OS QUATRO AMORES

Para que o leitor tenha um entendimento melhor, é essencial que saiba claramente os tipos de amores que ele destaca no texto, sem isso irá se perder no decorrer do resumo e do livro. Grave bem essas definições:

Amor-Dádiva: que move o homem a trabalhar e cuidar do futuro de sua família.

Amor-Necessidade: que impulsiona uma criança assustada para os braços de sua mãe.

O amor divino é o Dádiva, o Pai que dá tudo o que tem e É ao Filho. O Filho dá a Si mesmo de volta ao Pai, e dá a Si mesmo ao mundo. O amor-Necessidade é o reflexo da real natureza humana, precisamos dos outros se queremos até mesmo saber algo de nós mesmos, mas ele não é (pelo menos sempre) egoísta, ninguém chama uma criança de egoísta só porque ela busca o conforto da mãe. Haverá razões para negá-lo ou mortificá-lo, mas não sentir é a marca de um egoísta frio, pois precisamos uns dos outros. Sabemos que não sentir amor-Necessidade é a marca de um egoísta frio, da mesma forma que sabemos que a falta de apetite é um sintoma médico ruim porque precisamos comer.

A medida que ficamos mais conscientes é evidente para nós que nosso amor por Deus é em grande parte amor-Necessidade ao implorarmos perdão e sustento. Ficamos conscientes então da nossa necessidade por natureza incompleta, vazia, desordenada, que clama por Ele, que é capaz de desfazer os nós e de nos conectarmos de forma correta.

O que o Senhor diz sobre nosso amor-Necessidade:

“Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.” Mateus 11:28

“Eu sou o SENHOR, o Deus de vocês, sou aquele que os tirou da terra do Egito. Abram a boca, e eu os alimentarei.” Salmos 81:10

Nesse contexto nos aproximamos de Deus quando somos menos semelhante a Ele, próximos pela abordagem:

- Plenitude e necessidade

- Soberania e humildade

- Retidão e penitência

- Poder ilimitado e grito por socorro

Agora a semelhança que recebemos por meio da filiação deve ser uma imitação de Deus encarnado, Jesus. Jesus do Calvário, da carpintaria, das estradas, das multidões, das demandas estridentes e das oposições ásperas, da falta de toda tranquilidade e privacidade, e das interrupções constantes. A própria vida Divina operando sob condições humanas.

Fazendo distinção:

“O amor torna-se um demônio no momento em que se torna um deus”.

Esse equilíbrio é indispensável, pois os amores naturais no seu ponto mais alto reivindicam uma autoridade própria, passa por cima de tudo, diz que tudo é permitido por causa do amor, e assim, se tornando blasfema. Eles não permanecem amores, apesar de assim ainda serem chamados, se tornam formas complicadas de ódio.

Cap. 1: O gostar e o amar em relação aos sub-humanos

Gostar de algo significa ter prazer, e eles podem ser divididos em 2 tipos:

1 — Prazeres-Necessidade: aquilo que não seria um prazer se não fosse pelo desejo, como estar sedento e dar um gole de água.

2 — Prazeres de Apreciação: prazeres que não precisam de preparação, como ser surpreendido pelo aroma das flores no campo, não há necessidade, foi uma dádiva adicional.

No entanto, o vício pode tornar o segundo prazer, o primeiro. O prazer-Necessidade é onde acaba o prazer de Apreciação. Por isso mesmo depois do prazer-Necessidade ser saciado, ele morre em nós rapidamente, antes era desejado, depois vazio de qualquer interesse, passageiro, não dura mais que a necessidade. Diferente do prazer de Apreciação, que além de satisfazer reivindica nossa apreciação por direito.

Apesar do prazer-Necessidade ser passageiro, no que se trata de afeições, relacionamentos, ele pode ser permanente ou recorrente dependendo da necessidade da pessoa, assim os princípios morais (fidelidade conjugal, devoção filial, gratidão e semelhantes) poderão preservar o relacionamento, se não houver essa assessoria ele morrerá, assim como vemos queixas de pais negligenciados por seus filhos adultos, amantes abandonadas por homens que tinham um amor que era necessidade, que elas por fim, tinham satisfeito.

