O paradigma dos personagens solitários

O paradigma dos personagens solitários. Se existisse uma frase para definir um livro como A Sombra do Vento, ( Carlos Ruiz Zafón, 2001 ) seria certamente parecida com esta.

Mas livros deste calibre não se definem numa frase. São precisas mesmo muitas, para falar do Cemitério dos Livros Esquecidos, numa Barcelona onde os fantasmas da guerra espreitam nas nebulosas esquinas.

Escrito numa prosa que por vezes nos lembra os grandes mestres, (há aqui Dumas, há Poe e há sem dúvida algo de Vítor Hugo), existe no romance uma mistura de géneros que se encaixam tecendo uma história que se torna fascinante.

Tudo começa de madrugada, quando o pai leva Daniel Sempere com 11 anos ao cemitério dos livros esquecidos, uma espécie de biblioteca de obras abandonadas, e o rapazinho encontra ai um livro chamado A Sombra do Vento, escrito por um autor chamado Julian Carax. Começa aqui a busca por este autor misterioso que irá nortear a trajectória de Daniel durante a narrativa.

Paralelas á busca de Daniel por Julian Carax, movem-se outras histórias e outros personagens, às vezes transversais, às vezes paralelas no tempo.

É o caso do inspector Javier Fumero e de Fermín Romero de Torres, (um personagem ímpar na moderna literatura, herdeiro de um Sancho Pança) ambos em lados opostos da barricada, da história e da própria vida.

As personagens ímpares e o enredo apaixonante, fazem deste A Sombra do Vento um livro a ler e reler muitas vezes ao longo do tempo.

Não está ao alcance de qualquer escritor uma obra de tal envergadura, mas é por demais evidente que Carlos Ruiz Zafón não é qualquer um na arte do romance. O início do livro é épico:

«Ainda me lembro daquele amanhecer em que o meu pai me levou pela primeira vez a visitar o Cemitério dos Livros Esquecidos.»