A Minha Mãe e Eu, de CHENG TCHENG

1911 - esta a data da Revolução Chinesa

que põe fim ao regime imperial, à dinastia Mandchu dos imperadores Qing;

e consequentemente, promove a mudança e modernização dos costumes, e a modernização da China.

No entanto, em 1914, dá-se grande reviravolta, e surge um usurpador que impõe uma nova guerra civil e, por fim, um regime ditatorial.

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Tomamos contacto com o que foi o movimento avassalador que em 1911 atravessou a China e depôs a Dinastia Qing, através da obra de Cheng Tcheng (1900-1997) - A Minha Mãe e Eu.

Aos 11 anos, o narrador toma parte na Revolução Chinesa que põe fim ao regime imperial.

É esta a revolução que põe fim ao domínio dos imperadores mandchu, que regiam a China desde 1644.

Cheng Teng – que era também poeta – publicou esta obra sob o título “Ma Mère”, quando se encontrava em França, em 1928, Note-se que o primeiro capítulo da obra foi publicado na revista Commerce, dirigida por Paul Valéry, que igualmente lhe dedicou um artigo de apresentação.

A obra foi reeditada no ano seguinte, como “A Minha Mãe e Eu”.

É uma narrativa movimentada, que nos dá grandes pormenores sobre o movimento revolucionário. Assistimos à fundação do partido KUOMINTANG (União Revolucionária Jurada), por Sun Yat Sen, em 1904, em Tóquio, onde se encontrava exilado, alguns anos antes do seu regresso à China.

Poderemos dividir esta obra em duas grandes partes.

A narrativa começa por nos apresentar o narrador, um menino de 11 anos que, tal como outros meninos, se integra no movimento revolucionário.

A evolução do movimento revolucionário é-nos apresentada com todo o pormenor, numa progressão épica. Vemos como a população estava cansada da administração Mandchu, que apesar de reinar na China havia 268 anos, continuava a ser considerada uma dinastia de usurpadores.

A segunda parte da obra põe-nos a par da acção oportunista de Yuan-Che-Kai (1859-1914) que desencadeia nova guerra civil e se auto-proclama presidente da China, assumindo um regime ditatorial. Assistimos ainda à acção corrosiva das potências europeias da época, que não desistem de comer no bolo da corrupção e negoceiam um empréstimo destinado a absorver grandes dividendos...

Entre a revolução de 1911 e a acção reacionária de Yuan-Che-Kai, o capítulo VII dá-nos uma panorâmica da revisão dos antigos costumes da China conservadora, e vemos a libertação da Mulher dos velhos tabus que a conservavam submissa, sendo a conservação dos “pés-de-lótus” um símbolo dessa submissão... Assistimos assim, à descrição comparativa entre o complexo cerimonial de um casamento à moda antiga, e a simplicidade de um casamento moderno, onde o grande símbolo é a mulher “com os pés naturais” (1).

“A Minha Mãe e Eu” dá-nos ainda uma panorâmica da antiquíssima civilização chinesa. No capítulo X, o Narrador converte-se ao Budismo, e é-nos dada uma aproximação à biografia de Buda e aos seus ensinamentos. E no capítulo XI, o Leitor é familiarizado com uma panorâmica da Poesia Chinesa!

Finalmente, o Narrador decide-se a vir à Europa para completar a sua educação. A Mãe despede-se dele e, citando antigos poemas, diz-lhe que estará sempre com ele. Se bem entendi, a Mãe, a autêntica Mãe, é a China e a sua antiquíssima cultura.

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Este livro, ou melhor, esta obra, é um hino de amor à China. O Autor, que também é poeta, pelo meio da confusão das guerras civis, louva a Cultura ancestral Chinesa, a sua Poesia, que atingiu pontos altos vários séculos antes de Shakespeare ou Ronsard... Não é uma obra de "propaganda", não é uma obra "educativa" para crianças... É um relato histórico, feito por alguém que viveu aquela época altamente incerta, insegura, conturbada. E são sempre interessantes os apontamentos sobre a condição social das Mulheres.

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Esta obra foi publicada em Portugal pelas Edições “Sírius”, em 1942, sendo o nº 5 da “série contos e novelas”, sob o título “A Minha E Eu”. E bem mereceria uma reedição.

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(1)- Sobre este detalhe da evolução dos costumes, libertando a Mulher dos antigos tabus, há uma obra muito mais recente, igualmente traduzida em Português - “Cisnes Selvagens” da escritora chinesa radicada em Londres, Jung Chang (Edições Quetzal, 1ª edição, 1995; reeditado em 2015). Nesta obra, a escritora desenvolve a história de sua avó, que foi concubina, de sua mãe, e a sua própria história.

Myriam

Junho de 2021

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 08/06/2021
Reeditado em 04/05/2022
Código do texto: T7274200
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