A TRISTE ILUSÃO DA PEREGRINAÇÃO AO LESTE EUROPEU

135 – A TRISTE ILUSÃO DA PEREGRINAÇÃO AO LESTE EUROPEU

Ainda recordamos com prazer as emoções que nos proporcionaram a peregrinação aos santuários marianos europeus, em abril de 2014.

Temos guardados nos escaninhos da memória as paisagens, as igrejas, os dias de sonho, e, principalmente, as amizades que fizemos!...

Rememoramos com saudade cada passeio realizado, cada visita, tudo programado com inteligência, onde se destacava a boa organização.

Infelizmente, nessa viagem de setembro/2015, que fizemos com a mesma empresa, as grandes falhas desiludiram o sonho de felicidade.

Sem dúvida, cinco mil, quinhentos e sessenta euros que cada peregrino pagou, sem almoço e opcionais, constituiu-se uma exorbitância.

Tiveram início nossos dissabores quando a agenciadora da viagem cancelou, ao seu exclusivo critério, o passeio de barco em Dubrovnik.

Evidentemente que sabíamos tratar-se de opcional, como ela comunicou grosseiramente, mas gostaríamos de fazer o passeio programado.

Inteirados do severo regime disciplinar que nos havia sido imposto, restava-nos cumprir a peregrinação que nos propúnhamos realizar.

Logo no início da viagem, saímos de Zagreb em direção a Sarajevo, a sofrida capital da Bósnia, severamente castigada pelas guerras.

Uma cidade triste, com quase todos os prédios perfurados por balas, demonstrando os horrores provocados pela selvageria dos homens.

Seguimos então para Medjugorje, onde minha revolta se exacerbou, ao ver que a Santa Igreja permite a exploração dos pobres crédulos.

Ao assistir ao triste espetáculo proporcionado por idosos e deficientes, no íngreme caminho de cascalho e pedras, fiquei decepcionado.

O desejo de obter uma graça, devido ao sacrifício empreendido, submetidos aos riscos de quedas, necessita já ser revisto pela Igreja.

Desejaria que a Igreja Católica interviesse nas paróquias que cedem espaço para empresas que fazem propaganda enganosa de produtos.

Afinal, considerando o preço pago, o mínimo que exigiam os peregrinos era que se lhes fosse permitido rezar no local das aparições.

Porém, o extenso programa a ser cumprido frustrou as expectativas, a despeito de termos sido atraídos para realizar uma peregrinação.

Em seguida, dirigimo-nos a Dubrovnik, a pérola do Adriático, e outra decepção nos aguardava, apesar do maravilhoso Hotel Radisson.

Realmente, a despeito da bela paisagem, de frente para o mar, para alcançarmos nossos aposentos teríamos que subir íngreme escadaria.

Evidentemente que em excursão de adolescentes, tal fato constituiria uma atração, mas saliente-se que a maioria era de sexagenários.

Gozar as delícias das varandas frente ao mar era o desejo dos peregrinos, não fora o risco de desastradas quedas naquelas escadas.

Rumávamos para os respectivos apartamentos, bem distantes da recepção, conduzindo nossas maletas, quando aconteceram as tragédias.

Imbuídos dos melhores propósitos, curados das feridas, seguimos para conhecer Salzburgo, e, posteriormente, a deslumbrante Praga.

Na excursão do ano anterior, conhecemos Paris e agora nos deparamos com um dilema, qual seja, qual das duas cidades é a mais bonita?

A bela Paris nos remete ao passado, ao tempo dos reis e rainhas, aos castelos, enquanto Praga nos delicia com sua majestosa arquitetura.

Considerando que já conheço Rio de Janeiro, Nova Iorque, Paris e Praga, o que mais poderia desejar dessa deliciosa vida terrena?

A conversa está muito boa, mas não devo me distanciar do objetivo deste Acróstico, qual seja, denunciar os graves erros dessa agência.

O principal deles, sem embargo, decorreu do distanciamento entre os peregrinos e a responsável, acometida de soberba, forte arrogância.

As queixas iam se avolumando, a cada dia, transformando um caro investimento em lazer e crescimento espiritual em um aborrecimento.

O que facilmente se constata, após a triste experiência, é que melhor faríamos se tivéssemos decidido fazer o roteiro livres da agência.

Logicamente que, por conta própria, teríamos visitado as Minas de Sal, que muitos desistiram, influenciados por aterradoras ameaças.

Embora as tragédias anunciadas constituíssem propaganda enganosa, a agência jamais devolveu os euros que pagamos pelo ilusionismo.

Sem embargo, a visita ao campo de concentração e extermínio de Auschwitz constituiu-se o ponto relevante daquela dramática viagem.

Tivemos a oportunidade de entender, naquele lugar, que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, tem sua malignidade.

E essa criatura maléfica que habita em cada um de nós pode emergir à superfície, se não estivermos imbuídos de princípios cristãos.

Estamos ainda estarrecidos com bárbaros assassinatos de pessoas inocentes, praticados por terroristas em Paris, que consternou o mundo.

Um ato absolutamente bárbaro, que mostra a malignidade do ser humano, somente comparável às atrocidades praticadas em Auschwitz.

Realmente, apesar do esforço que a humanidade empreende para apagar aquilo, o mal que habita em nós aflora, sempre que possível.

O homem enfrenta agora um inimigo imbatível, posto que impregnado do desejo de matar, mesmo que em sacrifício da própria vida.

Porém, voltemos ao tema deste Acróstico, relativo a agências que vendem programas caros, sem a preocupação com a organização.

E aproveitamos a oportunidade para lembrar que, conforme narram os quatro evangelhos canônicos do Novo Testamento, que lemos,

Uma vez, aborrecido pela insistência dos ambulantes, Jesus expulsou os vendilhões do templo, em virtude de suas práticas comerciais.

João Augusto Maia Gaspar

Em 20.11.2015