Sabedoria de velho seco

Através do vidro, nada se enxerga. Um ser infeliz decidiu que paisagens são inúteis, pintando-as de escuro. Não tive chance de conversar com tal indivíduo, incomodado por aquilo que não incomoda. E, se estou generalizando, tento concertar: a mim, pelo menos, não perturba a desculpa paisagística para seguir em frente.

Decidi viver nessa ilha porque vislumbrar meu mar faz os joelhos tremerem, tanto que coloco a intimidade no gigante e trato as articulações que recebem respingos de mijo como instrumento qualquer. Por conseguinte, estou emputecido com esses ingratos vidros escuros. Cinco minutos! Durante cinco minutos de viagem, sou privado do meu ente querido.

Câncer de pele? É o preço de poder expandir meus horizontes? Então, terei câncer. Caso fosse cego? Ora, talvez houvesse aprendido a não depender do oceano, mas a fim de que inibir-me-ei dessa enorme felicidade que é ser fiel ao mar se possuo olhos de águia e olhar de romântico?

Não foi repentino. De maneira alguma, precisei refugiar a visão para a paisagem antes dos vinte. Depois da data par e ímpar, também não cortei logo, nem efetivamente meu nó atado aos bípedes.

Todavia, no curto passado que é o presente, percebo uma felicidade perene; a encharcada. Ainda pensaria noutra trapaça à sobrevivência, se existisse entusiasmo substituível a acreditar morrer antes da razão de estar vivo.

Desconheço, vidro estúpido.