Eu, Olho e vejo mas não me alcanço!...


... Olho e vejo, mas não me alcanço!
Choro e rezo mas já não tenho perdão.
  Imploro, mas não ouço as minhas preces!
   Escuto as sentenças que em balanço,
  Vão medindo os pecados desde então.

 Subindo vai o meu corpo enquanto eu desço.

 
Nota de Rodapé! - Depois que eu saí de Angola em definitivo em Novembro de 1975, Nunca mais encontrei Amigos de Luanda, em especial os Amigos da tertúlia do Café Bahia na Avenida Marginal de Luanda. Dentre estes eu recordo com imensa saudade  todos eles e em especial   o Saudoso Amigo Jornalista Fernando Cruz Gomes, do Jornal Provincia de Angola. Muitos anos depois e já então eu a viver no Brasil e ele no Canada, ele elaborou um texto com Audio, sobre o meu "estado de espírito naquele tempo,  que muito  me surpreendeu, quando ele mo mandou virtualmente lá do Canadá há muitos anos atrás! - O Título é deveras realista e auto explicativo:
O Potêncio outra vez a chorar...
 
"... Não restam dúvidas. Quando o Potêncio escreve – e da forma que o faz – não é ele a escrever.
- Tão pouco o que se vai lendo... se pode ler sem ter, ao lado, um dicionário místico daqueles que têm a ver, tâo sòmente, com o linguajar da Alma que, vindo das terras de África – especialmente Angola, eu sei – deixe entender o simbolismo dos conceitos e o explanar de atitudes.
O Silvino sabe manejar, como poucos, a pena. Aprendeu, talvez, nas escadas íngremes da Leba, à sombra de um ou outro imbondeiro que ainda por lá deixaram, quiçá mesmo a mergulhar os pés na água do riacho ou do mar... que une as Pátrias sem as escravizar. Portugal. Brasil. Angola. Por que não o Canadá, também?!
A verdade é que os tais “retornados” – e muitos nem “retornados” podem ser porque só se “retorna” onde já se esteve – criaram uma forma de ser muito sui generis. Entendem a alma dos outros e só pedem que lhe entendam a sua. Nivelam pelos seus os conceitos dos outros, entristecendo-se, de morte, quando entendem que... mais uma vez os enganaram.
E é por isso que eu entendo cada vez mais o Silvino Potêncio. Mesmo que ele diga que não, ele escreve a chorar. Mesmo que queira fazer rir, que se anarfanhe para ninguém lhe ver as lágrimas... ele está mesmo a chorar. Um passado que se foi?! – Decerto. Mas chora, também, um Futuro que... assim... é capaz de o deixar de ser.
Deixem o Silvino chorar. As suas lágrimas juntam-se às de muitos outros, espalhados pelo mundo...  Pode ser que façam um mar. Um mar só nosso. Que nos una a todos. Mesmo àqueles que da lei da morte se foram libertando.
Olá, Silvino! Eu também choro... sabe?! Só não tenho – não consigo ter – a sua habilidade de amarfanhar os sentimentos. E tentar que pareçam sorrisos... as tristezas de uma alma que é igual à sua.
Fernando Cruz Gomes - Toronto "

E.T.Esta análise do Dilecto Amigo Fernando Cruz Gomes foi certamente uma sintese do meu estado de espírito quando eu escrevia a maioria dos meus poemas de Angola bem antes do malfadado 25 de Abril de 1974. Sem nenhuma intenção de ser "futurista" por causa de muitos factores adversos desde a minha chegada à Emigração com apenas 13 anos de idade, por vezes, eu creio que já advinhava a desgraça que se abateu sobre mim e mais alguns milhões de Portugueses e Portuguesas . Por isso eu costumo pensar em que... aos 25 anos de idade a minha  vida era um livro aberto com as folhas soltas ao vento, e num repente... não mais que num repente surgiu um vendaval - autêntico tsunâmi - chamado de Descolonização do Ultramar Português! 


 
 
 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 20/10/2018
Reeditado em 19/05/2020
Código do texto: T6481224
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