Nosso amor por Deus porém é diferente, pois nossa necessidade d’Ele nunca acaba, se não tivermos consciência dessa necessidade, nosso amor também acaba.

Amor-Necessidade: clama a Deus a partir de nossa pobreza.

Amor-Dádiva: deseja servir ou mesmo sofrer por Deus.

Amor-Apreciativo: diz: “Damos graças a Ti por Tua grande glória”.

A necessidade precisa, a dádiva oferece e o apreciativo contempla.

Cap. 2: Afeição

O mais humilde dos amores, nesse amor é descrita a imagem de uma mãe cuidado de seu bebê, apresentando um paradoxo:

A carência e o amor-Necessidade do filho é óbvia, assim também o amor-Dávida da mãe. A mãe precisa dar a luz ou morre, precisar amamentar ou sofre, sua afeição também é amor-Necessidade. É um amor-Dádiva, mas aquilo que necessita é ser necessário.

A Afeição pode ser ser sentida por qualquer pessoa, desde que tenha familiaridade. É tão mansa que você só terá consciência dela quando já a tiver. Diferente da paixão e da amizade, que as pessoas podem até se orgulhar por ter, a Afeição é humilde. Além de poder se tornar a base para a amizade e o Eros. Por tudo isso a afeição nos possibilita apreciações diferentes do que teríamos na amizade, pois ela pode unir aqueles que jamais teriam qualquer tipo de relação na vida.

Você simpatiza com alguém porque ele simplesmente está ali. Começa a perceber que existe algo cativante nessa pessoa, apesar dela não ser o seu tipo, é uma pessoa boa do jeito que ela é.

Isso faz você ultrapassar as barreiras do seu próprio jeito de ser, do seu gosto. A Afeição cumpre o ampliar da nossa mente, nos ensina a perceber, e depois a suportar, a sorrir curtindo e apreciando essas pessoas. É leve, não carrega grandes expectativas, até por isso mesmo se recupera fácil de alguma discussão. Ela vai lembrando aquela santidade humilde que devemos ter, mas será que ela é suficiente? A resposta é Não! A Afeição pode estar presente, mas ainda assim causar infelicidade, como temos exemplos de lares infelizes.

Amor-Necessidade e amor-Dádiva estão incluídos na Afeição. A necessidade está associada ao anseio pela afeição de outros. Aqui está um ponto perigoso e irracional dessa necessidade, muita atenção neste ponto >>>> porque todos esperamos ser objetos de Afeição, a parte racional é saber que precisamos fazer algo para atrair o amor, irracional é esperar isso sem fazer por onde ter.

E essa reivindicação de ser amado poderá ser percebida por manifestações de mágoa, repreensões, olhares e gestos de ressentimentos auto-piedosos. O que isso produzirá no outro? Um sentimento de culpa que não poderá ser evitado, lacrará a fonte da qual anseiam beber.

A consciência do verdadeiro caminho permanece distante, enquanto se enchem de defesas, levantando muros com letreiros gigantes do porque não são amadas “por direito”. Se quer ser amado, seja amável. O que remete a muitos conflitos dentro de lares familiares também, atitudes constrangedoras de zombarias, contradições, interrupções grosseiras, referência ofensiva as amizades alheias, coisas como essas respondem a essa pergunta:

“Por que eles preferem outras casas mais do que a sua?”

Quem não prefere civilidade em vez de barbarismo? O que nos faz pensar que o fato de estarmos em casa nos deixa livres da civilidade? Usar roupas velhas é uma coisa, abusar de roupas imundas em casa é outra. É claro que quanto mais íntima a relação for, menos necessidade de formalidade há, mas não menos necessidade de cortesia. Quem deixa as boas maneiras ao chegar em casa, nunca as teve. Podemos dizer qualquer coisa quando não há a finalidade de machucar, e de fato, não machuca.

