Cinemática e a origem de tudo

O que somos e como viemos à existência? Eis a pergunta que cientistas, místicos, religiosos e indivíduos tanto se esforçam para responder. Alguns dizem que somos matéria habitada por energia, que seria o espírito, a alma, que se retira de nós, por isto o corpo morre, mas essa energia continua vivendo independente do corpo. Somos isso mesmo, ou somos matéria produzida pela energia que é produzida pela matéria, sendo, portanto, as duas coisas inseparáveis? O que seria a matéria então? O que seria a energia? Há distinção (ou separação) entre esses dois elementos? Se há, que distinção há?

Claro que a resposta que darei não terá o apoio de ateus e evolucionistas, pois envolve Deus. Tampouco, entretanto, pretendo dar uma resposta científica. Mas, com um pouco de conhecimento da Bíblia e outro da ciência, me atrevo a dizer que somos um movimento contínuo de Deus. O quê, porém, seria isso?

Por um lado, a Bíblia diz que por (através de) Sua Palavra Deus fez todas as coisas. O ser humano, porém, Ele fez com as mãos. No evangelho de João, no primeiro capítulo, diz que Jesus é o Verbo de Deus, que este Verbo estava com Deus desde o início, que o próprio Verbo é Deus e que por Ele, através dEle (por intermédio dEle) e para Ele foram criadas todas as coisas. Sabemos que verbo é ação do sujeito. Em algumas versões da Bíblia a palavra Verbo é traduzida por Palavra. Isto concorda com a própria Bíblia onde ela diz que por Sua Palavra Deus fez todas as coisas. A Palavra é o Verbo e verbo é ação do sujeito. Deus, portanto, é o Sujeito e a ação que traz o Universo à existência e faz que esse Universo permaneça existindo.

Não é difícil entender o poder da Palavra de Deus como motor do surgimento de tudo, pois, embora não tenhamos o poder de falar e com nossa fala mover os elementos, materializá-los, dar-lhes forma, etc., conhecemos o poder e o efeito de nossas palavras, especialmente o psicológico e cultural que produzem em nós e nas pessoas. Isto sem considerar que, de certa forma, tudo que realizamos e concretizamos se origina em nossa mente, se registra nos projetos e se transmite em vislumbre e ordens de execução através de palavras. Deus, porém, mais eficientemente que nós, fala e tudo acontecem, formando-se e vindo à existência. Sua Palavra é a ação, o motor do surgimento e permanência dos elementos.

Por outro lado, a premissa científica do que é o Universo diz que o Universo é toda matéria que existe e que matéria é igual a energia, que é igual a espaço e tempo. A premissa diz que a matéria não existe sem energia e energia não existe sem a matéria.

Hoje, quando já se sabe que o átomo (não divisível) pode ser dividido, definindo o que forma um átomo, diz-se que ele é um núcleo central composto de prótons (carga positiva) e nêutrons (sem carga), equivalendo a noventa e nove por cento de sua massa. Os elétrons (carga negativa e massa insignificante) revolvem em torno do núcleo com trajetórias em todas as direções, formando a eletrosfera.

O átomo trata-se, portando, de um elemento vazio, cuja eletrosfera, o vazio, é dez a cem vezes maior que seu núcleo, dependendo da quantidade de elétrons. Todavia, sabemos que ele é a base de todos os elementos, desde os mais densos, como o ferro, até os menos densos, como o hidrogênio, que compõe a água. Como pode então a base de matérias sólidas como o ferro ser um vazio assim? O que é então o ferro?

Sabemos que não existe diferença entre os átomos de um elemento e os de outro, exceto seu tamanho e carga elétrica. A graduação elétrica determina o tipo de moléculas que, agrupados, os átomos formarão. Quanto mais energia positiva, mais agrupados eles ficam. Quanto mais fechado o agrupamento, mais denso é o elemento que ele forma. E, assim, com essas variações, eles se agrupam em moléculas e as moléculas se agrupam em diferentes elementos e os elementos combinados formam a terra, a madeira, a carne e tudo o mais.

Portanto, o fator de variação dos átomos para fazer do agrupamento deles diferentes tipos de matérias não é o serem eles diferentes uns dos outros, tampouco terem diferentes funções, mas a variação elétrica dos átomos nos diferentes agrupamento. E o que faz o átomo ser o núcleo e as sete camadas eletrônicas é a energia, que é sua matéria. Entretanto, o que se percebe é que o átomo não é matéria, mas energia. Ou seja, acontecimentos.

Logo, se a matéria do átomo nada mais é do que energia, a matéria não existe primordialmente (antes da energia). A energia é que, depois de produzida, resulta no átomo que dá origem a matéria. Por esse prisma, matéria não é a origem da energia. Esta é que produz a matéria. Entretanto, sabemos que, posta em movimento, a matéria pode produzir energia, fazendo a matéria a vez de motor (dínamo). Nesse caso a matéria funciona como o elemento primordial que produziu e produz a energia que deu origem a matéria e o Universo e mantém tudo existindo. Todavia, antes do instante primordial do surgimento de tudo não havia matéria em movimento para produzir energia que produziria a matéria do Universo. Assim, o que veio primeiro foi a energia e dela se originou a matéria. Entretanto, pesquisas dão evidência de que energia pura é mesmo matéria. De qualquer forma, se uma ou outra coisa são verdade, energia não existe sem matéria e matéria não existe sem energia. Entretanto, ainda assim a energia veio antes da matéria, sendo essa energia produzida por uma ação externa.

