outro tempo chegou

Há muitas quinquilharias guardadas em gavetas que precisam de limpeza. Com que produtos se limpa as gavetas da alma? O que antes parecia saudade, arde agora como outra ferida não cicatrizada. Ansiedade por um novo tempo, onde nem tudo seja a incerteza presente, em que pese um ar mais limpo. Não sei bem o que hoje mareja meu olhar perdido, sei que antes disso não esperava por nada. Agora, tudo. È tempo de amadurecer e os aprendizados são muito difíceis, pois carregam não mais suposições, mas sim verdades. As verdades estão maduras. É hora de colher. Neste momento aparece uma outra complicação. Sem as ferramentas certas, um descuido pode fazer com que as certezas se desmanchem no meio das mãos. Certezas podem ser frutas delicadas e é preciso ter a coragem de dizer não àquilo que desejamos. Explico. Às vezes o desejo é um presente ambíguo. Traz prazer e dúvida e corre à nossa revelia. Certamente pode-se desejar um outro de uma forma diferente da que o outro nos deseja e esse desejar desencontrado fere mais que o encontro. Escolhamos, pois, a solidão. Apesar de tristes, certas verdades consolam, como quando temos certeza da morte de alguém desaparecido. Quero que você me queira da maneira como eu quero, mas você não quer essa maneira. Hora de pegar um ônibus e sumir do mapa, hora de conduzir meu carro pelo deserto até que uma hospedagem simpática se apresente. Hora de amargar de novo aqueles momentos de dor e de insônia, momentos de vinho e de fel e de temores noturnos. Hora de esquecer você. Cessaram as cogitações e as hipóteses, cessou aquela esperança juvenil e instalou-se uma maneira real e adulta de olhar a vida. Convenhamos, nossos sonhos podem simplesmente não acontecer. Pode ser que simplesmente não seja assim, pode ser que a vida tenha mesmo me feito a gente só.

Jan Morais
Enviado por Jan Morais em 29/04/2010
Código do texto: T2226851
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