Mais um final

Mais um folhetim televisivo da Globo chegou ao final. Uma verdadeira apologia à amoralidade.

Eu não acompanho as novelas diariamente, porque a repetição da maldade, da trama de ricos e pobres que se entrelaçam, a monotonia do bem derrotado, triângulos amorosos imorais e amorais, bons ingênuos e crédulos, maus espertos e inteligentes, capazes de tudo (enganar, fingir, roubar, matar) para alcançar seu intento, geralmente ganhar dinheiro fácil e poder, vinganças sem sentido, me cansam, me incomodam. Assisto aos últimos capítulos, quando os vilões são punidos, porém nesta última novela o autor se superou em impunidade e mortandade, casamentos inesperados, relacionamentos insólitos e o mal vitorioso em close na telinha.

Os autores querem colocar em evidência problemas que grassam em nossa sociedade doente, como discriminação, pedofilia, drogadição, roubo, assassinatos, vingança por motivos fúteis, mas o mal fica tanto tempo em evidência que a punição, quando acontece, não suplanta a impressão negativa que marcou os telespectadores. Isso sem contar que os atores se superam quando protagonizam vilões. Sua atuação é impecável, surpreendeu-me até em Passione o Gianecchini. Em algumas cenas, conseguiu me convencer. E os bons? São monocórdios, aqueles águas mornas, claro com exceções de atores já consagrados, quase todos, diga-se de passagem, vindos do teatro.

Neste mundo violento e trágico, a vida se encarrega de tramar sua própria novela, por que perder horas de lazer diante da telinha para ver desgraças? Não seria hora de algum renomado autor se aventurar a escrever uma novela em que o bem fosse a tônica, como naquelas das décadas 1950, 1960, convidando atores, que se dispusessem a interpretar personagens sem desvio de caráter e colocar no ar? Não precisamos nos entreter com desgraças e maldades. Criar personagens como Candê, humana, que conhecia o filho, mas o amava; como Bete, que respeitava a família e a aceitava como era; como a Estela, mãe, não a que enganava o traste do marido com homens que nem conhecia (era necessário isso?), mas a mãe, que apoiou o filho na hora que ele precisou; famílias unidas contra o mal. E também que os maus não sejam gratificados com uma boa vida numa ilha paradisíaca do Pacífico. Por favor! Isso não é o mesmo que dizer: Vejam, “o crime compensa”. É só ser experto o suficiente para usar as pessoas e safar-se, e ainda dar uma mãozinha para condenar alguém por um crime que não cometeu (a bem da verdade nem tão inocente). O telespectador quer que o crime seja punido, haja vista a audiência que teve a novela no capítulo da prisão de Clara, mais de 50%.

O dinheiro e o poder comandam o crime e a corrupção, e os traumas de infância justificam o desvio de caráter. Isso até pode acontecer na vida real, mas para isso existe tratamento. Novela é uma obra de ficção! Não é o que dizem? Então por que não levar ao ar um folhetim que não incentive as maldades e falcatruas, desvendando-as e punindo-as no desenrolar da trama, durante os mais ou menos seis meses de sua duração, tendo, lógico, as suas, consequências, e não deixar isso só para os últimos capítulos, a fim de deixar a lição de que realmente “o crime não compensa”.




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