Nem mesmo a energia existia antes do momento primordial do Universo, tampouco aí estavam o espaço e o tempo, pois, se estivessem, estariam porque continham matéria e energia e daí já existiria também o Universo. E, embora energia tenha surgido antes da matéria, ela não existiu um instante sequer antes da matéria e tampouco surgiu sem causa. Ela foi produzida exatamente para produzir a matéria. Mas não foi a energia que deu início a tudo. Algo deu início à existência primordial da energia e no mesmo instante passou a existir a matéria. Algo deu início a produção de energia, pois energia não existe, não permanece e não surge sem motor (sem movimento), a menos que seja armazenada. Entretanto, ainda armazenada a energia não é algo, mas ação, acontecimento, movimento e, como todo movimento, tem início, continuidade e cessar se para o motor que a impulsiona.

A energia elétrica é a forma como a energia do movimento pode ser captada e armazenada. Outra é a fotossíntese. Entretanto, mesmo armazenada, a energia é movimento, basta ver que a percepção da energia elétrica é chamada de choque (ação) e circuito, que é movimento em círculo. Observemos que a energia elétrica se desloca, mas não para mudar de lugar, mas porque ela é o deslocamento, ação, movimento.

Energia, portanto, é ação, movimento, funcionamento. A energia elétrica pode ser produzida por um reator, um dínamo, um alternador quando esses equipamentos produzem movimento de bobina em torno de um eixo. O movimento produz energia na forma elétrica. O movimento, porém, já é energia. De igual modo, o movimento das nuvens e das águas produz descargas elétricas e os corpos vivos, como os animais, produzem grande voltagem de energia elétrica, que algumas vezes percebemos em forma de choque e faíscas quando tiramos um blusão de lã nos escuro. Isso tudo por causa dos movimentos de minúsculos elementos e órgão no interior dos organismos.

Aí podemos ver que a energia depende de ação externa para ser produzida e nesse caso é o movimento da matéria que produz a energia elétrica, mas o próprio movimento é energia.

Foi um movimento que produziu a energia que produziu a matéria, o espaço e tudo o mais que formou o Universo. Não foi, todavia, o movimento de uma explosão, pois não havia energia para produzi-la. Também não foi o movimento do vento, pois o vento é uma energia produzida por matéria (água em movimento). O vento carece de energia que o produza. Somente pode ter sido uma ação externa, feita de fora do espaço, tempo, energia e matéria que compõem o Universo que conhecemos. A força de Deus produziu o movimento que produziu a energia, que produziu a matéria, o espaço e o tempo do Universo, pondo tudo a funcionar, mas o movimento decorrente desse funcionamento não mantém a existência do Universo, nem o faz funcionar. Ele sempre precisa ser impulsionado pelo braço externo, dependendo do movimento primordial para continuar existindo e funcionando. Assim, a própria cinemática derruba a teoria do relógio e do relojoeiro, pois nenhum movimento pode acontecer sem quem o produza e, portanto, a energia motora primordial do Universo jamais teria surgido da inércia, sendo que antes de existir o Universo nada existia para fazê-la acontecer e sem quem continue a produzi-la continuamente o próprio universo deixará de existir, pois o movimento que o produz cessará.

Neste ponto alguns dirão que então existia o Universo ou um Universo contendo essa força antes do nosso Universo vir à existência e assim não foi aí o surgimento do Universo. Neste ponto não terei mais como contestar, pois terá se esgotado a argumentação. Para contra-argumentar, teria que especular que nosso Universo está dentro de um Universo maior, que é o de Deus. Entretanto, obviamente o Universo dentro do qual estamos é o de Deus, ou seja, onde Deus está, pois Ele se move por este Universo como diz a Bíblia. Ele o fez existir e agora está dentro dele, fazendo ainda assim ele existir. Não sabemos, porém, se este Universo esta dentro de um maior. De qualquer forma, se está, como distinguiríamos os limites entre este e aquele. Seria como um lago dentro do mar. Provavelmente, porém, este Universo não está dentro de outro. Então alguém perguntaria em que espaço estava Deus quando produziu o movimento que Deus origem ao Universo. Diria que não tenho como responder. Tais informações não estão disponíveis. Até aqui os argumentos se baseiam na Bíblia e entendimento de ciência. Quanto a que espaço continha Deus, a Bíblia não disse nada e muitos cientistas nem mesmo conseguiram identificar Deus.