Qualquer bom relacionamento pede o cuidado de não usar liberdades para ser rancoroso em obediência a ressentimentos, ou de forma rude em obediência a seu egoísmo. O que também pode estar ligado a ciúmes, toda mudança é uma ameaça a afeição (assim também em todos os amores), e o ciúme será provavelmente expressado pelo ridículo, ridicularizando o objeto de ciúme.

Todas essas distorções foram relacionadas ao amor-Necessidade não é mesmo?! Agora vamos ao amor-Dádiva, que é o amor que tem necessidade de dar. Por trás deste amor há uma tarefa, a tarefa de trabalhar a sua própria abdicação. A recompensa desse amor deveria ser a hora que é capaz de dizer “eles não precisam mais de mim”, quando isso não acontece esse amor extrapola e sufoca quem o recebe. A necessidade descontrolável de ser necessário se satisfará, mantendo seus objetos sob necessidade ou inventando novas necessidades, e isso ainda se sentindo generoso. Por vezes essa necessidade pode ser expressada no tratamento de um animal, fazendo da companhia de cães um alívio para as exigências da companhia humana, aqui existe um alerta para as verdadeiras razões disso.

As pessoas no geral, nós, somos capazes de distorcer o amor em infelicidade e exploração, sobre essas tentações nós conhecemos bem como o pecado. A Afeição só vai produzir felicidade se for acompanhada de bom senso, dar e receber, decência, razão. A justiça estimulando a afeição. O que traz a minha mente:

Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Tiago 3:17

Essa justiça, esse equilíbrio se traduz em bondade, paciência, autonegação, humildade, para que assim tenha uma colheita de boas ações. Vivendo somente pela Afeição ficamos no meio do caminho, as Escrituras estão aí para confirmar que é preciso a mansidão de sabedoria que vem do alto, para que consigamos colher a bondade.

Cap. 3: Amizade

A Amizade parece hoje ser mais valorizada entre os antigos, talvez poucos a valorizem por poucos a experimentarem, e o fato dela não ser natural pode ajudar nisso. Podemos viver sem amizades, procriar, ela retira pessoas do coletivo (assim também a solidão), revela a individualidade, é seletiva, isso tudo pode produzir sentimentos contrários a Amizade. Até mesmo aquele que diz que toda a Amizade séria é homossexual, aqueles que dizem isso transparecem que nunca tiveram amigos. Enquanto Eros acontece entre duas pessoas, dois está longe de ser o número ideal para a Amizade.

Em cada amigo há algo que somente ele desperta no outro, sendo assim sozinhos não conseguimos relevar quem somos por inteiro. Quando perdemos um amigo, perdemos também a parte que ele externava em você e em outro amigo, aquela reação particular da personalidade de cada um.

“Sozinho não sou grande o suficiente para externar em atividade o homem que sou por inteiro”.

Por isso a Amizade verdadeira é o menos ciumento dos amores.

Nisso ela ajuda a trazer um vislumbre do Paraíso. Cada alma que conhece e vê Deus da sua maneira, comunica essa visão as outras aumentando o contentamento que cada um tem de Deus. Quanto mais compartilhamos o Pão Celestial entre nós, mais d’Ele todos teremos.

e em volta dele estavam serafins. Cada um deles tinha seis asas: com duas eles cobriam o rosto, com duas cobriam o corpo e com as outras duas voavam. Eles diziam em voz alta uns para os outros: “Santo, santo, santo é o SENHOR Todo-Poderoso; a sua presença gloriosa enche o mundo inteiro!”. Isaías 6:2–3

Todos que compartilham conosco um interesse, são nossos companheiros, mas aqueles que compartilham algo a mais, serão nossos amigos. É por isso que pessoas que simplesmente “querem amigos”, nunca farão. Para ter amigos devemos desejar também algo a mais. Ser indiferente a tudo e a todos irá ser um impedimento para se ter amigos, mas existe a Afeição.

