ANÁLISE DO LIVRO 'O FASCINANTE IMPÉRIO DE STEVE JOBS'

Aproveitando a quarentena provocada pela Covid-19 para por as leituras em dia. Li 'O Fascinante Império de Steve Jobs' escrito pelo bilionário galês Michael Moritz, capitalista de risco e filantropo, autor da primeira história da Apple 'The Little Kingdom', e de 'Going for Broke: a batalha de Lee Iacocca para salvar a Chrysler'. Moritz trabalhou na revista Time na década de 80, onde obteve acesso privilegiado aos bastidores da Apple. Steve o contratou para documentar o desenvolvimento do Mac. Deste modo, viu de perto o crescimento da empresa: de um hobbie na garagem para a Fortune 500.

A história de Steve Jobs e Apple é realmente fascinante como o próprio título da obra diz. De um jovem com jeitão de hippie até tornar-se CEO e revolucionar a indústria de computadores. Ele encarnava a verdadeira figura de um visionário: empreendedor, inventor, perfeccionista, enérgico, curioso e por aí vai. E não tinha papas na língua quando identificava alguma coisa de errado. Era movido por desafios e defendia suas ideais com unhas e dentes até o fim. Foi chamado de 'maluco' inúmeras vezes, humilhava seus funcionários e quem disse que tais julgamentos o desvirtuaram dos seus objetivos? Nem um pouco. Visava à perfeição e exigia ao máximo de todos que trabalharam com ele. Porém, consideravam-no um mago da eletrônica — criou a caixa azul(um gadget que permitia aos usuários fazer chamadas telefônicas de longas distâncias), colaborou no desenvolvimento do jogo eletrônico Breakout e inventou vários dispositivos eletrônicos para as feiras de ciência na escola durante a adolescência.

Quem procurar na internet o currículo dele quando tinha apenas dezoito anos, verá que não tinha experiência nenhuma. Mas, logo depois fora contratado como designer pela Atari em 1974. Curioso, não? Pra notarmos que nem todo diploma ou experiência são os verdadeiros atrativos. Às vezes, a gana, a curiosidade e a vontade de aprender conseguem naturalmente chamar muito mais a atenção do recrutador. O próprio Jobs detestava currículos. Achava-os perda de tempo. Ao invés disso, procurava investigar a personalidade do candidato.

Outro personagem que merece imenso e justo destaque é Steve Wozniak, grande amigo de Jobs. Apelidado de Woz, era muito querido por todos por transmitir alegria e paixão por computadores. Esse posso afirmar que é um gênio da eletrônica. Dominava a programação e era extremamente habilidoso com projetos eletrônicos, muitos deles complexos. Jobs ficava encarregado com as ideias e pontapés iniciais dos projetos; já Woz executava e construía os aparelhos. Até mesmo Jobs afirmou que Wozniak sabia mais eletrônica do que ele. Só para terem uma ideia: autodidata, com apenas treze anos construiu o seu próprio computador e ainda fora eleito presidente do clube de eletrônica da escola. O único senão era que gostava de ser o centro de atenções; posto que não desfazia a sua graça.

Além de ter sido um participante assíduo do Homebrew Computer Club(um grupo de entusiastas de computadores que se reuniam no Vale do Silício de 1975 a 1986). Somente depois de ter fundado a Apple que Woz retorna à faculdade para formar-se engenheiro eletrônico na Universidade da Califórnia em Berkeley, em 1986. Hoje ele é milionário(cerca de 100 mi) e filantropo; apesar de muito aquém perto da fortuna na casa dos bilhões(cerca de 20 bi) herdada por Laurene Powell Jobs, a viúva de Jobs.

Poderia eu estender esse texto discorrendo os percalços e as aventuras que a dupla enfrentou na fundação da Apple Inc. Contudo, acho que ocuparia espaço desnecessário. Deixo a cargo do leitor essa tarefa. Falemos logo da empresa.

Quando soube que Steve Jobs obteve o seu primeiro milhão no lançamento do Apple I em 1976 com apenas vinte e um anos — Wozniak tinha vinte e cinco — fiquei estupefato. Comoveu-me deveras a incrível parceria que ambos construíram. Havia respeito e admiração. Fossem quais obstáculos tivessem, moviam-lhes sempre um sonho em comum e bem delineado: construir o seu próprio computador. No entanto, para que o sonho deles se transformasse em realidade foi preciso que se renunciassem a três coisas difíceis de serem restringidas no mundo atual — faculdade, baladas e curtições. Afinal, eles não apenas planejavam criar um computador qualquer; planejavam um produto de tecnologia inovadora e sucesso de vendas, capaz de ser páreo às gigantes e imbatíveis IBM e Hewlett Packard naquela época.

As vendas do Apple I, de aparência para lá de primitiva, foram bem-sucedidas. Vinha já montado e trazia uma placa-mãe e cerca de 30 chips instalados em uma caixa de madeira. Não havia mouse nem teclados. Deviam ser comprados separados. Depois veio o Apple II em 1977, muito mais equipado com um disco rígido, teclado, monitor e mouse. Ao passar dos anos Jobs e Wozniak foram tornando as máquinas mais potentes, menores e baratas. Permita-me uma última pausa, caro leitor, para compartilhar-lhe uma anedota.

Nunca fui dado à informática, porém desde moleque a curiosidade sobre o funcionamento dos computadores me causava espécie. Certa vez, lembro que vi de perto um Apple III durante a adolescência. Meu pai era professor de informática e trabalhava numa empresa de computação no Rio de Janeiro(não recordo qual!). Um dia tive a oportunidade de acompanhar a sua rotina na empresa. Foi onde pude notar, em meio a uma parafernália eletrônica, um modelo Apple III atirado no canto do escritório. Parecia estar danificado, pois havia-lhe sinais de derretimento próximo à entrada de disquete. Recatado, não perguntei a ninguém; levei comigo essa interrogação para casa. Só agora, após a leitura do livro, dei-me conta que o sistema de arrefecimento(sem ventoinha e saídas de ar) do Apple III era o calcanhar de Aquiles. Tal efeito se descarregava no disquete.

De carreira quase consolidada, Jobs ainda foi CEO da Pixar e NeXT(empresa de software posteriormente comprada pela Apple). Pra minha surpresa, ele ainda atuou na indústria cinematográfica produzindo 'Toy Story' e 'Procurando Nemo'. De forma cômica, foi demitido da própria empresa para depois retornar e revolucionar de vez a indústria de computadores com a tecnologia triunfal dos Iphone, iPad e iPod. Incrível como Jobs sabia aliar arte e tecnologia aos inventos. Segundo ele, antes do preço, os consumidores anseiam por design. E ele investigava isso como um detetive é convocado para desvendar a trama de um crime.

Portanto, o que lhe rendeu o posto de uma das pessoas mais admiradas e influentes da era moderna dos computadores pós-Segunda Guerra Mundial. Concluo com uma frase de um entusiasta da Apple e colega de Jobs, Guy Kawasaki, que acredito ser pertinente neste instante final: "Este livro é um roteiro para os empresários que querem imitar Steve Jobs. Anote minhas palavras: aqueles que não conseguem aprender com a história dele estão condenados a não repeti-la".

Pedro Viegas
Enviado por Pedro Viegas em 29/03/2020
Reeditado em 25/03/2023
Código do texto: T6900843
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