A Montanha - Engenheiros do Hawaii

O videoclipe da música “A Montanha” não é tão variado de imagens em rotação e nem em sincronia, mas não menos rico em sugestibilidade de signos que remontam a uma mesma narração.

Tudo começa com a música incidental, “Alucinação” mais precisamente nos versos: “Amar e mudar as coisas me interessam mais”, esta é uma canção do Belquior cantada pelos Engenheiros.... Nesse início há um zoom em três montanhas, em escala de grandeza uma maior que a outra e além desse número mítico de elevações o que nos chama a atenção são as roupas do Humberto e dos integrantes da banda, trajes ao estilo militar, o que vem sugerir disciplina e liberdade para se alcançar o sonho. E nossa mente é atraída pelo cajado em mãos do Humberto. Logo em seguida nos é revelado que todos que acompanham Gessinger nessa aventura, sim o clipe em sua narrativa é uma aventura, tal qual indica a música, vão nos dois carros tipo “jeepe” e também estão com trajes tipo militar-aventura.

Como já disse, no começo do clipe HG parece se preparar para a subida levando em mãos algo parecido como um cajado, esse pedaço de madeira hora fixo verticalmente, hora estendido na horizontal, mostra ao menos duas coisas; primeiro que para se subir tem que se apoiar firme ao chão, temos que descer às cavernas da nossa inexplicável constituição, e até a solicitude vinda de uma momentânea solidão do Ser e assim, traçar o intangível mapa da consagração. Que ocorre em festa, “se eu pudesse ao mesmo levar todos vocês comigo” cantou nosso ídolo na gravação dos Novos Horizontes. De outro lado o cajado na horizontal, mostra amplitude, um mundo novo e vasto que se mostra e se expande ao infinito, conforme o conhecimento e vida que há para quem alcançou, as barbas de Deus numa escalada triunfante que nos dá um novo horizonte para tudo aquilo que já foi, é e será. Mas nem todos podem subir ainda, muitos talvez permaneçam no vale, ou nas curvas da longa estrada, na Infinita Highway, mas que só é mesmo a Lei quando se tem Amor.

Os dois momentos do cajado vertical e horizontal formam uma cruz, símbolo máximo para quem quer sabedoria, e quem sabe mesmo, vai à frente, abrindo caminho, indicando passos, aos demais... Assim vai Humberto, ele é seguido por todos.

Ele é o primeiro a avistar a montanha, e o primeiro a subi-la, ao apontar para ela para o alto, o gesto é repetido quase instantaneamente por um integrante da banda?, Humberto vai em pé, no carro da frente, um carro menor, mas talvez mais ágil. O vento toca seus cabelos, a vida se liberta de tudo que não é movimento, um sorriso colhe o destino, o pó e a poeira ficam para trás. Param os carros e descem, há uma cerca no meio do caminho, e não poderia ser diferente, a montanha está em área restrita, e o que pode ser uma afronta aos incautos, pois podem se perguntar sobre o porquê da propriedade particular, é na verdade um fac-símile das verdades ignotas do espírito, já que a ninguém se é imposto a subida, só sobe quem quer tomar Sol nos poros da alma, e receber da Lua e das estrelas o alimento que deu vida às cores, impossíveis de narrar. “Se eu pudesse ao menos te contar, o que se enxerga lá de cima”. Por isso a cerca, por isso os dois reinos, uma divisão fácil de superar, mesmo sabendo que os arames são farpados. Mas se com os olhos fechados também se vê, então oxalá podemos ao menos imaginar o que se vive lá em cima... Não há fé sem imaginação.

No capô do jipe do Humberto está acentuado o louvor do mistério, a Estrela de 5 pontas, a estrela que é homem livre, ou quando três pontas apontam para baixo é desejo insólito de vários eons, quase eternos de espeleólogos.

Enquanto luz e trevas brincam no jardim da realidade, Humberto e sua turma correm, livres e à vontade, querem logo chegar, querem logo voar, como pássaros que conhecem os segredos dos céus. Essa emoção, esse ponto de partida eufórico é necessário no começo do trajeto, para não focarmos nas dúvidas que nos tornam abjetos, algo fora da Lei. A única e grande Lei: The Love. Depois desse impulso insólito que deixa o ego para trás, depois quando fronteiras do cognoscível são quebradas, vem a confirmação da serenidade e dos votos de silêncio: agora é hora de darmos um passo de cada vez!

Sim os “novatos” levam sua bagagem, já para os “tão velhos quanto o mundo” só é preciso a roupa do corpo. E todos sem exceção, descem antes de subir, até o momento certo, onde o Humberto dá um pequeno salto, sinalizando que é hora se começar a subir. Ah meus caros leitores, se esse salto fosse num sonho não estaríamos mais aqui. Voaríamos para bem longe, sempre há algum lugar legal para ir. Todos param e descansam, afinal não estamos numa corrida, estamos numa escalada. E no derradeiro ou último descanso, lá no alto, nos tornarmos nós mesmos: “atores sem papel”. A banda já chegou, ela toca para os viajantes que estão no caminho. “Sem final feliz ou infeliz” o céu é delicadamente azul, com algumas nuvens se desmanchando brancas. A tela é dividida em 6 telas menores, a que mais me chama a atenção é a tela com a pequena fogueira ardendo em chamas... Humberto dá mais um salto, como quem mergulha no infinito acréscimo da música, código para outro reino, outra dimensão. E ele vai à cavalo, atualizado como helicóptero que na sua materialidade corpórea é a corporeidade em comunhão com o viajantes. Há despedidas. Há apertos de mão. A nave decola e quando todos pensam que ele partiu, para o que Porto Alegre se revela. Uma surpresa. Ele põe uma perna para fora, mostrando que por mais alto, distante e inatingível que seja, e é, ele não se esquece da gente daqui debaixo, seus fãs, seus seguidores, pois há um pé no paraíso é outro na nossa mente e coração. Oh, e como tem curvas esta estrada... E como há de haver muitos sonhos se realizando...

Leonardo Daniel

21/09/09