POST IT - CINEMA: RODA GIGANTE

“O cinema é o real em vinte e quatro vezes por segundo” (Jean-Luc Godard)

Mais uma boa travessura de Woody Allen.

Além do roteiro que costura, tece, entrelaça e alinhava com muita competência as três ou quatro histórias de cada personagem, há a destacar as excelentes sequências que não deixam que determinada cena, por mais relevante, se aproprie do enredo principal. No limiar, próximo do clímax e da tensão quase inevitável, há as transições precisas que reconduzem a história para o eixo principal.

No conjunto tudo se encaixa, nada se sobrepõe: a coerência entre os diversos cenários, a iluminação difusa sem sobressaltos. Mesmo nos poucos cortes secos de câmeras (quase sempre uma!) aplicados com parcimônia, percebe-se claramente a preferência pelas transições dos planos longos e contínuos que trazem leveza às mudanças de cenas.

A fotografia, sem destaque para nenhum ponto específico, e a profusão das cores fortes, prioriza a coerência estética no enquadramento e impõe delicadeza nas sequências conectadas pela edição primorosa. Arte pura.

As trilhas singelas, apropriadas e bem encaixadas, fazem o que lhes cabe no suporte à narrativa no limite da timidez como que para não conspurcar nem ameaçar o protagonismo do que mais importa: a imagem! Nesse aspecto Woody Allen se mantém alinhado ao conceito do Mestre Federico Fellini: “O cinema é feito de imagens.”

O ponto alto fica por conta da superior atuação de Kate Winslet, Ginny, (exuberante!) e James Belushi, Humpty, ambos significativamente distantes dos dois principais coadjuvantes, embora June Temple, Carolina, tenha se destacado acima da incompreensível insípida participação de Justin Timberlake, Mickey, nitidamente deslocado no elenco.

Na sala o silêncio dos espectadores pode ser indicador da envolvente e bem contada história, que a todos captura e compromete. Ao final permanecemos imóveis e por algum tempo ainda quedamos em auto consentida inércia coletiva, aguardando algo mais além da longa lista dos créditos.

E como quase sempre acontece nas obras de Woody Allen o filme termina, mas a história continua sendo desenvolvida após a sessão. Tal qual na vida, que segue ao piscar dos olhos.

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(30/12/2017)