Sobre o filme Mary Shelley

Mary Shelley

Por

Vander Góis

Eu fiz, com os merecidos créditos, uma análise minuciosa dessa obra artística que contempla mais que a neurolinguagem e envolve também o exame do contexto histórico da produção. Esses aspectos permitem um acesso próprio à visão do diálogo atemporal com o mundo e o papel de Wollstonecraft Godwin como mulher do século e como a renomada escritora do clássico da literatura “Frankenstein” adentrou nas entranhas da arte ao cumprir com fidedignidade toda a obra artística. Eu vos escrevo apresentando um pouco o condão da obra literária e o filme. O filme acompanha o romance entre a jovem Mary e o poeta Shelley na Inglaterra. Enquanto vivem o amor, desfrutam do meio literário inglês do período que eles escrevem “Frankenstein, ou o Prometeu Moderno", clássico da literatura de horror. A narrativa construída pela diretora Haifaa Al Mansour possui duas dimensões, conforme o avançar do enredo: a ênfase no valor da arte para a essência e existência humana, sendo uma atividade que dá a poesia um tom complexo e diferente, além de poder servir de suporte para questionamentos dos valores sociais e políticos estabelecidos à época através do registro histórico sobre uma época em que os livros escritos eram raros e também era muito tímida a produção por mulheres; Mary estabelece uma nova conexão e rompe a barreira do impossível e escreve em 1818 o seu livro que é considerado como a primeira obra de ficção científica da história da literatura e conta a história de Victor Frankenstein, um estudante que constrói um monstro em seu laboratório. Mary Shelley escreveu a obra quando tinha 18 anos, num momento em que as mulheres não conseguiam expressar a sua voz na literatura. A primeira edição do livro entrou com o crédito subjetivo da sua autoria. A literatura é mostrada de uma maneira especial, pertencente a espiritualidade e ao pluriverso da protagonista que desde muito nova absorve o contato com a natureza e adentra nas dimensões dos livros. Mary lê muitos livros de terror e tenta escrever sua própria história; e os lugares por ela frequentados abrigam poetas e poetisas e outros artistas importantes do cenário cultural inglês e internacional. A cineasta ainda ressalta a força da literatura com algumas inserções da narração de trechos de obras lidas por Mary e artistas e com a edição do som do rabiscar constante do lápis nas folhas de papel. Isso demonstra o sentimento intrínseco da escritora e do escritor, o seu companheiro, com a folha e o papel, algo realmente emocionante de se ver. Quando a protagonista conhece Percy (Boothi), adentra na primavera de Van Gogh, o amor entre eles é construído, primeiramente, pela admiração da poesia e pelo poema; só, em seguida, desenvolvem uma paixão, retratada como uma revolução e é a partir do intenso romance que as primeiras convenções sociais são discutidas pelos personagens, afinal, a fuga natural de suas casas e famílias (acompanhadas de Claire, irmã dela), que desempenha grande papel, inclusive na intensidade de Byron e do Ciclo de Viena e que gera um choque no paradigma da sociedade. Nesse momento, o filme transita por diferentes locais para mostrar a tentativa de sobrevivência dos personagens através da arte. Os debates filosóficos são intensos e cheguei a chorar ao ver o filme pois a arte realmente conjugada a história da biografia dos autores e da literatura fazem com que o paradoxo se torne algo atemporal, um super furacão de emoções. O convívio do casal, com o passar do tempo amadurece com um diálogo firme de convicções sobre a anarquia e a tradição, as alterações cronológicas em suas vidas são bem preparadas dramaticamente. Ainda assim, os antecedentes para a criação de “Frankenstein” são trabalhados com grande eficiência pelo roteiro, interligando a personalidade de Mary e os acontecimentos de sua trajetória pessoal. A história de um cientista que tenta reanimar os mortos unindo partes do corpo de diferentes pessoas é uma alegoria para a saudade, ambos vivenciados pela criadora do livro durante um período de convivência com Percy, dessa forma, suas dores pessoais e o interesse pela ciência se fundem para dar origem à obra. Em busca de sua própria voz artística, entre a guerra e a paz, e o sentimento de amor paterno, ela ainda precisa lidar com os preconceitos de uma sociedade que não a reconhece como autora, com o amor materno e muito mais. A primeira edição foi lançada com autoria indireta na introdução da escrita por seu Pai e Percy, o que lhe fez, temporariamente, ser tratado como escritor da história, e isso foi feito por proteção, pois o livro impulsionou uma revolução, fez uma crítica contundente a França e defendeu com força voraz a Monarquia Inglesa. Tamanha complexidade de personagens e costumes é bem desenvolvida também por Fanning: Fez-se o papel de uma luta melancólica, neon, que chega na determinação de uma mulher que luta por direitos e por algo maior, por justiça. “Mary Shelley” apresenta os problemas da sociedade e aponta soluções da época e também o turbilhão político da geração de ouro; É por isso que “Frankenstein” se tornou um clássico a ser lido e relido. As questões do “Ser”, do “Dever ser” e do “Estar” são bem interessantes de se ver durante o filme. As questões psicológicas são superinteressantes e impulsionam o âmago do enredo e tornam a própria poética protagonista do toldo cinematográfico. O livro e o filme retratam preocupações sobre a natureza humana, costumes e o imbricamento com a natureza; as questões sócio filosóficas, as preocupações com o ambiente, o avanço da industrialização do livro, o lapso da proteção da saúde humana, a forte pintura do sentir e de uma geração que acredita que com um lápis e um papel se movem o mundo e que as forças das ideias e do pensar podem melhorar o mundo. O filme ama adentrar na alma humana na viagem do tempo e utiliza recursos musicais que mexem com quem está bem atento. Sugiro que leiam o livro e vejam o filme; sim, risos, e comam o baldão de pipoca e apreciem uma pepsi bem gelada antes ou depois do filme, por favor, pois acredito ser muito importante a atenção para poderem adentrar no mistério místico do filme e sentirem a tempestade do amor que os artistas retrataram com tanto talento e virtuosidade. Eu sonhei, eu fiz, eu realizei. Um abraço aos meus leitores e leitoras, com a ternura de sempre. Beijossss...

Vander Góis
Enviado por Vander Góis em 25/08/2021
Reeditado em 26/08/2021
Código do texto: T7328556
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