Como foi ver 'Superman', o de Christopher Reeve, na tela grande (publicado originalmente em 15/12/2018)

Chegou o dia. Não pensei que pudesse chegar... Só de ver o cartaz de anúncio eu me arrepiei. E ele lá estava, a capa vermelha, o braço esticado com a mão fechada. Voava. O vermelho e azul eram as cores do herói.

Assistir a 'Superman: O Filme' (1978) na telona, em comemoração aos 40 anos de estreia, foi demais. Nem sei qual palavra usar. Foi o quarto longa-metragem antigo que tive a oportunidade de ver no cinema – 'O Exorcista' (1973, vi em 98), 'E.T.: O Extraterrestre' (1982, vi em 2012) e 'Grease: Nos Tempos da Brilhantina' (1976, vi em 2016) foram os outros. Mas com Superman foi diferente.

Lembro-me de uma participação de Selton Mello no programa 'Altas Horas', de Serginho Groissmann. Estava a lançar 'O Filme da Minha Vida' (2017). De repente, o apresentador soltou a questão à plateia, também aos convidados: 'Qual é o filme da sua vida?'. Pensei alguns segundos apenas. 'Superman' foi a minha resposta. Sem dúvidas. Marcou a minha infância. Seguiu forte na adolescência. E na fase adulta o seu caminho permaneceu intacto.

Revi-o mais de 50 vezes, por baixo... Cem! Pode ser? Pode. E, claro, na versão dublada, via Herbert Richers. Quando a Globo anunciava na Sessão da Tarde, vibrava somente por ver o comercial. A música, a trilha. Nossa! Nada semelhante. Christopher Reeve com a fantasia de Super-Homem era a minha miragem da ingenuidade, pureza.

Quantas e quantas vezes peguei alguma toalha de casa, pendurei nas costas e saí por aí com o desejo de pular dos prédios. Exageros à parte, a minha aspiração em ter qualquer coisa do Superman sempre foi grande. Ou o boneco, ou as revistas de quadrinhos, ou a roupa, enfim. Qualquer coisa. E tive, quando criança. Via os desenhos no SBT.

Quem não se lembra do 'Superamigos', ou da série 'Super-Homem: Álbum de Família'? Traços-raiz, e antes da sucessão de desencontros nas tramas (ele chegou a morrer! Vejam que absurdo...). Volto ao filme. Nasci exatos 37 meses após o seu lançamento. Desde 2003 enviava e-mails à rede de cinema famosa e pedia a exibição. Primeiro, pelos 25 anos. Depois, 30, 35. E nada.

Agora, aos 40, finalmente aconteceu. Quando soube, custei a crer. Para analisar, inicio pelo elenco coadjuvante. Richard Donner e produção escolheram a dedo e muito bem. Estrelas da sétima arte dos anos 1930, 40, 50 (Marlon Brando, Glenn Ford, Jackie Cooper, Phyllis Thaxter) se juntaram a estrelas de médio porte das décadas de 1960 e 70 e que fulguraram de forma impressionante aqui (Margot Kidder, Valerie Perrine, Terence Stamp, Ned Beatty, Susannah York, Sarah Douglas, Marc McClure).

Christopher Reeve e Gene Hackman são casos à parte. O primeiro, não poderia ter sido melhor apontado. Preparou-se de maneira até desgastada ao papel. Treinou, ficou forte, aprimorou as técnicas da escola de teatro que frequentara anos antes e pôs em prática. Se alguém perguntar a alguém sobre o rosto do Super-Homem, a resposta será na bucha: é Reeve.

O segundo, havia rodado obras de calibre alto no ecrã, como 'Operação França' (1971) e 'O Destino de Poseidon' (1972), para citar dois. Tanto ele como Brando encrencaram a vida de R. Donner a aceitar o convite. Hackman tinha um bigode característico e não queria raspar. O diretor conseguiu convencê-lo. 'Tiro o meu também se você arrancar o seu', disse. O futuro Luthor tirou. Donner, idem: só descolou os pelos postiços do buço. Hackman caíra numa pegadinha.

Agora encaminho-me ao fim e me refiro aos pormenores. Quase as lágrimas me vieram ao comprar o ingresso. Ainda estava um tanto incrédulo com a situação: eu veria 'Superman', aquele filme da minha infância, que vibrava desde sua trilha sonora (John Williams pode ser reverenciado eternamente, no mínimo, pela criação da música), numa telona, com som remasterizado, a imagem perfeita.

Sentei-me na poltrona. Não continha toda a minha ansiedade. A exibição começou, comerciais, trailers... E pronto. A música, os créditos, a viagem de ida duma emoção sem paralelos. Aguentei as mais de 2 horas sem chorar. Pelo menos isso. Fiquei até as letrinhas terminarem e surgir o 'Next year: Superman II'. As filmagens ocorreram por um bom tempo simultâneas– o um e o dois– as confusões de script surgiram, houve brigas e decidiram fazer na ordem certa. Melhor.

Nos EUA, 'Superman: O Filme' estreou em 15/12/1978. No Brasil, em 6/4/1979. Nos teasers de pré-estreia, o anúncio dizia: 'Você verá que o homem pode voar'. Acertaram na mosca. Sou testemunha. O homem voou. No caso, Christopher Reeve, nosso eterno Superman. A nota triste foi a perda de Margot Kidder (1948-2018), aos 69 anos. Ela viria ao Brasil participar do evento para as comemorações dos 80 anos de criação do personagem e 40 da estreia da fita.

4/12/2018: um dia que ficará marcado para sempre em minha vida.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 05/12/2018
Reeditado em 17/12/2018
Código do texto: T6519447
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