“Aqueles que nada têm, nada poderão repartir; aqueles que estão a caminho de ‘lugar nenhum’ não poderão ter companheiros de viagem”.

Quando duas pessoas de sexos diferentes descobrem que estão no mesmo caminho secreto, e não tiver impedimentos, a Amizade que surge passará facilmente para o amor erótico. E quando isso acontece, perceber que a pessoa amada pode compartilhar a amizade com os amigos que você já possui, é enriquecedor.

Levando a sociedade moderna a reconhecer o Valor da Amizade

No casamento, entre estes dois pontos, qual você optaria:

Deixar de ser amantes mas permanecendo cada um com seus pontos iguais, suas verdades… ou

Perder os pontos em comum e manter o êxtase e desejos do Eros.

Que escolha não produzirá remorso depois de ter sido feita?

A Amizade tem um valor prático para a comunidade, grandes movimentos começaram num pequeno grupo de amigos (alguns bons, outros não). Uma amizade despretensiosa as vezes revela grandes surpresas. É desnecessária, mas é uma dessas coisas que dão valor a sobrevivência.

Conflitos

Entre homens e mulheres aquilo que é oferecido como Amizade pode ser confundido com Eros e ter resultados desastrosos, mas há diferença entre esses amores.

A sociedade não reconhece que a Amizade entre homens e mulheres não é provável, são atormentados pela ideia de aquilo que é possível para um, é para todos.

Existem grupos que deixam de existir quando entramos, porque simplesmente não partilhamos dos mesmos interesses, até mesmo de conversa. Há quem queira “vencer” sobre uma amizade alheia, pessoas que se intrometem e impedem uma conversação sobre algum assunto para ela “sem graça” de forma proposital. Há também que trate a amizade com ódio, ciúme e medo, inimiga do Eros ou da Afeição; aqui já se espera da pessoa centenas de artimanhas para acabar com as amizades do “amigo”.

Se a Amizade nasce desse encontro de ideias, podemos já imaginar que essas ideias nem sempre podem ser boas. As primeiras amizades da infância podem te revelar isso, onde partilhamos alguma maldade secreta, por isso hoje nós conhecemos o sabor de um ressentimento ou ódio compartilhado. A opinião dessas amizades sempre pesará mais que as amizades de fora, por um motivo muito óbvio, somente eles, amigos da “maldade”, te julgarão com as regras que vocês mesmos conhecem e estão de acordo. Por isso a Amizade pode ser uma fonte boa de virtudes, ou de vícios, ela torna melhores os homens bons, e piora os maus.

Por existir este perigo da indiferença a opinião alheia, é importante ter consciência dele, pois eles podem trazer outros vícios:

Indiferença a opinião alheia (já mencionado);

Podendo evoluir para um desprezo indiscriminado (hábito de não se importar, desprezar pessoas);

Desdém, diante de quem está fora do grupo de concordância;

Soberba social, esnobismo (um esnobe deseja fazer parte de um grupo, porque esse grupo é considerado elite);

Expressão de superioridade;

Exibicionismo (falar alto, agir de forma espalhafatosa para impressionar estranhos sobre seu círculo de amizade).

O orgulho é quase inseparável do amor da Amizade, já que a Amizade precisa excluir para existir. Mas, é um passo muito pequeno entre o inocente e necessário ato de excluir até o espírito da exclusividade. No próximo passo virá a satisfação da nossa autoaprovação coletiva.

Se você é cristão e analisou os vícios, suponhamos que a Amizade é o mais espiritual dos amores, sendo assim, o perigo que a ameaça também é. A humildade aqui é a chave se quiser estar protegido. Para um inimigo mais sutil, peça a proteção divina se espera manter pura sua amizade (e não só esperamos, como segundo as Escrituras, é nosso dever buscar).

