CONTOS REFLEXIVOS DO ANDARILHO A MULTIPLICIDADE NA UNIDADE.

O ser que vaga na multiplicidade de tempo e de vidas segue seu caminho por uma terra em transformação, a busca por novas histórias são uma forma de reflexão em um mundo que necessita de aprimoramento.

Pois os seres só veem aquilo que lhes interessa, desprezando aquilo para que veio, as discussões são banais se restringindo ao cotidiano, o desprezo pelo passado isola os seres em mundos pontuais.

Às vezes esquecemos que não estamos sozinhos neste multiverso que se expande por mundos e tempos paralelos, somos seres que atravessam as multividas sem guardarmos nada em nosso cérebro.

Mas nossa história está encerrada no cerne de nossa alma, e não em um cérebro de sangue e fluidos corpóreos, nossas falhas sempre procuram algo que não está em nós mesmos, usamos os outros como escudos de nossas falhas.

Nossa vida segue de fragmentos que às vezes julgamos sem razão, mas a realidade dos multimundos precede nossa existência, não temos uma história única, pois muitas coisas ocorrem em lugares distintos e tudo nos afeta.

Somos a resposta do contexto ao qual estamos inseridos, vagamos dentro de nós mesmos em busca dos sentidos que conectem acontecimentos variados em corrente continua.

O andarilho anda e conversa consigo mesmo, a caminhada e solitária mas a solidão e temporária pois a missão de quem reagrupa múltiplas existências e algo que não tem uma explicação convincente no mundo da razão.

A tarde desponta no horizonte, o andarilho busca em sua volta um abrigo para passar a noite, quando de repente para ao seu lado um caminhão Chevrolet anos 70 com aspecto de peça de ferro velho.

E um caminhão que transporta boias frias cortadores de cana, todos riem após um dia quente e longo, uma fuligem preta cobre os corpos daquela gente humilde e alegre.

O andarilho sobe no caminhão, sem saber por que, mas e a única opção de abrigo em meio ao nada, pois nem cerca tem naquelas terras, e onde a vista alcança não se vê nada nem árvores para proteção noturna.

Menos de 40 minutos chega se ao acampamento, o ambiente e muito humilde, não tem lugar nem para sentar, e as camas são improvisadas.

Os peões descem para um açude de agua barrenta, tomam banho e sobem para preparar a janta, e um pirão de carne seca e mandioca, mas cheira bem.

Após a janta todos se reúnem em volta da fogueira, a viola canta sozinha tudo embalado pela alegria, as músicas contaminam todos, eles parecem não lembrar do dia quente e do trabalho duro.

Os causos invadem o imaginário coletivo, as histórias parecem reais, até que Zé Paraíba começa uma história do princípio da colonização do brasil, e vira para o andarilho e pergunta.

To mintino viajante, ocê táva lá.

O andarilho se arrepia e se faz de desentendido.

O Zé vira para ele e diz.

Eu lembro do sinho, sua image nunca me fugiu da mente, ja fais uns quatocento ano mas num ti isqueso.

A luz da fogueira muda o brilho, o fogo não e mais amarelo, e quase que um branco transparente.

Zé Paraíba fala ao andarilho.

O sinho era fio do dono da fazenda, e quem cuidava dos escravos fujão, i eu dava trabaio, mas o sinho não dexava eu i po tronco.

O andarilho fica perplexo, e sente como que já conhecesse aquele ser, sua voz, seu jeito de falar.

O andarilho se vira para o homem e diz.

Continue a história, estou aqui para te ouvir.

O sinho era fio de portuguêis, e eu era escravo, todos gostavam do sinho, a noite na foguera o sinho saia da casa grande e ia pra perto da senzala iscuta eu conta as história.

O sinho era querido, e depois da morte do seu pai o sinho assumiu a fazenda e ajudo muita gente, compro fio de escrava qui foi vindido pros otro, a cumida mioro e nois feis casa di adobro cum fugão di lenha dentro.

Eu sou muitos dentro de um só, sou múltiplos seres em evolução continua na consonância do pluriverso.

O andarilho sabe no seu intimo que tudo faz sentido.

Quando o estranho vê a aflição do andarilho lhe diz.

Se acalme homem. Quem está me escutando e só você, pois estou aqui para guiar os mais fracos e trazer paz a almas em evolução.

O andarilho se arrepia, e sente que o paralelismo existencial prorrogou aquele ser no tempo, pois a carne mudou, mas as experiências vividas outrora permaneceram na mente daquele do antigo e eterno escravo, a pele mudou o homem, mas o homem não abandonou o que ficou impregnado em seu espirito.

