Inocência, filme de Walter Lima Júnior

 

Inocência é a típica mulher romântica, em seu ideal de beleza e modelo de pureza. Sua formação é patriarcal, criada dentro de casa, como uma boneca de porcelana, pelo pai, temendo que um dia quebre. Suas falas no filme são poucas, em alguns momentos forçadas pelo próprio pai. Cirino, em suas conversas, também guia o seu discurso, trazendo à tona os seus sentimentos. O foco das câmaras, todavia, é sua beleza.

 

Além da protagonista, a outra personagem feminina do filme é Maria Conga, que juntamente com os personagens Tico e José ilustram o regime escravocrata do período. Secundários na trama, o enredo gira em torno de Pereira, Cirino, Meyer e Manecão. Tanto a negra quanto os homes focam seus olhares em Inocência.

 

A formação patriarcal de Pereira priva a sua filha do mundo. Não há menção de que ela conheça outra realidade senão aquela que a circula. A casa paterna é o seu casulo. Vive escondida pelo próprio pai, distante dos olhares de todos, principalmente os masculinos.

 

Com roteiro e direção de Walter Lima Jr. e baseado na obra homônima de Visconde de Taunay, Inocência (1983) entrou para a lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, figurando na 85º colocação, segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Ambientado durante o Brasil Império da década de 1860, o filme pretende ressaltar as belezas naturais do Brasil, mais precisamente do sertão mato-grossense e da mulher brasileira. As filmagens, porém, foram feitas em Barra de São João, distrito de Casimiro de Abreu (RJ) e na Floresta da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

 

O tom do filme é a paixão proibida entre Cirino e Inocência, marcado pelo impedimento patriarcal. Numa época em que o pai decidia o destino da filha, escolhendo com quem deveria se casar; os amantes, à semelhança de Romeu e Julieta, tentam romper com esse paradigma. Porém, os costumes são mais fortes, e a morte do amado é a sua punição. Inocência permanece viva (embora no livro ela também tenha morrido), em um estado de transe, sonâmbula, delirante, configurando a sua punição.

 

O filme de Walter Lima Jr. não foi o primeiro a adaptar a obra romântica de Taunay. O livro deste regionalista ganhou o gosto de outros diretores antes do sucesso de 1983. A primeira adaptação data de 1915 por Vittorio Capellaro, considerado o primeiro filme brasileiro baseado numa literatura nacional; e a segunda por Lulu de Barros em 1949. O filme de Walter Lima Jr, porém, obteve no Festival de Brasília no ano de seu lançamento os prêmios de Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante (Sebastião Vasconcelos), Melhor Fotografia e Prêmio Especial da Crítica; além do Prêmio APCA de Melhor Roteiro de 1983.

 

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