina. Era um militar, um representante da autoridade terrena dominante. Ele personificava bem o mundo gentio.

O que parece estranho é o facto de aquele homem gentio ser piedoso e temente a Deus, um homem espiritual. Seria ele já um prosélito do judaísmo? Fosse como fosse, e apesar de todas as suas qualidades, ele precisava de Jesus. As esmolas que dava não eram tudo. A oração que fazia era apenas um primeiro passo. Um primeiro passo porque a oração põe-nos em contacto com Deus. E ali estava Cornélio orando, em jejum, às três horas da tarde. Ele buscava a Deus. E Deus se-lhe revelou através de Pedro.

Ao meio dia, estando Pedro a orar num terraço, teve fome. E, num êxtase, viu descer do céu comida: carne de diversos animais. E uma voz lhe dizia: Mata e come! Mas eram animais imundos! No entanto, Deus lhe disse: Não faças tu imundo ao que Deus purificou!

Qual o significado desta visão? Que queria o Senhor dizer a Pedro? A resposta não se fez esperar. Vêm os emissários de Cornélio, e o Espírito diz a Pedro que vá com eles. E ele vai. Vai, apesar de todos os preconceitos, pois ele sempre tinha pensado que o Evangelho era também monopólio dos judeus e que os gentios não tinham acesso ao Reino de Deus. Mas... não faças tu imundo ao que Deus purificou!.

Ao chegar, Cornélio lança-se a seus pés, mas Pedro diz-lhe: "Levanta-te, porque eu também sou homem!" E começa a explicar: "Vós bem sabeis..... isto não é lícito". (vr.28) "... mas Deus mostrou-me".

Ah grande Pedro, que é capaz de passar por cima da tradição e de sufocar o preconceito secular, só porque Deus lhe mostrou que isso estava errado !

E Pedro contou. Contou como Deus se-lhe tinha manifestado, no terraço, em oração. E concluiu: "Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas". Esta era a grande verdade nova: não há favoritismo, não há segregação. Oportunidades iguais para todos, tratamento igual para todos.

A raça não conta. Nem o passado, nem a família, nem o dinheiro ou a posição social, nem a profissão ou a cultura. Deus ama a todos sem distinção.

Finalmente Deus integra novos homens no Seu Reino. O anúncio do Evangelho foi feito com clareza: incluía a morte expiatória de Cristo, a Sua ressurreição e o apelo à fé para perdão de pecados.

E mais uma vez Deus interveio. Houve conversão de almas. Cornélio e os que com ele estavam, abriram-se para Jesus, e o Espírito Santo entrou neles dando um sinal que constituía um prolongamento do Pentecostes: falaram línguas glorificando a Deus. Era o início duma nova era, a abertura da porta aos gentios. Havia que selar este acontecimento, integrando-o no plano universal de Deus.

As línguas do Pentecostes (Actos 2) são um sinal de que o Evangelho é para todos os povos, de todas os idiomas. Isso devia ficar ali bem patente. Não foi um novo Pentecostes mas uma extensão ou ressonância desse facto histórico que foi a descida do Espírito Santo. Se houvesse ainda alguma dúvida, ter-se-ia dissipado.

O Senhor estava a aceitar aqueles gentios, primícias de muitos outros, no Seu Reino. E foram baptizados (baptismo da água), como exteriorização simbólica dessa grande realidade espiritual que é o baptismo do Espírito Santo.

Foram quatro dias decisivos: oração, visão, testemunho, conversão, baptismo.

Afinal, Cornélio somos também nós. O Evangelho é para nós. Para os gentios. E Deus vem ao nosso encontro.

Mas Pedro, somos nós também. Nós, testemunhas de Cristo, dependentes de Deus em oração e acção, sensíveis e flexíveis à vontade do Senhor.

E se o não somos ainda, sejamo-lo a partir de agora.

Leiria, Portugal

Orlando Caetano
Enviado por Orlando Caetano em 28/10/2006
Código do texto: T275832