Autopsicografia.

Auto vem de si próprio; psico vem da psique e grafia vem de escrita. Ao ler autopsicografia como título, eu imagino como se fosse uma escrita de si próprio, que rememora todas as nuances do ser da própria pessoa. Sendo assim, ao ler o poema, vemos que a vários modos de se enxergar como o título se encaixa a ele. Uma das principais é justamente o fato do eu - lírico falar sobre ele e seu ato de escrever. O eu - lírico se expõe através da escrita, nos fazendo enxergar cada modo a seu ver.

Nos primeiros versos, Fernando Pessoa diz ''O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/que chega a fingir que é dor/a dor que deveras sente'', nesses versos, ele remonta os processos de criação de um poeta. Ele fala como se o poeta fosse tipo um ator das palavras, que finge tão bem, que acredita em sua própria mentira. Pois, em uma construção de sentido de um texto, nem sempre o poeta diz aquilo que ele sente, na verdade, o que ele sente, muitas vezes ele omite.

Continuando ele fala '' E os que lêem o que escreve,/ Na dor lida sentem bem,/ Não as duas que ele teve,/ Mas só a que eles não têm.''. Nesta parte, ele se refere aos leitores que imaginam, sentem, choram com as coisas que lêem. Ele fala sobre identificação, sobre sentir-se em um texto, mesmo que aquele sentimento não seja de todo verdadeiro, a pessoa se identifica e sente o sentimento exposto ali.

Então ele termina com '' E assim nas calhas de roda/Gira, a entreter a razão,/Esse comboio de corda/Que se chama coração.'' Aqui, ele fala da construção de sentido do texto para a pessoa que escreve, do ato de escrever em si. Enxergo essas frases como um ato de se fazer realmente o poeta da história, de se mostrar como o construtor de tudo isso.

Acredito que o mais interessante na poesia de Pessoa seja o fato dele mostrar as várias nuances do seu próprio ser através de seus heterônimos. Ele pode ser o pessimista, o otimista, ser quem ele imagina ser somente com eles.