O andarilho olha fixo para o homem esperando encontrar um ponto de conexão, o homem continua calmo e sereno contando sua história.

Aqui todos devem, mas eu faço pela caridade suprema dos seres que buscam um redirecionamento cósmico, sei que falhas são a única forma de se readequar no deslocamento em direção a luz suprema.

A luz vaga em velocidade intercósmica, não sente as barreiras, não envelhece, não se sobrepõe, ela apenas cria a sombra que se movimenta em passo lento na continuidade das múltiplas vidas e criando laços que se transmutam dentro de si mesmo.

O ser que e, já não o e, pois não existem variantes de um só corpo, o ser o e, mas não sabe do que já foi, isso e o princípio da evolução cósmica, nosso passado e apenas lembrança e caminho.

Pois se vivêssemos a sombra do passado não teríamos que buscar a luz, o ciclo já estaria fechado, e o ser se conformaria na estaticidade do momento presente.

As variantes da mente guiam o corpo pela esfera terrestre, por isso mundo real e mundo paralelo às vezes se misturam e o ser se perde dentro de si mesmo indo parar no hospício da incompreensão humana.

Louco e aquele que foge ao princípio da alteridade, pois o outro e extensão de mim mesmo, o corpo passageiro em um espirito transmutacional, não e fácil lidar com a vida real pela incompreensão dos companheiros de jornada.

Pois todos somos um em uma vida de segmento conjunto, pois sozinho não tem como evoluir, necessitamos do outro para nossa completude.

O andarilho vibra em uma frequência que foge aos padrões da própria razão, aquele que se doa ao coletivo cria uma onda energética fragmentada, pois o outro e a razão de eu estar aqui.

E no seu interior busca um entendimento com a mente do outro, e assim começa a refletir as palavras que penetraram o íntimo do seu ser.

As pessoas entram em nossa vida pela nossa necessidade de desenvolvimento continuo, não devemos excluir os ruins e sim entender o significado de cada um em nossa vida, e somente após o entendimento necessário e que afastamos ou aproximamos.

A cada problema devemos buscar múltiplas vias de acesso, pois mudanças ocorrem ao nosso redor e em nós mesmos, e o aprendizado e cumulativo, para a vida além da vida.

E uma construção multiplanica, planta se onde está, mas a colheita supera o tempo, o fracasso ou a vitória do hoje atravessa o tempo e as vidas, e os reflexos geram ônus ou bônus nas correntes dos multimundos ao qual galgamos no amanhã da eternidade.

Se vivemos no amanhã do ontem, o futuro e fragmentário, somos nós mesmos em uma multiplicidade temporal da colheita da vida, tudo se entrecruza, e a barreira do ontem e a escada do amanhã.

E como se ficássemos indo e voltando em uma mesma realidade, só que em tempos diferentes, onde um mesmo ser transmuta-se em si mesmo, com o comportamento seguindo uma realidade fantasiosa, agindo somente naquele que faz dos seus devaneios sua realidade mutante.

O andarilho percebe que todos os outros seres que estão ali são apenas figurantes no cenário da vida, pois a história que se desenrola ali e algo vindo de uma continuidade existencial.

A vidada faz com que certos acontecimentos ocorram para que possamos repensar o impensável, pois o passado esquecido de outros tempos se faz necessário para nossa continuidade cíclica.

Mesmo que não saibamos o porquê devemos aceitar os acontecimentos com resiliência, pois os acréscimos do banco da vida nos leva a renegociar dívidas que supomos não serem nossas.

E assim a noite segue ate que o cansaço tome conta dos copos carnais, cada um procura seu local de repouso e a vida segue igual para todos.

O dia amanhece e o andarilho se vê novamente dormindo a beira da estrada, a mente vaga entre o real e o imaginário, o sonho e a fantasia, e mesmo que não exista em um mundo real os acontecimentos se deram em algum ponto de reconexão.

E assim a vida segue entre experiências em mundos paralelos entre sonhos e passagens subjetivas e intersubjetivas, e sendo da forma que for so vem a somar no eu transcendente das multividas.

O livro contos reflexivos do andarilho do pluriverso se encontra pronto, aguardando editora para publicação.

Paulo César de Castro Gomes.

Escritor, Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência superior pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós graduado em Criminologia e Segurança Pública pela Universidade Federal de Goiás. (E-mail. paulo44g@hotmail.com)