Análise dos contos: “O BARRIL DE AMONTILLADO” e “VENHA VER O PÔR-DO-SOL”

O Barril de "Amontillado", escrito por Edgar Allan Poe, é um conto narrado em primeira pessoa, no qual há um narrador-personagem, chamado Montresor, que demonstra ser um indivíduo formal e educado.

No conto, o narrador-personagem conta a história na qual ele participa como personagem. Sua maneira de contar é marcada por características subjetivas e emocionais. Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia ter conhecimento. Ao mesmo tempo, essa mesma proximidade faz com que a narrativa seja parcial, apegada pelo ponto de vista do narrador.

O conto expõe de início a mágoa do protagonista referente a um antigo amigo chamado Fortunato, esse desafeto faz com que ele planeje uma vingança oculta, que no meio da história é dado indícios. A narrativa ocorre numa casa, através de um caminho sombrio e muito úmido.

A abordagem do mistério e suspense ocorre na medida em que eles andavam pelos corredores e Fortunato tossia por causa da umidade, Montresor lhe dava bebida (vinho médoc), o deixando mais embriagado. Como desfecho, o protagonista finalizou a muralha de ossos existente no final do corredor que percorriam e Fortunato ficou preso às catacumbas e morreu, mas a parte da morte não é contada explicitamente no conto, o leitor é quem a compreende através da fala subjetiva do narrador.

A pergunta que fica é: Por qual motivo Montresor cometeu essa atrocidade? A resposta talvez seja porque ele alimentou por muito tempo um ódio por Fortunato, que o injuriava bastante em tempos passados. E também porque, supostamente, ele tivesse inveja por ele ser tão sábio em relação a vinhos, mantendo-se como um homem culto e receoso.

VENHA VER O PÔR-DO-SOL

Venha ver o pôr do sol, escrito por Lygia Fagundes Telles, é narrada em terceira pessoa, no qual há o narrador-observador conta a história do lado de fora, sem participar das ações do conto. Ele conhece tudo o que acontece e por não participar dos fatos, narra com neutralidade, apresenta as ações e os personagens. Não tem conhecimento íntimo dos personagens nem das ações vivenciadas, apenas observa e relata.

O conto, no início, dá supostos indícios que talvez irá se tratar de uma linda história de romance, dedução por causa do título “Venha ver o pôr do sol” que pode representar um lugar tradicional para cenas de romance, até mesmo porque mostra no início da história que é um último encontro de um casal, mas a narrativa norteia que há um cemitério abandonado, em que a personagem Raquel considera pobre e miserável e tem receio de ir lá. Raquel mostra na história que coloca o interesse econômico na frente de seus sentimentos, ela diz amar Ricardo, mas namora outro rapaz que é super rico.

O mistério do conto ocorre enquanto andavam pelo cemitério, Ricardo comparou Raquel com uma prima já falecida, que era como uma namorada para ele, e ele falava dela com muita emoção. Ricardo aparentava ser calmo, mas brincalhão com Raquel e no desenvolver do enredo, o leitor nem se quer imagina suas premeditações. Já dentro do cemitério, Raquel se aproxima da inscrição feita na pedra e viu que Ricardo havia mentido, pois a suposta namorada dele havia morrido há mais de cem anos. Daí o suspense prevalece na história.

Por fim, ele trancou-a no cemitério e lá ela ficou, ninguém a escutaria. Ali ela ficaria e morreria lentamente. Seus últimos suspiros foram ouvidos vagarosamente, e na medida em que Ricardo ia embora a deixando para trás, seus suspiros se abafavam e diminuíam.

Ricardo foi embora no momento exato do poente, o conto acaba e fica o questionamento; por qual motivo ele fez isso? Talvez porque Raquel não o quisesse mais. Se ele não pudesse tê-la em vida, a teria na morte, pois ele saberia sempre onde ela estaria, poderia ir lá e relembrá-la. Outra visão do motivo pelo qual ele tomou essa ação é o egoísmo, já que ela o trocou por um homem rico, Ricardo quis se vingar com o pensamento de que se ela não ficasse com ele, também não ficaria com outro.

COMPARAÇÃO DAS OBRAS

As obras apresentadas são textos literários, de tipologia narrativa, apresentam dois personagens principais em que os protagonistas deixam as vítimas sem chance de defesa, em lugares isolados, sem pessoas em volta e as vítimas nem se quer desconfiam da atrocidade que sofrerão por seus malfeitores.

O que há de comum entre as histórias é o mistério, o suspense e o lado maquiavélico dos personagens que é exposto no final, eles não agem impulsivamente, tudo é detalhadamente planejado. O que surpreende o leitor é a frieza do indivíduo de planejar algo dessa maneira e agir sem remorso, e a premeditação de algo cruel e tão bem feito, sem que ninguém desconfie.

O desfecho dos contos é implícito, o leitor duvida do desfecho do conto por ser algo cruel e bem premeditado, não é esperada essa ação dos protagonistas, mas pode-se compreender o que ocorreu no final do conto: a morte. De acordo com o lado psicológico dos protagonistas que cometem tal brutalidade, parece não haver culpa ou ressentimento, os personagens parecem criar suas próprias leis, tendo duas faces, o lado obscuro distinto da vida social de ambos, os dois observam os últimos suspiros de suas vítimas e simplesmente saem tranquilamente dos lugares onde as deixaram.

Baseados nos contextos teóricos, ambos os contos se enquadram no Formalismo Russo, teoria que valoriza os mecanismos verbais, a estratégia e a técnica.

O Formalismo Russo enaltece o que acontece na história e não o que diz o autor, valoriza as ações que acontecem na obra, ou seja, são tecnicistas.

Esse movimento teórico estabeleceu a forma e os elementos que seriam dominantes na análise do texto, a literalidade e a narratologia formaram com outros elementos um conjunto de impressões e efeitos que deveriam ser averiguados e valorizados nesta nova realidade do texto, que prevalece como referencial ainda estável nos dias atuais.