Procurem ter paz com todos e se esforcem para viver uma vida completamente dedicada ao Senhor, pois sem isso ninguém o verá. Tomem cuidado para que ninguém abandone a graça de Deus. Cuidado, para que ninguém se torne como uma planta amarga que cresce e prejudica muita gente com o seu veneno. Hebreus 12:14–15

Uma admiração mútua, apreciativa, é saudável, caso contrário é um relacionamento empobrecido. Encontrar essa beleza interior no outro é muito bom e pode nos fazer pensar que essa Amizade é uma recompensa para o nosso discernimento e bom gosto, mas, é o instrumento pelo qual Deus revela a cada um as virtudes dos outros. Deus abre nossos olhos para elas, as virtudes vêm de Deus. Se vêm d’Ele, e é Ele que produz em nós as virtudes, é Ele Quem une. Que vejamos a glória d’Ele em tudo, e o glorifiquemos em tudo também. Reconhecendo a seriedade, que o Senhor nos dê sabedoria e capacidade de tratar a Amizade como se fosse leve feito um jogo.

Homem, agrada teu Criador e fica contente,

E não dá para este mundo nem uma semente. — Dunbar

Cap. 5: Caridade

Um jardim é bonito, mas ele só continuará assim, e não um matagal, se alguém fizer o trabalho de cuidar dele, arrancar ervas daninhas, colocar cerca, podar, cortar a grama, pois o jardim por si só não vai fazer isso. Assim é com os amores naturais, eles por si só não são suficientes, seja no bom-senso, decência, bondade, a vida cristã em ação é necessária em qualquer relacionamento.

Todo o trabalho não se compara a glória e beleza do amor, se não houvesse o amor nada poderia ser feito. Mas mesmo que a participação do trabalho seja pequena, em comparação ao amor, é indispensável. Se esses cuidados ainda eram necessários quando o jardim era só um paraíso, quanto mais agora.

Amores Naturais X Amor de Deus

O amor natural não toma o lugar de Deus, pois ele não pode permanecer o que é e fazer aquilo que promete sem Deus. O amor ganha sua plenitude quando ele se humilha, se curva diante de Deus.

O perigo do amor natural é ele ser destacado como um deus, a possibilidade de fazer da família ou amigos um rival para Deus, assim como é alertado em Lucas 14:26, além do perigo de amar pouco nosso próximo.

— Quem quiser me acompanhar não pode ser meu seguidor se não me amar mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a si mesmo.

Rejeitar o amor, como uma forma de proteção ao sofrimento, quando vemos a vida de Jesus, entre outros, fica claro que é um erro. Amar é uma vulnerabilidade, se quiser se proteger disso se tornará impenetrável e irredimível. O único lugar fora o céu, em que você pode se ver livre das complicações do amor, é o inferno. O que nos leva a outro pensamento, se a pessoa não ama, não é espontânea com seus irmãos na fé (e também os que não são), pessoas a quem ela vê, como é sua relação com Deus, Quem ela não vê?! Nos aproximamos de Deus aceitando os sofrimentos por causa dos amores.

Voltando ao amor excessivo, significa que amamos tal pessoa demais em proporção ao amor por Deus, e não necessariamente a grandeza do nosso amor pelo ser humano. Devemos orar pedindo esse amor, emoção sentida por Deus, assim como temos por quem amamos. Mas no que se refere ao dever do cristão, devemos levantar a pergunta:

Quando a hora da decisão chega, a quem você serve, escolhe, põe em 1º lugar?

Jesus não disse sobre evitarmos amores terrenos por medo de nos ferirmos, mas ordenou restritamente que não amássemos ninguém a mais que Ele, assim como acabamos de ler em Lucas 14:26. Devemos rejeitar quando estiverem entre nós e a obediência ao nosso Senhor. Por isso devemos organizar nossos amores, e evidenciar esta concordância quando necessário.

