Variações de pseudociências
Entre as pseudociências, existe um espectro de variação de legitimidade científica, de modo que, algumas pseudociências estão mais próximas de uma ciência verdadeira do que outras. Nesse texto, usarei exemplos para ilustrar suas diferenças.
1. Pseudociência mais evidente
Se fundamenta em ideias, pensamentos e/ou métodos muito fracos em legitimidade científica, também pelo absurdo lógico e audacioso de condenar a validade factual ou empírica de conhecimentos básicos. Tem o potencial mais baixo (porém, existente) de infiltração no governo e na educação superior e, portanto, de causar problemas sociais.
Terra Plana
É um bom exemplo de pseudociência mais evidente, por se tratar de uma crença carente de evidências científicas sobre o formato do planeta Terra, de que seria plano e não arredondado (geóide, em forma de elipse), que almeja invalidar as bases desse conhecimento.
2. Pseudociência mais típica
Se fundamenta em ideias, pensamentos e/ou métodos com baixa legitimidade científica, fracamente fundamentados em hipóteses lógicas ou fatos, mas com maior potencial de convencimento do que a primeira categoria de pseudociência e, portanto, de causar problemas à sociedade.
Anti-vacina
É um bom exemplo de pseudociência típica, por ainda apresentar alguma lógica, mesmo que insuficiente para se sustentar integral e racionalmente, tal como a de que, tomar vacinas pode estar relacionado a um enfraquecimento do sistema imunológico ou que algumas vacinas podem ter efeitos colaterais graves. Então, essa segunda afirmação não está totalmente equivocada, porque pode acontecer, mas em casos específicos, como no caso das vacinas de RNA que foram desenvolvidas em caráter de urgência para a pandemia de COVID-19 e estão associadas a uma rara ocorrência de efeitos adversos. Mas isso não as invalida totalmente e nem as outras vacinas, ou suas capacidades de nos proteger de doenças infecciosas. Também não significa que apenas as vacinas que estão relacionadas com efeitos colaterais que os causam, mas também os próprios organismos de certos indivíduos que podem apresentar reações inadequadas à inoculação, por causa de fatores subjacentes.
3. Pseudociência mais discreta ou mais próxima de uma ciência legítima
Se fundamenta em ideias, pensamentos e/ou métodos que aparentam ser cientificamente legítimos, mas deixam uma boa margem de ceticismo quando são colocados à prova e, portanto, com grande potencial de ser rebaixada para uma categoria de pseudociência. Também apresenta uma maior capacidade de convencimento, de tal maneira que muitas desse tipo já se encontram infiltradas dentro das universidades, usurpando os espaços das verdadeiras ciências que falsificam (são, em sua maioria, de "pseudociências do bem", que eu comentei nesse texto: "Sobre as 'pseudociências do bem', 'de esquerda' e o mais grave").
Epigenética
É cientificamente legítima a ideia de que o meio pode ou impacta os organismos dos seres vivos. Mas a epigenética parece que exagera essa ideia ao ponto de desprezar o papel da genética ou da própria biologia no desenvolvimento e no comportamento de humanos e de animais de outras espécies, delegando-a uma menor influência, ao invés de considerá-la e de que até pode ser mais influente que o meio, desprezando as evidências indiretas que a corroboram, baseadas nos padrões verdadeiros que têm sido percebidos sobre hereditariedade de características psicológicas e cognitivas e sobre a estabilidade expressiva dessas características a longo prazo ou sua baixa responsividade à intervenções sociais.
Um exemplo complexo de pseudociência que pode cair, ao mesmo tempo, em mais de uma das categorias propostas: negacionismo das diferenças sexuais de natureza biológica, base para a ideologia do transexualismo. Porque se trata de uma distorção de um conhecimento básico, a sexualidade humana, que o torna mais similar a uma pseudociência mais evidente ao mesmo tempo que apela para recursos teóricos mais sutis de deturpação teórica que o torna mais próximo a uma pseudociência típica.