Bergman e o demônio humano.

Eu,por mais pessimista que seja,não considero o homem mal por essência.Acredito de uma maneira mais firme que o homem é um animal que sente que carrega um certo peso perante a vida e a existência, e por isso surge os considerados conflitos.Dos conflitos,se vê a vida em sua plenitude,e naturalmente se vê as vísceras que o lobo acabou lhe arrancar.

No mundo de hoje,é natural sentir um mal estar,e o mais natural ainda é esse marketing(marketing vagabundo,aliás)extremamente otimista que se vende por aí.Mais do que nunca,é vendido entre os quatro cantos do mundo histórias de ninar e frases de motivação.Talvez a humanidade quer esquecer um pouco como é sentir o gosto da sarjeta,ou como a vida pode se desenvolver de uma forma muito dolorida.Alguns dizem que o mundo melhorou,pra mim só vejo crises,e nada mais.

Habitando nessa terra,possui essa forçação de barra onde todo mundo tenta ser desesperadamente feliz.Existe palestra falando que tudo de bom vai acontecer no futuro,existe livros de auto- ajudas para falar que tudo é possível,e existe filmes como “A Cabana” onde tudo na vida tem uma ordem muito clara.

Nesse mundo besta,onde vende a tal idéia de extrema felicidade(E essa felicidade é super falsa) na qual podemos ignorar o terror que habita as nossas almas,considero essencial o trabalho do cineasta Ingmar Bergman.Hoje ele faria 100 anos se estivesse vivo.

O cinema de Bergman é cinza,nebuloso, cheios de conflitos.Melhor:os seus personagens estão sofrendo vários tipos de conflitos,alguns tem até a desgraça em seu berço.Assim como também tem no mundo de Bergman um ceticismo forte,na qual é comum sentir uma certa ausência divina,ou um certo sentido da vida.

No mundo de Bergman,não interessa se você é do bem,ou do mal:as tragédias da vida sempre vão lhe ocorrer.Talvez a diferença é como você lida com isso.

Então veja,todos os personagens de Bergman(ou os seus considerados protagonistas)parecem sofrer,e bastante.Mônica sofre,pois ela é escrava do desejo ,e não dá pra ser escrava do desejo sem ter consequência.Antonius Block sofre,pois ele esta jogando com a morte, reavalia a própria existência,e começa a duvidar sobre a vida após a morte. Isak Borg é atormentado por sonhos que mostra o seu passado.O casal do filme “Cenas de um casamento” brigam,discutem, e se perguntam se ainda exista amor no meio de uma rotina cheias de banalidades e contradições.Em “Sonata de Outono” existe uma filha e uma mãe atormentadas por uma relação conflituosa,e entre outras coisas.

Ver o cinema do Bergman é mergulhar nas profundezas de nossas tristezas,de nossos desejos e naturalmente de nossas tragédias.No fundo,temos medo,temos muito medo.Temos medo de perdermos algo no meio do caminho,temos medo de que os nossos sonhos românticos não estão em harmonia com a rotina.Temos medo de sermos levados por um desejo forte ,ao mesmo tempo que temos medo de levarmos uma vida cheia de coisas banais,sem aventuras,sem paixões.

Vendo o cinema de Bergman,é muito possível ver um retrato,porém esse retrato é duro,sombrio,e as vezes cruel demais.Alguns não vão gostar, pois podem sentir um soco no estômago.Mas a dura questão é que podemos apenas encontrar a felicidade quando soubemos como é(mais ou menos) cair num precipício sem fim.

O cinema de Bergman esta pra isso.

CaiqueM
Enviado por CaiqueM em 12/07/2018
Reeditado em 30/09/2018
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