Lemos sobre amor-Dádiva e amor-Necessidade, mas Deus ainda pode conceder amores-Dádiva que assemelham mais do Seu próprio amor-Dádiva. Um amor que não busca interesses, deseja o que for melhor para o outro, e faz-nos amar aquele que não é naturalmente amável. Damos de volta a Deus aquilo que já é d’Ele, ao servir aqueles que necessitam.

Tendo dito isso temos agora então: amor-Necessidade de Deus e amor-Necessidade do outro.

E o que temos a dizer a respeito da Necessidade é isso:

A graça nos dá o reconhecimento, uma consciência e aceitação, da nossa necessidade por causa da queda.

Nisso vemos que essa graça substitui uma falsa humildade, que no fundo acreditava que tínhamos nossa própria atratividade. Aceitamos então uma felicidade em total dependência. Esse é o amor-Necessidade de Deus, onde nossa necessidade se torna amor.

Agora sobre o amor-Necessidade de um para com o outro, é o amor que todos precisamos mas não gostamos, pois é aquela Caridade capaz de amar os não amáveis. As vezes receber essa Caridade, da qual não queríamos necessitar, sem se abater ou agir de forma ressentida por receber, é mais difícil, e quem sabe, mais abençoada que dar. Todos recebemos Caridade, pois todos temos algo que não pode ser amado de forma natural, o amor de Deus está naqueles que assim amam.

Chegamos a conclusão:

Quando Deus entra em nossos corações temos novos amores-Dádiva e amores-Necessidade, eles são transformados. E não somente isso, poderá ser nos exigido um “podar” do amor natural, uma renúncia familiar, uma paixão errada, coisas difíceis em suas ações, mas fáceis de entender o porquê. Assim como essa necessidade de transformação dos amores.

A Caridade existe no amor natural, pois ele é tomado pela Caridade, vemos isso em ação em horas favoráveis no altruísmo. Encontramos o chamado para a Caridade nas nossas frustrações do amor natural, não verá isso somente se o egoísmo não deixar. O egoísmo compensa a nossa falta de caridade/amor nos fatos infelizes a respeito de outras pessoas (“se eu tivesse tido mais sorte com a minha Igreja local, poderia tê-los amado perfeitamente”). A necessidade da Caridade aqui está explícita, do amor-Necessidade do outro.

Em cada um de nós haverá algo que vai exigir, requerer, paciência, tolerância e perdão. Cabe a nós deixar Deus transformar nosso amor em Caridade. Esses tormentos e atritos podem ser benéficos, e onde houver poucos, a transformação pode ser difícil, se forem muitos, a necessidade de superação se tornará evidente.

Essa conversão do amor é necessária. Para subir ao Céu nós fomos sepultados junto com Cristo, nascemos de novo, vivemos uma vida nova agora não controlada pela lei, mas pela graça de Deus. Será que os nossos amores não estão inclusos? Não devemos ter nossos amores, e com eles as ações, transformados pelo Amor de Deus? Se nos unimos a Ele compartilhando Sua morte, estaremos também unidos com Ele por uma ressurreição igual.

Difícil a morte da nossa natureza.. Ou não deveria ser tão difícil na prática?

Não devemos buscar o Céu por motivo de conforto terreno, simplesmente porque não existe conforto terreno. Fomos feitos para Deus, despertaremos o amor no mundo ao sermos como Ele. Nossa fé se fortalecerá quando Deus for o centro, não motivos terrenos o centro, nem mesmo amores naturais.

Além dessas duas graças, agora vem uma terceira, o amor-Apreciativo por Ele, a que deveria ser a mais desejada, pois o centro de nossa vida não deve estar em nossos amores naturais, ou em qualquer outro lugar, se não n’Ele. Se um dia nessa vida verdadeiramente viveremos esse amor-apreciativo por Deus… somente Ele sabe!

Lewis C. S. e Jessica C. Guimarães
Enviado por ALMA GRANDE em 20/05/2021
Reeditado em 20/05/2021
Código do texto: T7260007
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