Fato é que o movimento (energia que traz a matéria à existência) não pode parar, pois parando o movimento a energia cessa e a matéria desfaz-se, deixa de existir. A matéria é o resultado de um movimento contínuo chamado energia. Assim como girando o dínamo devagar, depois aumentando a velocidade aos poucos e reduzindo lentamente até parar, a lâmpada acende fraca, vai brilhando mais e mais e depois vai diminuindo a luz até extinguir-se. Assim a matéria passa a existir, multiplica-se e vai diminuindo até deixar de existir quando o movimento em desaceleração para por completo. De igual modo, não somos matéria morta contida de energia que lhe dá vida. A matéria e a energia não são dois elementos que se combinam e passam a funcionar. Uma e outra são o mesma. A matéria é resultado da energia que é movimento; a matéria é a própria energia, o que encerra as teorias da existência do espírito, energia vital que permeia o corpo e, ao morrer, se separa do material (o corpo), desencarnado e então vivendo independente. Nosso corpo, a matéria que o compõe, é a própria energia. Ambos, energia e matéria, são a mesma coisa. O corpo não contém energia, ele é energia e produz energia pelo movimento da própria energia em forma de matéria, bem como pela energia agindo na matéria, através dela e para ela.

O que seriam então os espíritos – os demônios, os anjos do céu e Deus? Os demônios são anjos caídos e, como os não caídos, eles são energia e não diria energia pura, pois também somos energia pura e pura energia. Todavia, como eles podem ter essa forma que não obedece às leis da física, se também são energia em forma de matéria, pois energia é matéria? Eu diria que em certo ponto a forma material que o corpo deles tem não está sujeita ás leis da física que conhecemos. Ou seja, sua energia é combinada de forma um pouco diferente fazendo distinguir-se um pouco de nossa forma material, permitindo-lhes eventos físicos que nossa combinação não permite. Entretanto, eles são a mesma energia que somos, resultantes do mesmo movimento contínuo de Deus.

Quanto a Deus, a Bíblia diz que Ele é a fonte de luz – a fonte de energia. Não poderia dizer, porém, se Ele é a fonte porque faz o movimento que produz a luz ou se Ele é a fonte porque é a própria energia. Entendo que Ele próprio é a luz e a fonte. Nesse caso, Ele seria o movimento que produz movimento. Mas, não podemos afirmar, apenas parar por aqui.

Quanto a nós, não somos matéria contendo energia que a faz funcionar. Somos energia pura e por inteiro, tanto em estado de movimento quanto armazenada na forma de matéria e, nessa forma, funcionando para produzir energia que mantém a matéria. Devemos entender armazenada em forma de matéria lembrando que, seja nos átomos, matéria primordial, nas células, complexa composição de elementos atômicos, e nos órgão do corpo, a energia está em constante movimento. No primeiro nível para formar tudo. No segundo nível, para fazer funcionar e produzir mais energia funcional. E o nível final, para dar suporte a existência e reposição de elementos de construção, pois o funcionamento do corpo (a energia que ele produz) não produz a matéria da qual se constrói, apenas a reprocessa após retirar das fontes de energia armazenada, os alimentos, que, em última análise, são retirados da terra. Somos, portanto, movimento (energia) desde a mais minúscula dimensão de nossa construção até a mais complexa função de nossos órgãos e, certamente, como indivíduos somos energia em movimento no corpo social, no planeta e no macro cosmos. Todavia, não somos transcendentais e tampouco deuses.

Portanto, nada mais somos do que o movimento (ação) permanente de Deus e para continuarmos existindo Ele precisa continuar agindo. O movimento ininterrupto de Deus é a energia contínua que deu origem à matéria e faz que permaneça, o que somente acontece porque esse movimento é incessante. Somos um acontecimento permanente do Criador de todas as coisas e, como a luz somente permanece enquanto o dínamo gira, somente existimos enquanto Deus produz o movimento que nos origina e mantém. Assim como o movimento do dínamo é a fonte da energia que ascende a lâmpada, Deus é a fonte do movimento que nos traz à existência. Somente continuamos existindo porque Ele não permite ao acontecimento que é nossa existência cessar.

Portanto, não tem como estarmos desligados de Deus e continuarmos existindo, pois somos um movimento dEle. Todavia, embora a explicação dê a entender, a nós, seres humanos, Ele não nos produz sem dar-nos a opção de queremos ou não continuarmos sendo produzidos. Assim, temos a opção de desligar-nos dEle, mas ainda assim experimentaremos os efeitos desse desligamento. Ele produz nossa existência, mas nos dá autonomia para gerenciarmos a qualidade dela. Se decidirmos desligar-nos, Ele continua produzindo nossa existência para que nossa forma de gerenciamento nos vá desligando lentamente, até que esse desligamento nos impossibilite de continuar funcionando e extinga. Nesse processo, entretanto, temos tempo para ver e sentir os efeitos da desestabilização e decidirmos pelo retrocesso do processo. Escolhendo manter-nos ligados, vamos gerenciando nosso funcionamento de forma a perpetuar nossa existência, mas ainda assim a energia do nosso corpo desestabilizará e morreremos. Entretanto, no dia em que Deus deixará que todos os independentes se extingam, Ele restaurará a existência aos que tiverem bem aprendido a gerenciar-se. E esses nunca mais se desestabilizarão e tampouco porão o suporte de sua existência em desestabilidade.

Wilson do Amaral