Fôlego prendido (publicado originalmente em 13/6/2020)

Ingrid Bergman e Gregory Peck estavam com 29 anos ao filmarem 'Quando Fala o Coração' (1945), de Alfred Hitchcock. A primeira já contava 13 anos de estrada e um punhado de longas na bagagem. Peck estava no 4º trabalho, ainda arrastava traços de inexperiência. Ao lado da dupla, Michael Chekhov, um ator russo radicado nos EUA, de larga tradição.

O roteiro, baseado no livro 'A Casa do Dr. Edwardes', se passa num sanatório. Constance (Ingrid), psicóloga jovem, audaciosa, administra e assiste aos seus pacientes. Recebe a notícia de que Edwardes, médico que outrora comandava o hospital, retornará ao seu posto, em substituição a Alexander (Chekhov). Ele chega (Peck), mas há algo de estranho no ar.

As reações de Edwardes são esquisitas e o médico tem ataques de nervo. Logo Constance desvenda o caso e desmascara o agora descoberto John, um homem com traumas passados. Mas não para aí.

Estamos longe de caminhar à trilha final de 'Quando Fala o Coração'. Há pelo menos 3 partes na trama, e temos como compreendê-las conforme o fio do novelo é puxado... O Mestre do Suspense nadava de braçada neste setor. Especialista em prender o fôlego do espectador, Hitchcock encontrou nos personagens da obra as nuvens da memória e as fumaças turvas de lembranças do cotidiano, principalmente de John. A presença da polícia e a sensação da culpa por um suposto inocente são ingredientes que não podem faltar em seus filmes.

No Oscar de 1946, a fita levou o prêmio de trilha sonora em drama, e concorreu em outras 5 categorias - filme, diretor, ator coadjuvante (Chekhov), fotografia em preto-e-branco e os efeitos especiais. Na verdade, o protagonista é a psicanálise, pela 1ª vez abordada com tanto destaque.

O roteiro se debruça em mexer na mente dos personagens e tentar vasculhar seus segredos, às vezes obscuros demais para serem verdade. E há a contribuição impactante do pintor Salvador Dali em pelo menos 2 sequências um tanto oníricas que representam os sonhos do personagem de Peck. A tesoura cortando as cortinas com aqueles olhos enormes é bastante representativa. Duração: 111 minutos. Cotação: bom.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 29/06/2020
Código do texto: T6991009
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