POST IT - CINEMA: PARA ROMA, COM AMOR

Minha impressão inicial sobre o filme foi de dúvida e alguma perplexidade quanto à qualidade, vis-à-vis as obras mais recentes. De início, enfatizo! Com o desenrolar das cenas percebi que estava diante do velho e bom Woody dos tempos de Crônicas de Nova York.

Nas últimas películas o Mestre vinha dando ênfase ao relacionamento amoroso de modo lírico ou trágico ou melancólico. Nesse, o fio condutor são coisas “mais terrenas”. É a Fama, e suas circunstâncias, o mote, o tema, o “leitmotiv” wagneriano que permeia a mensagem: busca, conquista, perda, relevância, manipulação, opressão, solidão. Fama que paira ou resta entremeada no roteiro, ora com sutileza, ora explícita e agressiva, mas obstinadamente presente em todas as histórias, marcando o contraponto da importância inescapável da individualidade e lócus de entrada como pano de fundo de toda a existência.

Um pouco do que Fernando Pessoa antecipou quando fala sobre o Tejo, “O rio de minha Aldeia”.

Além disso, o surrealismo -- sempre presente --, os diálogos curtos, os planos fechados, as trilhas musicais bem encaixadas, os finais que propõem novos começos, e a incrível capacidade de bem utilizar no elenco atores desconhecidos do grande público: o jovem ladrão tem rosto de malfeitor; os recém-casados cheiram a alecrim; os parentes conservadores rostos e trejeitos que transpiram a respeitabilidade hipócrita dos anos 50; o artista famoso “facies”, “physique du rôle”, “ruolo físico essenziale”, do charme malandro que marca o jeito romano de ser etc. etc. Felini puro!

Não se pode comparar, pois. Com ninguém nem com nada. Woody Allen é incomparável até consigo mesmo (frase meio lugar comum, mas foi o que consegui para o momento!).

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(30/06/2012)