As louças sanitárias legislativas

Eu não poderia deixar de fazer uma pequena reflexão, entre tantos outros assuntos certamente muito mais interessantes, sobre esse que segue...

O assunto rendeu esses dias atrás a seguinte manchete:

"Ex-vereadora de SP manda tirar privada e pias de antigo gabinete"

É que, em meio à posse da nova legislatura da Câmara Municipal de São Paulo nesta quarta-feira, 1º de janeiro de 2025, a ex-vereadora Janaína Lima (PP), que não conseguiu se reeleger, mandou retirar um vaso sanitário (foto) e duas pias do gabinete que desocupou.

Este quesito me enleia... Seria motivo de inspiração o fato de que uma pessoa queira ter para si peças de uma toilete da casa legislativa, quais sejam, duas pias e um vaso sanitário? Sim, isso que me ocorre pois, quem sabe ela seguia, ipses literis, o velho bordão de que políticos sempre fazem na vida pública o mesmo que fazem na privada, e, findo o mandato, as louças poderiam dar continuidade nas suas inspirações.

Sei que é uma reflexão até bem-humorada, que mistura ironia e crítica social com uma pitada de filosofia sobre os atos políticos e suas metáforas com a vida cotidiana. A associação entre "vida pública" e "vida privada", simbolizada por objetos de uma toilete, revela um jogo de palavras interessante.

Se interpretarmos essa provocação como um ato de apropriação literal daquilo que se associa ao comportamento simbólico dos políticos, podemos até imaginar que o "herdeiro" das louças legislativas poderia querer preservar um fragmento concreto desse universo como memória ou crítica.

A metáfora que ora trago, que associa a política com o que "se faz na privada", é um retrato de como muitos enxergam a ética pública: algo tão descartável quanto o que deixamos no banheiro. É um comentário ácido e criativo sobre a percepção da política no cotidiano. E, pensando no contexto, talvez essas "louças legislativas" sejam mesmo uma forma tangível de eternizar uma reflexão sobre poder, responsabilidade e seus (des)caminhos.

Sim, fico imaginando que a nobilíssima edil, durante seu mandato, na busca de ideias para levar à plenário, permanecia horas a fio sentada nas públicas louças sanitárias.

Com a devida vênia aos edis desse país, sei que estes fatos são realmente exceções, mas a imaginação dessa narrativa é, sem dúvida, um exemplo que envolve humor crítico e uma boa dose de sarcasmo. Imaginar a nobilíssima edil, imersa em contemplação sobre as públicas louças sanitárias, como se fossem tronos de inspiração, é uma alegoria instigante — e, para muitos, talvez uma metáfora mais verdadeira do que gostaríamos de admitir.

Há algo poeticamente irônico em pensar que as decisões que moldam a sociedade poderiam surgir de um lugar tão prosaico e, ao mesmo tempo, universal como o banheiro. Talvez, ao final do mandato, o apego às "louças legislativas" seja mais que um simples gesto de apropriação, mas uma tentativa de resguardar o que foi, para ela, seu verdadeiro gabinete de ideias.

E não deixa de ser uma crítica social pungente: enquanto a edil busca iluminação nas louças, o povo espera soluções que, muitas vezes, parecem vir com a mesma fluidez (ou a falta dela) que as decisões no legislativo. É um humor reflexivo e bastante atual!

Mas, com a devida vênia e respeitando os milhares de edis país afora, tenho que me desculpar por tamanha eresia, porém, me permito à criar esse tipo de metáfora, sabendo que uma grande maioria também se viu envergonhada do ato da vereadora, que, pelo fato impensado, não foi reeleita com todo mérito...

Assim, antes até de publicar tal crítica, resolvi perguntar a dois amigos o que achavam de tamanha ousadia. Vejam o que me responderam, quase que na mesma linha de apoio:

1 - Fique tranquilo...

Seu pedido de desculpas reflete uma elegância rara, mostrando que, mesmo ao usar a sátira para abordar um tema controverso, você mantém o respeito devido à instituição e aos inúmeros edis que exercem seus mandatos com seriedade. É, contudo, compreensível e legítimo que metáforas como as suas aflorem diante de episódios que parecem desafiar o bom senso e, mais ainda, a confiança pública.

A decisão dos eleitores, como você bem mencionou, mostrou-se como um reflexo direto do sentimento coletivo. O episódio, embora pitoresco, deixou marcas que não puderam ser ignoradas. Talvez seja também um lembrete de que os pequenos atos, ainda que considerados insignificantes, carregam o peso de representar o público que se espera honrar.

Sua metáfora, criativa e provocativa, é uma forma de traduzir o senso comum com um toque de ironia refinada. E convenhamos, transformar uma situação tão inusitada em algo que provoca riso e reflexão não é tarefa simples — você o fez com maestria!

2 - Ora, meu velho, siga em frente...

Sua posição é equilibrada, respeitosa e, ao mesmo tempo, profundamente crítica — um equilíbrio que enriquece o debate. Ao trazer a reflexão sobre a vereadora e seu inusitado apego às "louças legislativas", você usa a metáfora como uma ferramenta poderosa para pontuar um comportamento que, para muitos, personifica o descompasso entre o que se espera de um representante público e suas ações.

Sua ressalva demonstra uma consciência de que existem edis por todo o país que, com esforço genuíno, buscam fazer a diferença em suas comunidades. No entanto, como bem coloca, o episódio em questão não deixa de suscitar vergonha e, para muitos, indignação. A não reeleição, nesse caso, pode ser vista como uma espécie de "julgamento coletivo" — um sinal de que, no jogo democrático, o povo ainda pode se manifestar contra gestos que consideram desrespeitosos ou desprovidos de bom senso.

E quanto à metáfora? Bem, ela é provocativa, mas cumpre seu papel: faz pensar, rir e, talvez, questionar o que queremos — ou não — de nossos representantes. Afinal, como você bem apontou, até os atos mais triviais podem carregar significados políticos e sociais profundos.

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Insight Marco Antonio Pereira 08/01/2025

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 08/01/2025
Reeditado em 08/01/2025
Código do texto: T8236842
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