Contos nublares #104: O CHIP (Ficção)

Foram longos anos de pesquisas, mas enfim se conseguiu. O biochip ALLINONE é uma realidade.

Foi desenvolvido com a mais alta tecnologia disponível acrescido de técnicas e tarefas jamais antes idealizadas. Suas principais características:

1. 1000 micra³ (micrômetro cúbico) de volume, revestido com PRODNAGEN de última geração;

2. 2 neurônios animais com firmware pré-instalado de altíssima complexidade, permitindo operações científicas de precisão;

3. Tecnologia wi-fi que permite infinitas possibilidades de uso interligado via GPS com um computador central, instalado fisicamente numa ilha não catalogada do Pacífico Sul.

4. Rotinas de HDTV, telefonia celular, super-chat, dicionários das mais diversos idiomas codificados existentes no mundo;

5. Cursos instantâneas de idiomas sem mestre em auto-ensino passivo;

6. Formatador cerebral para armazenamento em massa cinzenta das áreas ainda não utilizáveis no cérebro humano estimado em um milhão de Yottabytes;

7. Provido de rotinas de banco de dados superestruturado;

8. Interface para armazenar futuras rotinas e novas tecnologias;

9. Sistema operacional OPTIMUS open-source, de código aberto de última geração, com BIOS atualizável;

10. Inteligência artificial autoprogramável retroalimentada de tecnologia de ponta.

Agora, a tarefa mais difícil e mais completa, mas como divulgar e convencer as pessoas a se deixarem implatar o chip? Ter-se-ia de promover uma campanha publicitária mui convincente, afinal, havia uma ideia bíblica milenar que bloquearia de cara todos os cristãos, pois a Bíblia severamente os adiverte sobre uma marca que seria impressa ou implantada com um sistema de controle total para que ninguém pudesse comprar ou vender coisa alguma sem a tal marca integrada ao seu corpo.

O pior é que a tal marca seria implantada ou na mão direita ou na testa como sinal de submissão plena ao Sistema de Controle Total da Nova Ordem Mundial, a mesma instrução sugerida pela equipe de desenvolvimento do biochip ALLINONE. Como contornar esse bloqueio? A única solução é aparentemente mudar a maneira de implante do chip. Este seria implantado na base do etmoide, osso interno da face o qual compõe, em conjunto com o esfenoide, a sela túrcica, onde repousa majestosamente a Pituitária, glândula importantíssima que gerencia todo o sistema endocrinológico de nosso organismo.

Ao ser implantado, uma pequena descarga elétrica é induzida no biochip para o ativar. Uma reação bioquímica é processada. Pequenos tentáculos suavemente contornam o etmoide num aparente cordial abraço de tamanduá e se prolongam até a Pituitária e desta, para a glândula Pineal até então subutilizada, na região popularmente conhecida como o 'olho de Orus'. Aos poucos vai assumindo o controle dessas, digamos, hospedeiras com aparente inocência inofensiva. Neste ponto, se estabelece uma interface entre o biochip, o hipotálamo e o córtex cerebral. Quando isso ocorre, o controle central do cérebro está apto a receber instruções do biochip e um menu interativo e indutivo entra em ação e, silenciosamente, começa a interagir. Soa até como se fosse uma ideia ou pensamento do próprio indivíduo, mas é apenas o programa entrando em funcionamento a controlar a mente do implantado. O implante é via intranasal em ambiente ambulatorial. Uma vez instalado, é humanamente impossível sua remoção.

Próximo passo, a campanha midiática. Uma empresa publicitária é contratada. Cerca de 20 indivíduos entre homens e mulheres, de todas as etnias são selecionados para participar desse projeto. O perfil desse grupo é de pessoas com graves problemas de saúde mental, baixa cognição, dependência química de diversas drogas, presidiários com prévia permissão judicial.

Um clipe de dois minutos mostra, de forma convincente, a abordagem, seleção, paciente pós-implantados totalmente transformados tanto intelectual quanto mental e socialmente. Um resultado impactante. Em seguida, uma breve descrição do chip e seus benefícios. Afinal, quem não gostaria de poder se tornar um gênio instantaneamente? É uma proposta irresistível!

Um 0800 é disposto na base da tela do reclame e imediatamente, muitos voluntários se inscrevem para o implante gratuito de um milhão de chips. Todos querem ser os primeiros a experimentar tão inovadora e promissora tecnologia.

O reclame, de forma mui criativa e convincente, expõe as vantagens do chip: melhoria da memória e inteligência; capacidade de raciocínio e retensão de conhecimentos ilimitada; crédito instantâneo de US$ 10.000,00 mensais de 12 meses a fundo perdido; prevenção de saúde; curso gratuito instantâneo de língua à sua escolha, telefonia telepática e muitas outras vantagens a serem divulgadas nas próximas campanhas publicitárias.

Mas o que está por trás dessa campanha, não está explícito. O Sistema Central visa com tudo isso, o controle total da humanidade. A médio prazo será decretada uma lei mundial rezando que ninguém poderá comprar, trocar ou vender sem o implante do chip. Todas as informações do indivíduo estão armazenadas neste dispositivo. O acesso dessas informações confidenciais pelas autoridades e detentores dessa tecnologia é de forma compulsiva, não restando qualquer opção por parte do portador de as fornecer ou não. São coletadas instantaneamente sempre que o portador passe próximo a um dispositivo coletador de dados. Em questão de segundos, alguém pode ser rastreado e localizado. Se for algum foragido, procurado pela Justiça, pode ser capturado imediatamente.

O chip é algo que mais ninguém ignora sua existência. Volta e meia, a mídia veicula sua importância e aconselha o seu implante. Muitos governos incentivam o uso. Há muitos chipados circulando livremente entre nós. A Bíblia nos adverte sobre essa marca. Não caia nesse engodo! Não seja idiota funcional! Diga não ao implante do chip!

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Observações:

ALLINONE – tudo em um.

PRODNAGEN é uma substância natural encontrada numa mina, próxima à cascata encantada, na Serra das Virtudes, região montanhosa de Onirópolis. Tem a capacidade de absorver o DNA do ser implantado. Funciona basicamente como células troncos.

Isto é uma ficção.

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Artigo em construção e constante revisão.