Joaquim Macambira e sua gente
 
José Calasans  (Ilustração De Menandro Ramos)
 
 
Havia, em Canudos, antes da chegada do conselheiro, duas famílias de importância: os Motas e os Macambiras. Na fase conselheirista, surgiu um terceiro grupo familiar, os chamados Vilanovas, procedentes do Ceará, via senhor do Bonfim. Antônio da Mota, negociante de couro e de balcão, também dono de terra, era o chefe do primeiro grupo, cabendo a Joaquim Macambira agricultor e comerciante, a chefia da segunda família. Eram amigos, tendo Macambira acolhido menores da família Mota por ocasião da chacina dos membros, num momento difícil da vida local. A atitude de Macambira foi muito digna, merecedora de encômios.
Disseram a Euclides da Cunha que o velho Macambira não era um homem de luta, de briga. Gostava de preparar ciladas, de armar armadilhas. Um covarde, na opinião de um menino jagunço, Agostinho, a quem o escritor entrevistou,  na capital baiana. Ninguém o temia ( Canudos, 37). Julgamento, aliás, apresentado, que o escritor vai repetir no livro consagrador, onde diz que macambira era “de coração mole” (Os Sertões, 12, 201). Do que apuramos, Joaquim Macambira desempenhou papel saliente na comunidade por ser um homem de bem, um negociante acreditado, que mantinha relações comerciais com seus colegas das localidades próximas, amigo do coronel João Evangelista Pereira de Melo, abastado proprietário em juazeiro, a quem encomendou o tabuado para a igreja nova de Canudos, ponto de partida da guerra sertaneja (Aristides, Milton, 30). Dos comerciantes do Belo Monte, era ele o que desfrutava de melhor trânsito nas redondezas do povoado.
Casado com Maria Macambira, Joaquim teve prole numerosa. Um dos seus filhos, homônimo, aventurou-se num episódio dos mais famosos da guerra de Canudos. Tentou tomar na raça um dos canhões da Expedição Artur Oscar, no intuito de fazer cessar a ação mortífera da peça. Sacrificou-se com alguns companheiros. Perdeu a vida e ganhou um poema de Francisco Mangabeira, inspirado numa reportagem de Euclides da Cunha. Outro rebento, Manuel Macambira, no tempo da guerra, trabalhava como vaqueiro numa das fazendas da família do Dr. Paulo Fontes, na vizinhança de Canudos. Foi uma das testemunhas da questão movida contra o governo federal para indenização de prejuízos sofridos durante os combates.
Tinha várias filhas. O Comitê Patriótico abrigou uma das meninas, Maria Francisca Macambira, de 10 anos de idade. Cabocla. O Jornalista Lelis Piedade andou tratando carinhosamente da criança, que encontrou em mãos de oficiais do Exército, no Forte de São Pedro, em Salvador. Fora entregue ao general Artur Oscar por Antônio Beatimo. Voltou à terra natal, vivendo muitos anos no povoado sertanejo, algum tempo depois de sua destruição pelo fogo. O pintor Manuel Funchal Garcia, quando esteve em Canudos, na década de 50 conversou com Maria Francisca, tirando uma fotografia da velha Macambira ao lado do cabecilha lalau, ainda forte. Também conversamos com a derradeira sobrevivente da gente dos Macambiras. Anotamos um bendito que ela cantava. Revelando gratidão, quando lhe dissemos que éramos da Bahia, perguntou se “sêu Lelis ainda era vivo”.
                                                                                                             (Texto: de José Calasans Ilustração de Menandro Ramos)
Este Artigo fala dos meus antepassados:
 Sou  bisneta de Joaquim macambira, e neta de uma das sobreviventes citado no texto: Maria Francisca Macambira, Filha de joaquim macambira, que na época da guerra tinha apenas dez anos de idade.Cresci ouvindo suas histórias sobre a guerra, ela perdeu, pai e irmãos lutando.
 
Rayalvessilva
Enviado por Rayalvessilva em 18/09/2010
Reeditado em 18/10/2010
Código do texto: T2506238
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